Categoria Ciência e Saúde  Noticia Atualizada em 14-03-2008

Defensor de células-tronco e transgênicos, ganhador do Nobel
O norte-americano Oliver Smithies, ganhador do prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 2007
Defensor de células-tronco e transgênicos, ganhador do Nobel
Foto: Leando Moraes/Folha Imagem

O norte-americano Oliver Smithies, ganhador do prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 2007, desembarcou neste fim de semana em São Paulo para defender dois pontos polêmicos da biotecnologia: os organismos geneticamente modificados e o uso de células-tronco embrionárias.

Smithies vem ao Brasil em um momento de definição sobre o futuro das pesquisas com células-tronco no país. Na última quarta-feira (5), o STF (Supremo Tribunal Federal) adiou por prazo indeterminado o julgamento sobre a ação de inconstitucionalidade contra o artigo da Lei de Biossegurança que libera o uso de embriões congelados neste tipo de pesquisa.

A sessão foi temporariamente suspensa após o pedido de vista do processo feito pelo ministro Carlos Alberto Menezes Direito.

No domingo (9), Smithies fez uma apresentação sobre as pesquisas que vem desenvolvendo desde a década de 1950 e culminaram no modelo animal dos camundongos nocautes. A palestra fez parte das atividades promovidas paralelamente à exposição "Revolução Genômica".

A técnica do nocaute genético , desenvolvida nos anos 1980, rendeu à Smithies e aos geneticistas Mario Capecchi e Martin J. Evans o prêmio Nobel. Ela consiste em tornar inativos certos genes, criando linhagens de animais geneticamente modificados.

Ao alterar o código genético nas células-tronco de camundongos, os pesquisadores puderam criar modelos animais para diversas doenças humanas, como hipertensão e arteriosclerose. Atualmente, a técnica é amplamente empregada nas diversas áreas da biomedicina.

Nesta segunda-feira, Smithies participa da abertura do 1º Simpósio Brasileiro de Tecnologia Transgênica, que prossegue até o dia 12 de março. O encontro, promovido pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), discutirá o potencial terapêutico e econômico da aplicação da transgenia em animais.

Defesa das pesquisas

Professor da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, Smithies é a favor não apenas dos alimentos transgênicos, mas também dos animais geneticamente modificados.

"Os seres humanos têm modificado a genética dos animais há milhares de anos", afirma. Para ele, não há diferença entre fazer um aprimoramento genético em plantas e animais ao cruzar espécies e selecionar aqueles espécimes que contém as características desejadas e ao manipular diretamente seus genes.

"A única diferença é que, no passado, os humanos usavam a genética sem saber que estavam fazendo uso dela", avalia.

Já em relação à utilização das células-tronco adultas em detrimento das embrionárias, Smithies é conciliador. "Nós devemos ter a possibilidade de usar ambas", sentencia.

Atualmente, uma ala da comunidade científica, que é contra o uso de embriões, têm apoiada sua argumentação em resultados positivos de pesquisas com células adultas. Para ela, as células-tronco adultas induzidas seriam a nova promessa da medicina.

Recentemente, a equipe japonesa de Shinya Yamanaka, da Universidade de Kyoto, encontrou uma forma de reprogramar as células-tronco adultas , sem risco de gerar tumores. Esse era um dos mais comuns obstáculos nesse tipo de pesquisa.

Para Smithies, as pesquisas feitas no momento a partir de células-tronco adultas ainda enfrentam problemas de difícil solução. Esperar até que esses entraves sejam solucionados completamente para dar aplicação às pesquisas com essa linhagem de células retardaria muito os avanços científicos.

Por outro lado, ele também acredita que ainda há um longo caminho para o uso seguro das células-tronco embrionárias. "Os problemas que se impõem hoje só podem ser superados com mais pesquisas", avalia. Ao se dividir esforços entre os dois tipos de célula, as respostas positivas devem aparecer mais rapidamente.

Smithies acredita que a utilização dos embriões deve ser analisada pelo prisma das vidas que podem ser salvas, e não daquelas que eventualmente poderiam se concretizar caso o embrião fosse implantado em um útero. "Um embrião nunca teve realmente vida, mas se puder ter um futuro ajudando outras pessoas, isso seria maravilhoso", enfatiza.

O ganhador do prêmio Nobel acredita que a polêmica em torno das pesquisas na área é transitória, como costuma acontecer com novos campos científicos. Ele aproveita para deixar seu recado aos ministros do STF. "Se o Brasil decidir não permitir a utilização das células-tronco embrionárias, atrasará a ciência no Brasil e o país ficará para trás do resto do mundo".

Defensor de células-tronco e transgênicos, ganhador do Nobel faz palestras em São Paulo

 
Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir