Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 15-03-2008

AS POLÊMICAS INDULGÊNCIAS
O texto se inicia afirmando que indulgência é o "perdão pleno dos pecados, já cometidos e que estão por vir, nesta vida e após a morte".
AS POLÊMICAS INDULGÊNCIAS

O jornal A Gazeta, no dia 11 de março, publicou uma matéria sobre o decreto do bispo de Cachoeiro de Itapemirim que concede indulgências aos fiéis por ocasião do jubileu dos 50 anos da diocese. Uma série de erros crassos, do início ao fim da reportagem, mostra claramente como o senso comum chega aos meios de comunicação para emitir juízos preconceituosos e apressados no que diz respeito à doutrina católica. Fala-se muito facilmente sobre o que é de difícil compreensão.

O texto se inicia afirmando que indulgência é o "perdão pleno dos pecados, já cometidos e que estão por vir, nesta vida e após a morte". Vamos por parte: indulgência não é sinônimo de perdão de pecados. O perdão não é parte da indulgência; esta é que é um complemento seu, porque é a liberação da pena devida pelos pecados já perdoados. Todo pecado gera uma culpa e uma conseqüência, assim como todo crime gera uma desordem e uma pena. Posso pessoalmente perdoar a quem bateu no meu carro, mas isso não o dispensa de pagar o conserto! Uma coisa é o perdão, relativo à culpa e à ofensa a Deus; outra coisa completamente diferente é liberar o penitente da pena que ele deveria pagar pelo pecado. Indulgência é isso! Outra coisa importante: as indulgências não são referentes aos pecados que estão por vir! Elas são parciais ou plenárias porque liberam total ou parcialmente da pena devida pelos pecados. O texto dá a impressão de que é possível cometer pecados numa outra vida. Isso já seria falar em reencarnação. Além do mais, as indulgências só liberam das penas relativas a pecados já confessados ao sacerdote; é claro que os pecados que ainda não foram cometidos não podem ter sido já absolvidos!

A seguir, a reportagem afirma que o decreto do bispo "lista uma série de obras a serem realizadas para obtenção do perdão". Não! O perdão dos pecados é eminentemente gratuito e imerecido, obtido pelo sacrifício de Jesus Cristo, que redimiu de uma vez por todas a humanidade. Não há nada que alguém possa fazer de bom que lhe alcance o perdão dos pecados. O perdão é pura graça! As obras exigidas pela Igreja são uma forma de administrar a concessão de indulgências. A autora da reportagem confunde o tempo todo indulgência com perdão. Mas são duas coisas bem distintas!

Ela ainda diz: "Até dezembro, católicos do mundo todo terão mais uma oportunidade de receber a indulgência. Mas a graça só será concedida a quem visitar o Santuário de Lourdes, na França". Aqui já tratam como sinônimos as palavras "indulgência" e "graça". Essa frase isolada é uma grande heresia: "a graça só será concedida a quem visitar...". Graça é de graça, o nome já diz! Em tempo: uma coisa é a graça, outra é o perdão e outra ainda é a indulgência.

"Para pastor, quase todas as religiões direcionam os fiéis para o pagamento de um preço a Deus. As indulgências, tema que causou a ruptura entre Lutero e a Igreja Católica, ainda são alvo de críticas dos evangélicos". Lutero não protestou contra as indulgências em si, que são um aspecto da misericórdia de Deus. Ele protestou – e justamente – contra a venda de indulgências! A afirmação do pastor é descabida e preconceituosa, porque fala de algo fora do contexto, que nem ele compreendeu. Não se trata de preço nem de barganha! A própria palavra indulgência quer dizer o contrário de tudo isso: "qualidade de quem é pronto a perdoar, condescendente, complacente".

Juliano Ribeiro Almeida é sacerdote católico, pároco em Itapemirim-ES. - [email protected]

Fonte: O Autor
 
Por:  Juliano Ribeiro Almeida    |      Imprimir