Categoria Geral  Noticia Atualizada em 09-04-2008

Chuvas de março e abril afastam risco de racionamento
Imagem mostra reservatório de Sobradinho, na Bahia, o maior do Nordeste, cheio: especialistas afastam o risco de racionamento com as chuvas
Chuvas de março e abril afastam risco de racionamento
Foto: Divulgação

Lavouras de melancia, manga e caju totalmente perdidas, carcaças de gado morto de sede e filas de agricultores para receber água de caminhões-pipa. O cenário que perdurou entre os meses de novembro de 2007 e janeiro deste ano na região do Lago do Sobradinho (BA), a 560 km de Salvador, mudou radicalmente.

As mesmas chuvas que causam enchentes e transtornos em várias cidades nos Estados de Pernambuco, Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Maranhão e Paraíba, elevaram o nível do maior reservatório do Nordeste de críticos 12,5% em janeiro para os atuais 59,6% da capacidade. O Reservatório de Sobradinho comporta um total de 34 bilhões de m³ de água. O aumento da quantidade de recursos hídricos afasta o risco de racionamento de energia elétrica na região e de água na Região Metropolitana de Salvador.
Sobradinho abastece as hidrelétricas de Paulo Afonso (BA), Itaparica (PE) e Xingó (AL), que juntas fornecem 75% da energia elétrica consumida no Nordeste. Com o longo período de estiagem, quase a metade da energia consumida pela região - 3.196Mw - vinha sendo transferida das subestações Norte e Sudeste/Centro-Oeste.

De acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), da carga diária média de 7.380 Mw consumida no Nordeste, no último dia 1º, 746Mw foram provenientes de geração de usinas termelétricas, 3Mw de geração eólica e 3.450Mw hidráulica.

Segundo o ex-presidente da Eletrobrás e atual coordenador do (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luiz Pinguelli Rosa, a possibilidade de risco de falta de energia era de 33% em janeiro. "Agora as usinas do Sudeste já estão com níveis acima de 70% - o que é aceitável - e, com Sobradinho perto disso, não há mais preocupações para este ano", afirmou.

Para o professor de Engenharia Elétrica da Universidade Salvador (Unifacs) Osvaldo Soliano, o risco de racionamento está afastado, mas a escassez de recursos hídricos e o conseqüente aproveitamento de outras fontes energéticas tiveram conseqüências para o contribuinte do Sudeste. "A estratégia do governo de utilizar energia das termelétricas e do sistema interligado ocasionam uma inflação no setor e custos para o consumidor. No Rio de Janeiro, por exemplo, o reajuste seria de 4%, mas devido a utilização das térmicas, o aumento será de 10%", observou.

Além disso, segundo Soliano, algumas empresas na região Nordeste, interromperam as atividades por conta dos custos com energia. "O aproveitamento das termelétricas é uma estratégia do governo para segurar o consumo dos reservatórios hidráulicos, no intuito de afastar riscos de apagão em 2009. Não é a medida ideal. Mais interessante seria investir em estações de energia eólica no Nordeste pois haveria menor impacto nas tarifas."

Risco de racionamento

De quatro especialistas ouvidos pela reportagem do UOL, o único a argumentar que nunca houve a hipótese de racionamento foi o diretor de operações da Companhia de Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), Mozart Bandeira. "Mesmo quando Sobradinho chegou ao nível crítico de 12,5%, em janeiro, não havia risco, pois há energia suficiente em outras regiões do país para abastecer o Nordeste. Por isso na época tomamos as decisões de maximizar o intercâmbio energético e reduzir a afluência de água do Rio São Francisco."

"É hipocrisia do governo dizer que não havia riscos", contesta o coordenador do Laboratório de Energia e Gás da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o doutor em energia Edinildo Andrade Torres. Para ele, o risco de racionamento, mesmo com Sobradinho operando com 59,6% da capacidade, é pequeno, mas existe.

Ele afirma que o ideal é que cada reservatório possua uma reserva superior a 80%. E defende ainda que o governo promova uma campanha de racionalização dos recursos energéticos. "Houve problemas de estiagem em 2005 e 2006, o que provocou a situação crítica do fim do ano passado até dezembro deste ano."

Para Torres, as chuvas de agora só vão se refletir em 2009, pois há uma demanda muito grande de energia em razão do crescimento econômico do país.

Na opinião de Pinguelli, combater o desperdício ainda é a melhor maneira de evitar os apagões. O ex-presidente da Eletrobrás defende também a construção de usinas hidrelétricas para resolver o problema na área de energia no Brasil, "desde que os projetos estejam de acordo com as normas ambientais". Ele também criticou a construção de usinas que funcionam à base de carvão e óleo diesel.

Mais chuva

Se depender do clima, o nível da barragem de Sobradinho deve subir mais ainda. Segundo o meteorologista Heráclio Alves, do Centro de Meteorologia da Bahia (Cemba), as chuvas devem continuar caindo acima da média prevista até o final de abril. "Isso se deve ao fenômeno La Niña, que provoca o resfriamento das águas do [Oceano] Pacífico, e à Zona de Convergência Inter-tropical, que abrange o Nordeste do Brasil."

Segundo relatório do Cemba, em fevereiro choveu o dobro da média prevista, que era de 77mm, e em março, em três semanas foram registrados 124mm de chuva, quando o previsto para todo o mês era de 128,2mm. "Não temos o dado finalizado de março, mas asseguramos que vai bater a média com sobra, tendo em vista as fortes chuvas da última semana", disse Alves.

Durante o período mais crítico da seca, entre novembro de 2007 e janeiro deste ano, os agricultores da região também acumularam inúmeros prejuízos. Em algumas localidades, as margens do reservatório chegaram a recuar de 5km a 8 km, dificultando a atividade agrícola, principalmente, a fruticultura irrigada, muito comum na região.

Água em Salvador

As fortes chuvas da última quinzena em quase todo o Estado da Bahia aumentaram consideravelmente o volume de água armazenado nos principais reservatórios que abastecem a capital e Região Metropolitana de Salvador, o que afasta o risco de racionamento. A avaliação é do Centro Estadual de Meteorologia.

Nas barragens de Joanes I e II, responsáveis por 40% do abastecimento de água da capital e municípios vizinhos, o acréscimo foi de 20%, em média. Já a Barragem de Pedra do Cavalo, que abastece 60% do consumo humano da capital Salvador e Região Metropolitana, e que já possuía uma quantidade suficiente de água para abastecer a população durante nove meses - mesmo que não chova -, está com um volume de água em torno de 3,6 milhões de m3.

Chuvas de março e abril afastam risco de racionamento de energia, dizem especialistas.

Fonte: Gabriel Carvalho
http://noticias.uol.com.br
 
Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir