Categoria Geral  Noticia Atualizada em 14-03-2008

Protestos no Tibete registram incêndios e violência
Os manifestantes, na maioria monges budistas, são contra a dominação do governo chinês, que anexou o Tibete ao seu território em 1950
Protestos no Tibete registram incêndios e violência
Foto: AFP

Incêndios, tiroteiros, episódios de violência e informações ainda não-confirmadas sobre mortos e feridos dominam as notícias chegadas nesta sexta-feira (14) a partir de Lhasa, capital do Tibete, após uma agitada semana de protestos contra a dominação chinesa, a cinco meses do início dos Jogos Olímpicos.

Agências internacionais, citando informações da emissora "Radio Free Asia" (Rádio Ásia Livre), disseram que ao menos dois manifestantes haviam sido mortos a tiros durante os protestos desta sexta-feira.

A Embaixada dos Estados Unidos em Pequim, citando relatos de cidadãos norte-americanos, informou que muitos tiros foram ouvidos na capital tibetana, onde a situação se agravou após as novas manifestações. "A embaixada registrou relatos diretos de cidadãos norte-americanos na cidade que falam de tiros e outros atos de violência", informou a embaixada americana em uma mensagem aos cidadãos dos Estados Unidos.

O dalai-lama, líder espiritual dos budistas tibetanos, pediu à China, em um comunicado, que deixe de usar a força para reprimir as manifestações e se mostrou "profundamente preocupado" com a situação vivida nos últimos dias no Tibete.

"Estou profundamente preocupado com a situação no Tibete, depois dos protestos pacíficos em muitas partes, incluindo Lhasa, nos últimos dias", afirmou o prêmio Nobel da Paz, em seu exílio. "Estes protestos são uma manifestação do profundo ressentimento do povo tibetano com o atual poder. Peço aos líderes chineses que parem de usar a força", concluiu.

Feridos

A agência oficial Nova China informou que os episódios de violência registrados no centro histórico de Lhasa deixaram feridos, sem fornecer detalhes. Outras fontes falam de vários mortos.

Estes protestos se somam às recentes manifestações de tibetanos na Índia e no Nepal contra o controle da China. Desde o início da semana os monges budistas se manifestam no Tibete e nas regiões próximas onde vivem as minorias tibetanas, em ocasião do 49º aniversário do fracassado levante de Lhasa que levou ao exílio do dalai-lama.

Os incêndios começaram a ser registrados nesta sexta-feira no mercado da antiga cidade de Lhasa, o Barkhor, que circunda o principal monastério da capital tibetana, indicaram os bombeiros e um grupo de defesa dos direitos dos tibetanos.

A agência oficial Nova China e testemunhas indicaram que "lojas foram queimadas em atos de violência no centro de Lhasa nesta sexta-feira à tarde".

Estrangeiros

Estrangeiros em Lhasa informaram que os monges mantinham os protestos pela cidade e que as forças de ordem haviam pedido que se mantivessem distantes do templo Jokhang e das imediações.

"Os monges budistas marcham pela cidade", disse um turista francês contatado. "Já não é possível ir à rua Barkhor, o monastério está fechado... é proibido ir para lá", acrescentou. "Há vários focos de incêndio na rua Barkhor, estamos atualmente no local", explicou um bombeiro de Lhasa por telefone.

Segundo uma organização de defesa dos tibetanos, Campanha Internacional pelo Tibete, a situação piorou nesta sexta-feira na cidade velha. "Um carro da polícia foi incendiado próximo ao monastério de Ramoche e sabemos que a movimentação da população foi restringida pelas autoridades", afirmou Kate Saunders, diretora da organização com sede em Londres.

Gás lacrimogêneo

Na segunda e terça-feira passadas em Lhasa, a polícia chinesa dispersou, com bombas de gás lacrimogêneo, manifestações de centenas de monges budistas, alguns dos quais exigiam a independência do Tibete.

Cerca de 600 monges realizaram uma passeata nesta terça-feira (11) de seu monastério até a sede da polícia para pedir a libertação de seus companheiros presos na véspera durante uma manifestação organizada em ocasião do 49º aniversário da saída forçada do dalai-lama. Os manifestantes gritavam "Libertem nosso povo" ou "Queremos um Tibete independente" nos últimos dias em Lhasa.

Protestos

Cerca de 200 pessoas lideradas por monges budistas iniciaram um protesto nesta sexta-feira à tarde em Xiahe, cidade de uma região tibetana do noroeste da China.

Os manifestantes, alguns dos quais segurando bandeiras tibetanas, foram bloqueados pelas forças de ordem diante do gabinete de segurança pública da cidade, situada na Província de Gansu, onde a maioria da população é de etnia tibetana, de acordo com a mesma fonte. Em Xiahe está localizado o mosteiro Labrang, um dos templos budistas fora da região autônoma tibetana.

O dalai-lama, 72, denunciou na última segunda-feira (10) "enormes e inconcebíveis violações dos direitos humanos" no Tibete, que vão "até a negação da liberdade religiosa". O líder tibetano, premiado em 1989 com o Prêmio Nobel da Paz, recebe apoio cada vez maior por parte dos governos ocidentais em sua luta por um Tibete livre.

Repercussão

Em Washington, a Casa Branca "lamentou" nesta sexta-feira os episódios de violência no Tibete e pediu que a China respeite a cultura tibetana. "Pequim precisa respeitar a cultura tibetana. Precisa respeitar a multietnicidade de sua sociedade", disse o porta-voz da Casa Branca, Gordon Johndroe, em meio à informações de que pelo menos 12 pessoas ficaram feridas na região devido aos protestos.

"Lamentamos as tensões entre os grupos étnicos e Pequim. O presidente disse sistematicamente que Pequim deve manter um diálogo com o dalai-lama", acrescentou Johndroe.

Já os líderes europeus reunidos em uma reunião de cúpula em Bruxelas instaram as autoridades chinesas a mostrar "moderação", declararam os chanceleres francês e britânico.

"A presidência eslovena (da União Européia) nos propôs um texto que aceitamos. É um texto de três páginas que pede moderação, que pede que as pessoas detidas em manifestações pelo Tibete sejam libertadas", afirmou o ministro das Relações Exteriores francês, Bernard Kouchner, ao final da reunião de cúpula.

"Pedimos claramente que sejam garantidos o respeito aos direitos humanos. A condenação é forte e procede do conjunto do Conselho Europeu e dos 27 países membros", acrescentou. O chanceler britânico, David Miliband, também fez um apelo à "moderação de todas as partes".

Com Efe e Associated Press

Protestos no Tibete registram incêndios e violência

Fonte: da France Presse, em Pequim
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Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir