Integrantes de uma milícia estavam construindo uma guarita no meio de uma avenida.
As milícias estão se expandindo para as ruas e bairros dos subúrbios. A audácia é tal que um grupo que foi preso na semana passada estava construindo uma guarita no meio de uma avenida, como se fosse um posto de fronteira, para monitorar o entra-e-sai dos moradores. Assim, eles vão se apossando de pedaços inteiros da cidade.
"Começa a ocupar bairro como se fosse uma ocupação de um estado, um domínio daquela área ali. E isso cria um problema na comunidade terrível, porque a comunidade passa a se sentir desprotegida, passa a imaginar que não tem esferas do poder público a quem recorrer", afirma o delegado Cláudio Ferraz, da Delegacia de Repressão às Ações do Crime Organizado (Draco).
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Na investigação que levou a prisão do grupo de milícia, conversas foram gravadas e mostram de que forma a violência vai sendo aplicada até contra feirantes.
Milico: - Porque vai ser feito um cadastro, irmão. Se tiver 60 barracas ali, as 60 barracas vão ter que colaborar. Se 59 "colaborar" e uma não colaborar, essa vai ser convidada a se retirar.
â€" Ele não sabe que você também faz cirurgias nas pessoas.
â€" Sem anestesia, né?
â€" Só que sua anestesia é manual.
A milícia faz questão de ser extremamente violenta. Assassinatos com dezenas de tiros são comuns. Trata-se de um recado para os que tentam resistir. Mas nem sempre isso dá certo, e cada vez mais gente tem denunciado esses crimes. Um homem se negou a pagar à milícia. Foi enrolando, enrolando, até que deu um basta.
"Eu fui repetindo aquelas desculpas até o momento que achei conveniente agir daquela outra forma. "Não te contratei, você vai ter que me levar a quem te contratou porque ele é que tem que te pagar, não eu. Você não trabalha para mim, nem teu patrão, não tenho nada que pagar a vocês"", disse o homem. Pouco depois, o filho único dele foi assassinado.
Essa e outras mortes aconteceram em uma região do Rio de Janeiro onde a policia aponta que o vereador Jerominho Guimarães e o deputado estadual Natalino Guimarães sejam líderes de milícia. Os dois já foram indiciados pelo Ministério Público.
O vereador está preso. Ali a atuação deles é denunciada pelo advogado André de Paula.
"Pegaram os terrenos vazios, inclusive a grande área de lazer da comunidade, venderam para uma igreja, e os outros terrenos vazios também começaram a vender, como se fossem donos. Então, estamos denunciando. E aí as ameaças de morte vem se avolumando, sempre através de terceiros. Caso alguma coisa aconteça comigo, estamos responsabilizando o deputado estadual Natalino e o vereador Jerominho", disse o advogado.
Outra gravação também cita o nome do vereador. O diálogo envolve a compra de um rifle 762. Os bandidos falam por código.
â€" O outro é igual, é a mesma coisa?
â€" Não, não, não. O telefone do cara é (X)762-4542, (X)762-4542, aquele grandão, bonitão... E aquele cara de ontem que eu "tô" falando, esse amigo lá, o Jerominho, ele pagou R$ 20 [mil] em cada um.
Segundo a polícia, a milícia precisa de mais armas, porque precisa de mais gente pra trabalhar. Mão-de-obra especializada.
â€" Comunica ao 01 aí que "chegou" três amigos, "ex-militar", pra trabalhar na "firma". O amigo "Naval" trouxe. O amigo é ex-militar também, "tá" querendo trabalhar aí com a gente aí.
Segundo a polícia, militares, policiais, bombeiros, agentes penitenciários estão virando milícia. Todos foram formados pelo estado, mas agora usam armas em proveito próprio.
"As milícias crescem de uma maneira absurda, de uma maneira descontrolada. Esse é um fenômeno que a gente identifica no Rio nessa década com incremento nos últimos dois ou três. Hoje nós temos mais de uma centena de áreas carentes do Rio dominadas por essas milícias. A minha percepção é de que o combate é mais difícil do que o combate ao tráfico", compara o procurador da República, Marfan Vieira.
Milícias se expandem para bairros do subúrbio do Rio.
Integrantes de uma milícia estavam construindo uma guarita no meio de uma avenida.
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