Categoria Policia  Noticia Atualizada em 26-04-2008

Laudos não estavam disponíveis nos interrogatórios
Casal não poderia ter sido questionado sobre informações desconhecidas, diz advogado.
Laudos não estavam disponíveis nos interrogatórios
Foto: www.g1.com.br

Rogério Neres de Sousa, advogado de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, pai e madrasta de Isabella Nardoni, disse na noite desta sexta-feira (25) que, por ocasião do interrogatório do casal, no último dia 18, nem a defesa e "nem mesmo a autoridade policial" tinham em mãos os laudos nas quais várias perguntas foram baseadas. Desta forma, Alexandre e Anna Carolina "não poderiam ter sido questionados com base em informações que não estavam disponíveis", argumentou Rogério Neres.

A menina de cinco anos foi jogada pela janela de um apartamento no sexto andar de um prédio no Carandiru, na Zona Norte da capital, na noite de 29 de março.

O repórter César Tralli, da TV Globo, obteve com exclusividade as transcrições do interrogatório de Alexandre e Anna Carolina. Neles, há detalhes da investigação que a polícia manteve em sigilo até hoje. E que surpreenderam o casal na delegacia.

Segundo o advogado, apenas um laudo da perícia havia sido anexado ao inquérito, com as informações disponíveis tanto para a defesa quanto para o casal no interrogatório. "Que eu me lembre, havia o documento da seguradora do veículo do Alexandre, o KA, apontando a hora que tinha sido desligado", disse.

Já sobre os laudos que apontaram vômito de Isabella na camisa de Alexandre, supostamente decorrente de uma asfixia sofrida pela menina, e manchas de sangue no KA, Rogério Neres afirmou que estes dados não estavam disponíveis. "É isso o que a defesa vem falando: na ocasião, nem a autoridade policial tinha em mãos estes laudos. No interrogatório, nós, da defesa, teríamos que ter acesso e eles, o casal, também. Nada disso do que estou falando é novo", afirmou.

Já com os laudos em mãos, o advogado do casal garantiu que a perícia não conseguiu provar que as manchas encontradas no carro são de Isabella. "Não lembro bem o termo utilizado, mas o laudo dizia que o material encontrado era exíguo. A polícia não conseguiu dizer de quem é o sangue", declarou.

Rogério Neres disse que a defesa continua estudando os autos do inquérito e que não decidiu se o casal participará ou não da reconstituição no domingo (27), no Edifício London, no Carandiru. "Estamos estudando isso. Podemos tomar esta decisão apenas momentos antes do início da reconstituição", explicou.

Ao finalizar, o advogado esclareceu também que a defesa segue analisando a possibilidade entrar com uma representação na Corregedoria da Polícia Civil contra supostas irregularidades no inquérito que apura a morte de Isabella Nardoni. "Não entramos com a representação ainda e não temos uma data para entrar. Estamos estudando este assunto", afirmou.

Exclusivo
O pai de Isabella foi o primeiro a ser interrogado no dia 18. Foram sete horas e meia de declarações, registradas em 19 páginas. O interrogatório começou num tom leve, em que ele fala sobre o comportamento de Isabella. Seguiu com declarações sobre o relacionamento dele com a madrasta da menina. Nessa parte, Alexandre passou a idéia de um casal comum, com brigas e ciúmes típicos de um relacionamento normal.

Ele também repetiu a versão dada no dia do crime. Foi quando o depoimento tomou outro rumo: os delegados apresentaram provas técnicas que, segundo a polícia, indicam que ele e a mulher mataram Isabella.

Uma das provas mais importantes era a camiseta que Alexandre usava naquele dia. Nela, peritos encontraram vômito da menina. Ao ser informado sobre a constatação de vômito, ele não soube explicar como isso aconteceu. Alexandre disse que, em momento algum, viu a filha vomitando em vida. Ele soube, então, que o vômito ocorreu após ela ter sofrido asfixia, mediante esganadura, como uma reação do organismo. Voltou a dizer que não sabia como explicar.

Sangue
Sobre a existência de sangue, comprovadamente sendo de sua filha, dentro de seu carro, usado momentos antes da morte, Alexandre declarou que a criança foi levada no colo por ele até o quarto, sem apresentar qualquer ferimento. E não explicou como o sangue do ferimento da testa de sua filha aparece no carro.

O interrogatório seguiu e Alexandre declarou que, ao entrar no apartamento, viu apenas uma gota de sangue no quarto dos meninos, outra sobre o lençol da cama deles e um pouco de sangue na tela.

19 minutos
No novo interrogatório, ele contou que ficou 19 minutos na garagem, depois de levar a filha para o apartamento. Esse intervalo é quase cinco vezes maior do que ele havia declarado no primeiro depoimento. Mas a policia já sabia: o rastreador do carro da família informou a hora exata em que o motor foi desligado na garagem. Entre esse momento e a primeira ligação para o resgate, 13 minutos tinham se passado.

Alexandre então admite a possibilidade de ter transcorrido cerca de 13 minutos entre sua chegada à garagem do prédio e a queda de sua filha. E, que no intervalo em que esteve na garagem, uma terceira pessoa tenha entrado em seu apartamento, sem arrombar a porta, usando a cópia de uma chave. Essa mesma pessoa, para ele, feriu sua filha na testa, asfixiou a criança, cortou a tela de proteção, tendo antes que abrir a janela do quarto, limpou o sangue, recolheu os instrumentos usados para cortar a tela, saiu do apartamento e trancou a porta.

Já no final do depoimento, Alexandre declarou que em momento algum ligou para o Resgate ou para uma ambulância, porque tem o hábito familiar de sempre ligar para o seu pai, quando acontece alguma coisa.

Anna Carolina
Ao ser ouvida, Anna Carolina Jatobá acrescentou que ela e o marido estavam cada um com seu celular, mas ela preferiu usar o telefone fixo para avisar o pai dela e, depois, o sogro. Afirmou que não ligou para o Resgate diante da queda porque os dois têm o hábito de comunicar as famílias antes de qualquer outra providência.

O depoimento de Anna Carolina durou 5 horas e 20 minutos. E tem 13 páginas, em que se ela se define como uma "mulher ciumenta, insegura, que briga e fala palavrões", embora diga que tenha se tornado mais madura depois do nascimento dos filhos.

Anna Carolina declarou que a menina não se feriu dentro do carro e que não viu Isabella machucada antes da queda. Informada sobre a descoberta de sangue dentro do carro, a madrasta disse que não sabe explicar como ele foi encontrado pelos peritos.

Para a Promotoria, todas as negativas do casal no depoimento foram combinadas e fazem parte da estratégia da defesa.

Laudos não estavam disponíveis nos interrogatórios, alega defesa
Casal não poderia ter sido questionado sobre informações desconhecidas, diz advogado.
Defesa ainda estuda possibilidade da presença dos indiciados na reconstituição.


Fonte: Marcelo Mora

Acesse o G1

 
Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir