Categoria Geral  Noticia Atualizada em 24-02-2008

Milícias se expandem para bairros do subúrbio do Rio.
Integrantes de uma milícia estavam construindo uma guarita no meio de uma avenida.
Milícias se expandem para bairros do subúrbio do Rio.

As milícias estão se expandindo para as ruas e bairros dos subúrbios. A audácia é tal que um grupo que foi preso na semana passada estava construindo uma guarita no meio de uma avenida, como se fosse um posto de fronteira, para monitorar o entra-e-sai dos moradores. Assim, eles vão se apossando de pedaços inteiros da cidade.

"Começa a ocupar bairro como se fosse uma ocupação de um estado, um domínio daquela área ali. E isso cria um problema na comunidade terrível, porque a comunidade passa a se sentir desprotegida, passa a imaginar que não tem esferas do poder público a quem recorrer", afirma o delegado Cláudio Ferraz, da Delegacia de Repressão às Ações do Crime Organizado (Draco).

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Na investigação que levou a prisão do grupo de milícia, conversas foram gravadas e mostram de que forma a violência vai sendo aplicada até contra feirantes.

Milico: - Porque vai ser feito um cadastro, irmão. Se tiver 60 barracas ali, as 60 barracas vão ter que colaborar. Se 59 "colaborar" e uma não colaborar, essa vai ser convidada a se retirar.
â€" Ele não sabe que você também faz cirurgias nas pessoas.
â€" Sem anestesia, né?
â€" Só que sua anestesia é manual.

A milícia faz questão de ser extremamente violenta. Assassinatos com dezenas de tiros são comuns. Trata-se de um recado para os que tentam resistir. Mas nem sempre isso dá certo, e cada vez mais gente tem denunciado esses crimes. Um homem se negou a pagar à milícia. Foi enrolando, enrolando, até que deu um basta.

"Eu fui repetindo aquelas desculpas até o momento que achei conveniente agir daquela outra forma. "Não te contratei, você vai ter que me levar a quem te contratou porque ele é que tem que te pagar, não eu. Você não trabalha para mim, nem teu patrão, não tenho nada que pagar a vocês"", disse o homem. Pouco depois, o filho único dele foi assassinado.

Essa e outras mortes aconteceram em uma região do Rio de Janeiro onde a policia aponta que o vereador Jerominho Guimarães e o deputado estadual Natalino Guimarães sejam líderes de milícia. Os dois já foram indiciados pelo Ministério Público.

O vereador está preso. Ali a atuação deles é denunciada pelo advogado André de Paula.

"Pegaram os terrenos vazios, inclusive a grande área de lazer da comunidade, venderam para uma igreja, e os outros terrenos vazios também começaram a vender, como se fossem donos. Então, estamos denunciando. E aí as ameaças de morte vem se avolumando, sempre através de terceiros. Caso alguma coisa aconteça comigo, estamos responsabilizando o deputado estadual Natalino e o vereador Jerominho", disse o advogado.

Outra gravação também cita o nome do vereador. O diálogo envolve a compra de um rifle 762. Os bandidos falam por código.

â€" O outro é igual, é a mesma coisa?
â€" Não, não, não. O telefone do cara é (X)762-4542, (X)762-4542, aquele grandão, bonitão... E aquele cara de ontem que eu "tô" falando, esse amigo lá, o Jerominho, ele pagou R$ 20 [mil] em cada um.

Segundo a polícia, a milícia precisa de mais armas, porque precisa de mais gente pra trabalhar. Mão-de-obra especializada.

â€" Comunica ao 01 aí que "chegou" três amigos, "ex-militar", pra trabalhar na "firma". O amigo "Naval" trouxe. O amigo é ex-militar também, "tá" querendo trabalhar aí com a gente aí.

Segundo a polícia, militares, policiais, bombeiros, agentes penitenciários estão virando milícia. Todos foram formados pelo estado, mas agora usam armas em proveito próprio.

"As milícias crescem de uma maneira absurda, de uma maneira descontrolada. Esse é um fenômeno que a gente identifica no Rio nessa década com incremento nos últimos dois ou três. Hoje nós temos mais de uma centena de áreas carentes do Rio dominadas por essas milícias. A minha percepção é de que o combate é mais difícil do que o combate ao tráfico", compara o procurador da República, Marfan Vieira.

Milícias se expandem para bairros do subúrbio do Rio.
Integrantes de uma milícia estavam construindo uma guarita no meio de uma avenida.


Fonte:

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Por:  Felipe Campos    |      Imprimir