Categoria Música  Noticia Atualizada em 11-04-2008

Não conheço Melancia, mas ela precisa dançar no meu show,
Fundador do hip hop conversa com o EGO sobre funk carioca, eleições americanas e as mulheres que dominam a cena musical do momento
Não conheço Melancia, mas ela precisa dançar no meu show,
Foto: Marcos Serra Lima

O Rio de Janeiro está recebendo a lenda viva do hip hop. O senhor é Kevin Donavan, mas conhecido como Afrika Bambaataa. Foi ele quem inventou as batidas características do ritmo, e que abrigou rap, miami bass, rhythm and blues, funk, e todo o resto que se derivou daí. Foi ele também que fundou a ONG Zulu Nation, na década de 70 - e que mais tarde se espalhou pelo mundo -, para defender os princípios do hip hop (paz, amor, união e diversão) e a vida dos negros americanos que estavam se matando em confrontos de gangues.

Afrika aportou na cidade no dia do seu aniversário, 10 de abril – data que ele não confirma nem sob tortura - "Meu aniversário é o ano inteiro. Sou tão velho quanto o sol e a lua, e tão novo quanto um flor que acabou de nascer" -, para uma bateria de apresentações que começa nesta sexta-feira, 11, na Fundição Progresso, ao lado de Mister Catra, e passa ainda por Brasília, São Paulo, Curitiba, Goiânia e Florianópolis.

Enquanto não chega a hora de pisar no palco, o pai do hip hop conversou com o EGO, e falou sobre o movimento, eleições americanas, chamou Tati Quebra-barraco de "minha garota" e disse que quer conhecer a Mulher Melancia, o novo fenômeno no funk carioca. "Não a conheço, mas ela precisa vir dançar no meu show". Senhoras e senhores, com vocês, Afrika Bambaataa.

EGO: Hoje é seu aniversário?
AFRIKA BAMBAATAA: Não. Não é hoje. Mas posso dizer que é esse mês ainda. Mas não vou dizer a data.

Como surgiu a idéia desse encontro com Mr Catra?
AFRIKA BAMBAATAA:

Já conhecia o Catra da época em que gravamos um disco. Eu, ele e o DJ Marlboro. Agora, fui convidado pelo Favela Music para fazer esta turnê pelo Brasil.

O que conhece de música brasileira? Já usou nossa música em algum dos seus trabalhos?
AFRIKA BAMBAATAA: Conheço bossa nova, o hip hop que é feito em São Paulo, todos os grupos de funk, Tim Maia, Ed Motta, Rapin Hood e fiz músicas com Catra e com Marlboro.

Qual a imagem mais marcante do Brasil para você?
AFRIKA BAMBAATAA: Gosto da música feita no Brasil com todos os seus sabores.

Acompanha o movimento funk e hip hop por aqui?
AFRIKA BAMBAATAA: Sim, minha garota é Tati Quebra-barraco. Quero fazer um rap e gravar com ela. Afrika Bambaataa e Mc Tati (risos).

Atualmente, o funk brasileiro está vivendo um fenômeno no qual as dançarinas estão chamando tanta ou mais atenção do que os mcs? O que acha disso?
AFRIKA BAMBAATAA: Acho que depende da mulher. Se ela se respeitar como uma dama ou uma rainha, ela será respeitada como tal. Mas se agir como uma vadia, vão olhar para ela como uma vadia.

Aqui, por exemplo, temos a Mulher Melancia, que ficou famosa por ter um bumbum de 121 cm. Já ouviu falar dela? Já a viu em ação?
AFRIKA BAMBAATAA: Não, não a conheço. Mas ela vai ter que dançar no meu show. Ela precisa vir dançar no meu show (risos).

Como você vê o hip hop que mostra as mulheres gostosas e os rappers em seus carrões?
AFRIKA BAMBAATAA: Acho que tem que haver o equilíbrio. Do mesmo jeito que passam os vídeos dos rappers em seus carrões com suas mulheres gostosas, tem que mostrar os vídeos de Bob Marley. O problema não é o que se tem que assistir, mas o que se é transmitido.

Como você vê o crescimento do hip hop a ponto de atrair astros como Justin Timberlake e Madonna?
AFRIKA BAMBAATAA: Não vejo problema. Tem muitos pop stars negros também. Madonna é minha amiga, e não vejo problema de ela usar pop rap em uma música dela. O problema está nas estações de rádio que deveriam tocar RapinHoood tanto quanto Madonna, e Justin Timberlake tanto quanto Tati Quebra-Barraco

Na sua opinião quem são os melhores rappers do mundo no momento?
AFRIKA BAMBAATAA: São muitos. Gosto muito de Ice Cube, de Outkast, mas são muitos.

Incomoda-se com os termos "pai do hip hop" ou "papa do hip hop" que são atribuídos a você?

AFRIKA BAMBAATAA: Não. Acho que somos todos uma grande família, e eu posso ser o pai dela (risos).

A Zulu Nation do Brasil (Bambaataa fundou a ONG nos EUA para conscientizar os negros e fortalecer o movimento hip hop e seus derivados) tem um pouco de ressalvas com o funk carioca porque este explora muito a sensualidade e deixa a realidade dos negros mais de lado. Concorda com isso ou acha que o importante é acolher a todos?
AFRIKA BAMBAATAA: Acho que a culpa é das estações de rádios. Temos que culpá-las porque elas não estão tocando todas as músicas para o povo. Eles tocam a "música para balançar a bunda", mas não tocam as músicas para pensar. Acho que tem que ter um equilíbrio.Os grupos acabam indo por esse lado porque querem fazer dinheiro e não pensar na essência da coisa. Funk com problemas sociais, a rádio não vai tocar.

Como você vê a segregação entre negros e brancos nos Estados Unidos de hoje?
AFRIKA BAMBAATAA: Ainda há muito racismo no mundo. No Brasil, por exemplo, 20% dos europeus controlam 80% dos brasileiros. É preciso haver respeito entre as raças. Brasil e Estados Unidos, antes da Pangea, era tudo uma coisa só. Tudo a mesma África Ocidental.

O que acha da possibilidade de os EUA terem um presidente negro com Barack Obama?
AFRIKA BAMBAATAA: Essa não é a primeira vez que um negro está na corrida presidencial americana. Na década de 70, tivemos uma negra concorrendo à presidência, Julie Shelly. E também Jessie Jackson. Antes de George Washington e dos Estados Unidos, havia presidentes negros na América. Mas a história não começa a ser contada daí. Acho que não vai mudar muita coisa com Barack Obama. Existe um governo secreto que controla as coisas, o Brasil e os Estados Unidos. Acho que Brasil, México e Canadá deveriam se unir para fugir disso. Atualmente, tem Hugo Chaves, que está fora desse controle.

Não vai mesmo dizer quando é seu aniversário?
AFRIKA BAMBAATAA: Não (risos). Meu aniversário é o ano inteiro. Sou tão velho quanto o sol e a lua, e tão novo quanto um flor que acabou de nascer (risos).

Fundador do hip hop conversa com o EGO sobre funk carioca, eleições americanas e as mulheres que dominam a cena musical do momento.

Fonte:

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Por:  Felipe Campos    |      Imprimir