Categoria Geral  Noticia Atualizada em 05-03-2008

BC não tinha espaço para cortar juros, dizem economistas.
Para especialistas, decisão reflete cenário econômico atual.Apesar disso, entidades criticam manutenção da taxa Selic em 11,25% ao ano.
BC não tinha espaço para cortar juros, dizem economistas.

A decisão de manter inalterada em 11,25% ao ano a taxa básica de juros do país - já aguardada pelo mercado e anunciada nesta quarta-feira (5) pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC) - reflete as condições econômicas atuais, segundo especialistas consultados pelo G1.

Para o economista Miguel Daoud, o BC não tinha espaço para cortar mais os juros; para a próxima reunião, a aposta é de que não haja nova redução. "Os juros não representam a vontade do BC, mas as condições estruturais do país", diz.

Se a taxa sofresse cortes mais ousados, que estimulassem o aquecimento da economia, o país enfrentaria problemas em razão de falhas estruturais em setores como energia em infra-estrutura. "Se o BC não mostrar destreza, pode cometer uma imprudência e gerar stress no mercado", diz.

Na avaliação de Daoud, um planejamento de cortes nos gastos por parte do governo abriria espaço para estímulos à expansão econômica. "O mercado traz para o presente o que ele enxerga no futuro. Enquanto o governo não se manifestar que vai gastar menos, a taxa não cai". Ele aposta em novos aumentos a partir do segundo semestre.

Para o economista Alexandre Assaf Neto, da Fundação Instituto de Pesquisas Atuariais, Econômicas e Financeiras (Fipecafi), a decisão do BC foi pressionada pelas circustâncias econômicas, como a queda nos juros nos Estados Unidos.

"Com uma diferença muito grande entre as taxas de lá (3%) e a nossa, viria muito capital especulativo para cá, o que fortaleceria o real e enfraqueceria as exportações", diz.

Assaf Neto também cita a política fiscal como a grande "vilã" dos juros altos. "Maior risco do país é o descontrole fiscal, e se os juros não caíram mais, a única culpa é a política fiscal. Muito gasto sem retorno", avalia. O analista acredita que não haja aumento da taxa em 2007.

Desagrado
A manutenção da taxa básica no mesmo patamar era esperada até mesmo pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Em nota com o título "Desculpe-nos pela monotonia", a entidade lamenta que suas críticas ao "renitente" conservadorismo do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central e sua defesa do crescimento econômico tenham se tornado algo "repetitivo e até monótono".

"Entretanto, mais uma vez, vemo-nos obrigados a bater na mesma tecla, e pelos mesmos conhecidos motivos, já que continuamos não encontrando razões plausíveis para que o governo perca a oportunidade de abaixar a Selic e combater a sua conseqüente danosa sobrevalorização do real, que tira a competitividade do produto nacional nos mercados globalizados", ressalta o presidente da Fiesp, Paulo Skaf.

O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, afirmou em nota que a taxa se torna proibitiva para os investimentos no setor produtivo e inibe a criação de novos postos de trabalho.

A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) faz coro ao dizer que a decisão não representou novidade , mas faz referência à atual conjuntura interna e externa para justificar por que já esperavam a manutenção dos juros. A Firjan defendeu a a aprovação da reforma tributária - desde que não seja acompanhada por aumento de carga tributária - como uma forma de abrir espaço para a diminuição dos juros.

Já a a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) atribuiu a decisão à cautela em face das incertezas do cenário externo. "Não se pode ignorar, contudo, que a taxa de juros no Brasil continua extremamente elevada, sendo, no momento, a maior do mundo em termos reais, o que não parece se justificar, tendo em vista os fundamentos da economia brasileira", afirmou a ACSP em nota divulgada na noite desta quarta-feira.

No varejo, mais reprovação à atitude do Banco Central. A Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP) considerou a decisão de hoje inexplicável , uma vez que os mais recentes dados de inflação ficaram sob controle. O presidente da Fecomercio, Abram Szajman, também criticou o forte aumento das taxas de juros ao consumidor cobradas pelos bancos, que saltaram após o aumento da tributação no setor financeiro para fazer frente à perda da CPMF. O que salta aos olhos é a ausência no país de um mercado financeiro mais concorrencial, que possibilite aos consumidores deixar de gastar o vultoso montante que hoje despendem com pagamento de juros, todos os anos , disse Szajman, em nota.

Em contrapartida, a Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi) classificou de prudente e adequada a decisão do Copom. Para a entidade, a manutenção da Selic em 11,25% ao ano serve para preservar as conquistas econômicas e sociais desse governo ao contribuir, de maneira decisiva, para a manutenção da inflação dentro da meta estabelecida. A Acrefi prevê novos cortes na Selic somente a partir do segundo semestre.

BC não tinha espaço para cortar juros, dizem economistas.
Para especialistas, decisão reflete cenário econômico atual.Apesar disso, entidades criticam manutenção da taxa Selic em 11,25% ao ano.


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Por:  Felipe Campos    |      Imprimir