Categoria Policia  Noticia Atualizada em 15-04-2008

Inquérito de caso Isabella mostra diferentes versões
Jornal Nacional teve acesso nesta segunda-feira (14) às páginas do inquérito.
Inquérito de caso Isabella mostra diferentes versões
Foto: G1

O inquérito policial do assassinato da menina Isabella Nardoni, obtido com exclusividade pelo "Jornal Nacional" nesta segunda-feira (14), contém depoimentos de testemunhas com versões divergentes da maneira como os pais da vítima narraram os fatos.

Nos registros fotográficos das investigações, o quarto de Isabella é visto com um baú da personagem Hello Kitty, um velocípede e brinquedos nas estantes. A cama aparece revirada, coberta com um edredon branco que, aparentemente, não tem nenhuma mancha de sangue.

O provável quarto dos meninos aparece sem a rede de proteção cortada, já removida pela perícia.

Decorado em azul, com brinquedos nas estantes, o que mais chama a atenção é esta mancha sobre a cama — de cor compatível com uma mancha de sangue. Um dos banheiros aparece desarrumado nas fotos.

As fotos mostram ainda a cozinha do apartamento da família Nardoni. E o carro de Alexandre, um Ford Ka de cor prata, que foi lacrado pela polícia. Por fim, o gramado, com vestígios da palmeira que, antes de ser cortada, amorteceu a queda de Isabella.

O "Jornal da Globo" revelou na madrugada desta segunda, em primeira mão, outros detalhes do mesmo inquérito. Vizinhos ouvidos pela polícia relataram gritos desesperados de uma criança e uma forte discussão do casal instantes antes do crime.

As diferentes versões do que aconteceu na noite de 29 de março são contadas em 237 páginas.

Um depoimento fundamental é de um vizinho do 1º andar, o primeiro a ser avisado pelo porteiro sobre a queda da menina Isabella, e o primeiro a chamar o resgate.
Ele diz que assistia TV na sala com a porta de vidro da varanda aberta, como de costume, e que, por volta das 23h35, ouviu gritos ao longe de criança dizendo três vezes seguidas: "Papai, papai, papai... pára, pára".

A impressão que ele teve foi de que a criança gritava de um dos apartamentos e não da rua ou dos corredores e elevadores. Passados alguns minutos, cerca de cinco aproximadamente, ele ouviu um estrondo. Era Isabella caindo.
Outra vizinha, uma advogada moradora de uma casa próxima ao prédio, também relata ter ouvido os gritos. Ela tinha cochilado enquanto assistia TV e acordou, não sabe precisar a que horas, ouvindo gritos de criança – que não soube determinar o sexo - dizendo "papai, papai, papai".

A moradora diz que o grito era alto e dava a impressão de ser um grito de chamado pelo pai, como se ele não estivesse ao lado da criança. Era um grito confiante, no sentido de saber que o pai iria ouví-la e atendê-la. Os dois últimos gritos foram mais débeis, mais distanciados, como se a criança tivesse se distanciando para o interior do apartamento. Tratava-se de gritos mais abafados, como se ela tivesse sido repreendida para calar a boca.

A vizinha afirmou ainda que, depois de cessarem os gritos, passaram-se de cinco a oito minutos até que ela começou a ouvir uma mulher gritando. Provavelmente era Anna Carolina Jatobá, depois que Isabella já tinha caído.

Além das testemunhas que relataram ter ouvido os gritos de uma criança, o inquérito também revela algumas inconsistências. Alexandre e Anna Carolina narram uma história muito parecida sobre a seqüência de eventos no apartamento da família. Mas, há diferenças entre os testemunhos do casal e o do porteiro do prédio sobre o que se passou logo depois da queda de Isabella. Também existem diferenças sobre o que o casal disse quanto ao horário da chegada ao Edifício London, na Zona Norte de São Paulo.

Anna Carolina diz que, quando estava voltando da casa do pai, ainda na rua, percebeu que o celular vibrou. Eram 23h29 ou 23h30 e o carro ainda estava a alguns minutos de casa. Já Alexandre diz que entrou na garagem às 23h10 ou 23h20.

Segundo o porteiro, depois que Isabella caiu, Alexandre desceu primeiro e, depois de alguns poucos minutos, a esposa dele chegou ao jardim do prédio. Nos depoimentos de Alexandre e Anna Carolina, ambos dizem que desceram o elevador juntos.

Outra contradição acontece entre Alexandre e um vizinho que mora no prédio ao lado do edifício London. Ele relata ter ouvido, com a mulher, uma briga entre um casal, por volta das 23h, vinda do prédio ao lado. A discussão durou cerca de 15 minutos. Às 23h23, o casal de vizinhos se preparava para dormir, quando ouviu a voz de uma mulher dizendo: "jogaram a Isabella do sexto andar".

Depois, o vizinho diz que abriu a janela do apartamento e viu uma mulher com uma criança no colo, andando de um lado para o outro, falando alto pelo celular — a voz da mulher, que era Ana Carolina Jatobá, era a mesma ouvida na briga, diz a testemunha.

O casal desceu, e ouviu Alexandre Nardoni dizer que tinha visto um desconhecido armado dentro do apartamento dele. Em nenhum de seus depoimentos oficiais, Alexandre disse ter visto um ladrão.

Inquérito de caso Isabella mostra diferentes versões da noite do crime
Jornal Nacional teve acesso nesta segunda-feira (14) às páginas do inquérito.
Em depoimento, vizinhos disseram que ouviram gritos.

Fonte:

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Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir