Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 08-02-2008

CLOSER, A UMA EX-.
Aquela que deve ser nua e crua para fazer valer. Essa palavra que mete medo em tanta gente, que desarma / arma sorrisos, despedaça / conforta corações e liberta / aprisiona almas
CLOSER, A UMA EX-.

"Assista "Closer" (traduzido como: Perto demais). O filme é uma lição de vida. Do começo ao fim, expõe de maneira corajosa e direta o que muitos outros gostam de romancear. E toca num ponto que parece ter se tornado obsessivo para a maioria das pessoas que conheço: a verdade.

Sim, a verdade. Aquela que deve ser nua e crua para fazer valer. Essa palavra que mete medo em tanta gente, que desarma / arma sorrisos, despedaça / conforta corações e liberta / aprisiona almas. A verdade. Nada mais que a verdade, somente a verdade, tipo filme norte-americano de tribunal.

Em "Closer", a urgência enlouquecedora pela verdade destrói relacionamentos que se diziam perfeitos. A mentira também, óbvio. Afinal, só existe a verdade se a mentira está por aí. Uma não existe sem a outra, e ambas perambulam por entre os homens desde os primórdios.

O porquê mentimos não vem ao caso. Mas o fato é que não demonizo a mentira como o senso comum gosta de pregar. Simplesmente me guio por uma única pergunta: preciso saber a verdade?

Vou dar um exemplo. Lembra do teu níver ano passado? Você "naqueles dias" manchei minha camiseta. Em casa, a enfiei na máquina de lavar junto com outras roupas. "A mãe dela não vai nem notar", pensei espertamente.

No dia seguinte, durante o almoço, ela tira a camisa da máquina e vê as manchas de sangue. Sem perder tempo, vira-se para mim e pergunta: "-O que é isso?". Propositalmente, perguntei se ela queria saber a verdade ou apenas alguma explicação. "-A verdade", disparou. "-Transei com a Lu e ela estava menstruada. Aí fez isso aí", respondi. A expressão dela nesse instante guardo até hoje, junto com um "-Eu não acredito, você não tem jeito mesmo", ruborizada.

Conclusão: quer mesmo a verdade? Precisa dela? É tão importante assim? Ou há casos e casos? Se é relativa, então não é uma necessidade absoluta. E se não é absoluta, é discutível. E se é discutível, é uma opção, que posso ou não lançar mão.

Se na ocasião sua mãe pedisse apenas uma explicação, teria dito que se tratava de uma espinha que, quando apertada, sangrou e tive que usar a camiseta para limpar. Ela poderia não acreditar, mas ficaria satisfeita. Entretanto, optou pela versão legítima dos fatos, que a levou a um constrangimento desnecessário.

Em "Closer", um dos personagens insiste para que a namorada confesse que transou com outro quando estavam separados. Ela diz que não, que nunca rolou nada. Mas ele persiste, afirmando que não pode viver com alguém que mente e que quer saber tudo sobre o assunto. Ele sai e, quando volta, ela confessa que realmente havia transado com o sujeito, mas que preferia ele, seu namorado. Mas agora ele não a amava mais. O desgaste da busca pela verdade havia sido demais para ele. Saber se ela havia ou não transado com outro durante o período em que ficaram separados parecia mais importante para ele que o amor que supostamente sentia. Logo, não havia por que continuar a relação. No final, ele ainda a estapeia pelo que aconteceu.

Você quer mesmo saber, Lu, do que, também, nos separou? Quer se libertar da dúvida?

É ilusão, portanto, pensar que a verdade liberta. Mas não defendo o uso indiscriminado da mentira. Acredito no bom senso. Acredito que algumas coisas não precisam ser elucidadas mais do que a aparência entrega. A busca incessante e louca pela verdade pode trazer conseqüências nefastas que poderiam muito bem ser evitadas.

A verdade, então, é nada mais que uma versão da realidade. Eu tenho a minha. Você tem a sua. E qual a certa? Quem vai se impor? Até onde está disposto a ir para satisfazer sua sede de verdade? Está realmente pronta para pagar esse preço? Eu confesso que não estou".

Manoel Manhães - [email protected]

Fonte: O Autor
 
Por:  Manoel Manhães    |      Imprimir