Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 02-04-2008

MONOTEÍSMOS POLICULTURAIS
Enquanto uma menina muçulmana se casa aos 15 anos e engravida até quando pode, nós ocidentais tentamos encontrar conserto para o problema da gravidez na adolescência
MONOTEÍSMOS POLICULTURAIS

Dados oficiais do Vaticano reconhecem pela primeira vez que os muçulmanos já são mais numerosos do que os católicos no mundo. A causa é literalmente aquela com a qual brincamos quando sabemos de um casal que teve muitos filhos: "eles não têm TV em casa...". As teocracias islâmicas praticamente não conhecem controle de natalidade e a própria religião maometana prega que Alá quer ter muitos filhos para encher e dominar o mundo. Por outro lado, populações ditas cristãs lançam famílias com cada vez menos filhos e aprovam o aborto.

Enquanto uma menina muçulmana se casa aos 15 anos e engravida até quando pode, nós ocidentais tentamos encontrar conserto para o problema da gravidez na adolescência. Enquanto os líderes cristãos fundamentalistas acusam os muçulmanos fundamentalistas de empreenderem a jihad com terrorismo e armamento nuclear, a verdadeira batalha ganha pelos seguidores radicalistas de Maomé tem sido mesmo a sua entrada estratégica no Ocidente, a sua tomada de posição nas sociedades européias. Os "mouros" estão conseguindo terminar agora, no século XXI, o que tentaram fazer durante os 700 anos em que ocuparam a Espanha, até Fernando de Aragão, no século XV: tomar o lado de cá da terra e assumir decisivamente o controle do mundo.

Essa polaridade de caricaturas entre o ocidente "cristão" e o médio oriente "islâmico" ainda pode causar a próxima grande guerra mundial. Se bem que nem os que armam cruzadas de um lado podem ser considerados verdadeiramente discípulos de Cristo nem os que vestem bombas do outro são genuinamente filhos espirituais de Maomé, porque tanto Cristo quanto Maomé eram homens que emanavam espiritualidade e almejavam a paz. George W. Bush é um falso ícone do cristianismo tanto quanto Osama bin Laden o é do Islã. Portanto, colar a imagem papa neste jogo de acusações foi a cartada mais inteligente da Al-Qaeda até agora; e também a mais perigosa.

Mas há outra questão interessante a se analisar nisso tudo: quando bin Laden apareceu na TV dizendo que Sua Santidade Bento XVI é o grande responsável pelo novo levante ocidental contra o mundo muçulmano, ele estava sendo mais devoto de São Pedro que a Europa e as Américas, que já não acreditam na força simbólica e na influência do papado nas questões realmente importantes deste mundo. O que a comunidade internacional está esperando de Sua Santidade o Dalai Lama no Tibete é também reflexo deste paradoxo: o pensamento pagão vê mais poder na instituição religiosa do que os próprios fiéis da religião vêem.

Isso significa que, se por um lado, a religião continua em alta na vida das pessoas e importante na conjuntura mundial, por outro lado ela já não define tanto as escolhas individuais quanto pretenderia definir, e acaba sendo às vezes não mais que um dentre vários elementos justificadores de conflitos e reações intolerantes. Entre a maioria dos cristãos, a religião tem bem menos influência do que quereria. Para os fanáticos muçulmanos, ela tem bem mais influência do que deveria.

Juliano Ribeiro Almeida é sacerdote católico, pároco em Itapemirim. - [email protected]

Fonte: O Autor
 
Por:  Juliano Ribeiro Almeida    |      Imprimir