Categoria Ciência e Saúde  Noticia Atualizada em 22-01-2008

Tumor de Nenê era maligno, mas foi totalmente retirado
Jogador, que teve o testículo direito extirpado, não corre risco de vida: o câncer era pequeno e pouco agressivo. Nenê ficará pelo menos dois meses fora das quadras
Tumor de Nenê era maligno, mas foi totalmente retirado

tumor no testículo direito de Nenê, o jogador de basquete brasileiro do Denver Nuggets, era maligno, mas ele não corre risco de vida. Completamente extirpado, o tumor era pequeno" pouco mais de 1 centímetro de diâmetro" e pouco agressivo, apesar de maligno, segundo revelou o exame microscópico. Exames complementares" de sangue e tomografias dos pulmões, do abdome e da pelve" mostraram que não há outro tumor no corpo de Nenê. "Não existe nenhum indício de que a doença se espalhou", disse o médico que o operou, o urologista brasileiro Fernando Kim. O jogador está se recuperando "fisica e psicologicamente extremamente bem", segundo ele.
Nenê foi submetido a uma orquectomia radical" ou seja, a retirada cirúrgica do testículo direito. O câncer estava em estágio muito inicial. Em situações assim, a taxa de sucesso do tratamento é altíssima, próxima de 100%, e a taxa de recorrência do câncer é muito pequena. Dentro de alguns dias a NBA, a liga profissional de basquete dos Estados Unidos, deve publicar uma nota oficial dando mais detalhes sobre a condição do jogador, talvez até com uma previsão para seu retorno às quadras. É certo que Nenê não retornará antes de março, porque dois meses são o prazo mínimo para se recuperar fisicamente da cirurgia.

A operação foi realizada na segunda-feira 14, no Denver Health Medical Center, onde o médico brasileiro é o chefe do setor de urologia. Esse tipo de cirurgia é uma das especialidades de Fernando Kim, que a realiza de duas a quatro vezes por mês. Feito com anestesia geral, o procedimento levou menos de uma hora. Kim foi assistido, entre outros, por mais um urologista brasileiro, Mário Chammas, levado por ele para sua equipe em Denver. Minimamente invasiva, a cirurgia não é arriscada, mas é delicada. A incisão é feita na virilha" um dos motivos para Nenê não poder retornar de imediato às quadras. O local tem que cicatrizar, para que o exercício físico não provoque uma hérnia inguinal.

Por uma impressionante coincidência, Nenê foi operado por um de seus melhores amigos. Dias antes, o jogador havia passado o Natal passado na casa do médico brasileiro. Os dois se conhecem desde que Nenê foi jogar em Denver, por intermédio do sogro de Kim, Carlos Osso, diretor da Federação Paulista de Basquete. Não é raro que Nenê apareça na casa da família Kim, aos domingos, para comer pizza. Os dois são protestantes" Nenê freqüenta a comunidade Cristo É A Resposta, de São Carlos (SP), sua cidade natal; o doutor Kim, como muitos descendentes de coreanos, é presbiteriano. Tanto um quanto o outro viram nessas coincidências algo mais que o acaso. "Acredito que tem algum ser maior. É difícil explicar como o ponto A chega ao ponto B", diz Kim.

Fernando Jung Won Kim, de 42 anos, mora nos Estados Unidos há dezoito. Nasceu na Coréia do Sul, de onde seus pais migraram quando ele tinha apenas 1 ano" inicialmente para a Argentina e depois para o Brasil, onde ganhou o nome Fernando aos 5 anos, quando recebeu a nacionalidade brasileira. Formado em medicina na 70ª turma da Universidade de São Paulo, mudou-se para os Estados Unidos com a família, na década de 80. Depois de um pós-doutorado na Universidade do Colorado, fez residência na Universidade Loyola, em Chicago, antes de ser convidado a retornar ao Colorado depois da especialização no Johns Hopkins Medical Center. O Denver Health Medical Center é afiliado à universidade, onde Kim é chefe da Urologia e diretor do setor de cirurgia oncológica minimamente invasiva do Tony Grampsas Cancer Center, onde treina residentes e dá aulas a estudantes de medicina. O urologista retorna constantemente ao Brasil para congressos e outras atividades" seu projeto é atuar como uma "ponte" para que outros médicos brasileiros possam adquirir experiência nos Estados Unidos.

A relação entre Kim e Nenê deixou de ser apenas de amigos para também ser entre médico e paciente quando o jogador fez um exame de urina rotineiro na NBA, no início do ano. O teste detectou uma presença anormal do hormônio beta-hCG. Geralmente associado à gravidez (sua medida é o mais comum teste para detectar uma gestação), o hCG é, em sua subunidade beta, um "marcador de tumor"" ou seja, quando detectado na urina de homens, é um forte indicador da presença de um câncer.

Informado desse risco, ao saber do resultado do exame Nenê telefonou para Kim, para pedir uma opinião. "Olha, eu acho bom você continuar as avaliações do Denver Nuggets", disse o médico e amigo. Depois de consultar outro urologista, detectado o tumor, Nenê imediatamente foi ao consultório de Kim. A cirurgia não podia tardar muito.

Embora o risco de recorrência seja pequeno, durante pelo menos dez anos Nenê terá que fazer exames semestrais. O jogador pode se considerar um felizardo não apenas porque o câncer foi detectado precocemente, mas porque a presença do hCG lhe servirá como marcador em futuros exames: o menor sinal do hormônio em seu organismo será um indicador de outro tumor. O risco de um novo câncer no testículo esquerdo, embora maior que em uma pessoa sem antecedentes, "não é alarmante", segundo o médico brasileiro.

Examinado na sexta-feira 18, Nenê vem tendo um pós-operatório muito bem-sucedido, segundo o médico. "Ele é extremamente positivo, tem um coração de ouro", diz Kim. "Não é o primeiro amigo que tenho que operar" outras pessoas que faziam parte da minha vida social também viraram parte da minha vida profissional. Se for coincidência, é difícil de explicar", afirma.

Tumor de Nenê era maligno, mas foi totalmente retirado.

Fonte: http://revistaepoca.globo.com
 
Por:  Felipe Campos    |      Imprimir