Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 15-03-2008

O ATO DE ESCREVER - O LEITOR
"Existem dois tipos de escritores: aqueles que fazem pensar, e aqueles que fazem sonhar" diz Brian Aldiss, que me fez sonhar por muito tempo com seus livros de fic��o cient�fica
O ATO DE ESCREVER - O LEITOR

"Existem dois tipos de escritores: aqueles que fazem pensar, e aqueles que fazem sonhar" diz Brian Aldiss, que me fez sonhar por muito tempo com seus livros de fic��o cient�fica. Pensando em sua frase e em meu of�cio, resolvi escrever umas tr�s colunas sobre o tema. Acho, em princ�pio, que todo ser humano neste planeta tem pelo menos uma boa hist�ria para contar aos seus semelhantes. A seguir, minhas reflex�es sobre alguns itens importantes no processo de criar um texto.

O leitor

O escritor precisa ser, sobretudo um bom leitor. Aquele que se aferra aos livros acad�micos, e n�o l� o que os outros escrevem (e a� n�o estou falando apenas de livros, mas de blogs, colunas de jornais, etc.) jamais ir� conhecer suas pr�prias qualidades e defeitos.

Portanto, antes de come�ar qualquer coisa, busque gente que se interessa em dividir sua experi�ncia atrav�s da palavra.

N�o digo: "busque outros escritores".

Digo: encontre pessoas com diferentes habilidades, porque escrever n�o � diferente de qualquer atividade feita com entusiasmo.

Seus aliados n�o ser�o necessariamente aquelas pessoas que todos olham, se deslumbram, e afirmam: "n�o existe ningu�m melhor". Muito pelo contr�rio: � gente que n�o tem medo de errar, e, portanto erra. Por causa disso, nem sempre seu trabalho � reconhecido. Mas � este tipo de pessoa que transforma o mundo, e depois de muitos erros consegue acertar algo que far� a diferen�a completa na sua comunidade.

S�o pessoas que n�o podem ficar esperando que as coisas aconte�am, para depois poderem decidir qual a melhor maneira de cont�-las: elas decidem � medida que agem, mesmo sabendo que isso pode ser muito arriscado.

Conviver com estas pessoas � importante para um escritor, porque ele precisa entender que antes de colocar-se diante do papel, deve ser livre o bastante para mudar de dire��o � medida que seu imagin�rio viaja. Quando ele termina uma frase, deve dizer para si mesmo: "enquanto escrevia, percorri um longo caminho. Agora termino este par�grafo com a consci�ncia de que arrisquei o bastante, e dei o melhor de mim".

Os melhores aliados s�o aqueles que n�o pensam como os outros. Por isso, enquanto busca seus companheiros nem sempre vis�veis (porque raramente h� o encontro entre o leitor e o escritor), acredite na sua intui��o, e n�o ligue para os coment�rios alheios. As pessoas sempre julgam os outros tendo como modelo suas pr�pria limita��es � e �s vezes a opini�o da comunidade � cheia de preconceitos e medos.

Junte-se aos que jamais disseram: "acabou, preciso parar por aqui". Porque assim como o inverno � seguido pela primavera, nada pode acabar: depois de atingir seu objetivo � necess�rio recome�ar, sempre usando tudo que aprendeu no caminho.

Junte-se aos que cantam, contam hist�rias, desfrutam a vida, e tem alegria nos olhos. Porque a alegria � contagiosa, e sempre consegue impedir que as pessoas se deixem paralisar pela depress�o, pela solid�o, e pelas dificuldades.

E conte sua hist�ria, nem que seja apenas para que sua fam�lia leia.

(na semana que vem: a caneta)

Fonte: O Autor
 
Por:  Paulo Coelho    |      Imprimir