Categoria Geral  Noticia Atualizada em 21-01-2008

Táticas de guerrilha mantêm Farc em listas internacionais
Terrorismo das Farc é diferente do da al-Qaeda, dizem especialistas ao G1
Táticas de guerrilha mantêm Farc em listas internacionais
Foto: AP

Embora não cometa atentados com homens-bomba ou planeje ações de grande impacto contra milhares de civis, como a rede al-Qaeda, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) podem, sim, ser consideradas um grupo terrorista. De acordo com especialistas ouvidos pelo G1, a guerrilha, formada em 1964, apesar de alegar propostas políticas legítimas, usa táticas criminosas e de terror, como seqüestros e assassinatos.

Esse é um dos motivos pelos quais a comunidade internacional rechaçou o pedido do presidente venezuelano, Hugo Chávez, na semana passada, para que os países europeus e, principalmente os EUA, retirassem o grupo de suas listas de terroristas. A listagem, que varia de acordo com as leis de cada país, existe principalmente para evitar a livre movimentação dos membros dos grupos e para dificultar a arrecadação e a comunicação entre eles.

O pedido do presidente venezuelano se baseava na suposta boa-vontade dos guerrilheiros, demonstrada na libertação das reféns Clara Rojas e Consuelo González, no início deste mês. Segundo o pesquisador norte-americano Steven Dudley, autor de "Walking Ghosts: Murder and Guerrilla Politics in Colombia" (Fantasmas que andam: assassinato e política de guerrilha na colombia - não lançado no Brasil), a negativa mundial ao pedido de Chávez se dá pelo fato de que as Farc têm 40 anos de história que não mostram nenhuma piedade.

"Temos que analisar o que as Farc têm feito ao longo da história, e não apenas a recente libertação de reféns. A atuação do grupo sem dúvida é terrorista, mas eles têm, absolutamente, objetivos políticos concretos, pelos quais lutam", disse, em entrevista ao G1.

Terrorista diferente
Para o pesquisador do Council on Hemispheric Affairs, Brent Buxton, os governos que consideram as Farc terroristas analisam a forma como a guerrilha atua, independentemente da sua posição política. "As Farc são, sim uma organização terrorista, mas não num sentido simplista. Não se pode dizer que a guerrilha colombiana é igual a uma entidade como a al-Qaeda, por exemplo", disse.

Segundo ele, o grupo alega preocupações políticas que precisamos considerar legítimas. "Isso não quer dizer, entretanto, que o grupo seja legítimo em suas reivindicações. Se analisamos a forma que as Farc atuam, vemos que ela faz uso de ações terroristas, como seqüestros e atentados. Nesse sentido, podemos dizer que a Colômbia estaria muito melhor se a organização não existisse."

Já o especialista em história colombiana da universidade da Virgínia, Herbert Braun, afirma que as ações das Farc são estratégicas. "A libertação incondicional das reféns Clara e Consuelo é parte de sua busca por notoriedade. A extrema preocupação que existe agora na Colômbia pelas péssimas condições dos que vivem em cativeiro trouxe a organização de volta ao centro da política."

Para Braun, quanto mais o rosto da ainda refén Ingrid Betancourt aparece nas capas de jornais e revistas do mundo, mais ela vale para as Farc.

Negociação
O pesquisador Steven Dudley é pessimista quanto a acordos que levem as Farc a libertar muitos outros reféns num futuro próximo. Para ele, apesar de fazer um "mea culpa" e querer demonstrar boa-vontade, as Farc vão exigir ações do governo, que vão acabar não cedendo por não poder negociar com terroristas. Isso tudo, segundo ele, pode emperrar as negociações.

"O problema é que após enviar esta mensagem, as Farc vão esperar que o governo também faça concessões, negocie, antes de fazer novas libertações. E, do jeito que as coisas estão, o governo não pode aceitar negociar com uma organização terrorista.."

Para avançar nas negociações e chegar à paz, segundo a análise de Dudley, em algum momento vai ser necessário ceder aos interesses das Farc. Segundo ele, apesar do seu pessimismo, se a guerrilha manter a demonstração de boa-vontade, continuar libertando reféns e buscar acordos mais amplos, em algum momento o governo vai ter que se pegar à situação atual em detrimento do que houve no passado.

"Para chegar a um acordo de paz na Colômbia, é preciso fazer concessões. Se o governo quiser chegar a um fim definitivo do conflito com as Farc, em algum ponto vai precisar oferecer um status de organização política à guerrilha, que vai ter que deixar de lado a violência e se tornar, de fato, política. É complicado chegar a uma conclusão sobre a forma como isso vai acontecer, mas, sem concessão dos dois lados, nunca teremos um acordo de paz", disse.

Já para o pesquisador colombiano Luis Alberto Villamarín Pulido, autor de "El cartel de las Farc" (O Cartel das FARC, inédito em português), o processo de paz depende de três iniciativas: do compromisso dos países vizinhos em combater os guerrilheiros em suas fronteiras, da continuidade da ofensiva militar empreendida pelo presidente Álvaro Uribe e do respaldo da comunidade internacional na classificação do grupo como terrorista e no intercâmbio de informações.

Lista terrorista
As listas terroristas são feitas de acordo com as leis de cada país. Nos Estados Unidos, há duas diferentes listas, uma do Departamento de Estado e outra feita pelo Departamento do Tesouro. Esta última é mais completa, tem 119 páginas, e inclui grupos e países que receberam sanções variadas, não apenas relacionadas ao terrorismo.

Para colocar um grupo na lista, o Departamento de Estado dos EUA acompanha os grupos e indica os que cometeram atos terroristas - já o Departamento de Tesouro designa quem apóia e dá suporte aos grupos considerados terroristas.

"Olhamos para todas as evidências que existem, para as ações, se os grupos agem contra civis, se eles financiam o terrorismo e se estão associados com outros grupos que sabemos que atuam de maneira terrorista", afirmou, em entrevista ao G1, uma fonte do FBI (polícia federal norte-americana), que pediu para não ser identificada.

A primeira lista foi criada pelo governo norte-americano em 1996, mas após os atentados de 11 de setembro de 2001, o Departamento de Estado criou uma outra listagem, específica para casos de terrorismo. De acordo com o FBI, a lista serve para evitar a livre movimentação dos membros dos grupos e para dificultar a arrecadação e a comunicação entre eles. A cada cinco anos, o departamento revisa a listagem e a modifica.

Veja aqui onde estão e como atuam os grupos considerados terroristas pelos Estados Unidos:

*Colaborou Marcelo Cabral, especial para o G1.

Fonte:

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Por:  Felipe Campos    |      Imprimir