Categoria Geral  Noticia Atualizada em 30-04-2008

"Investigação teve erros", diz autor de livro
Em entrevista ao G1, Manuel Catarino acusa a Inglaterra de atrapalhar investigações.
"Investigação teve erros", diz autor de livro
Foto: Reprodução

Quase um ano após o desaparecimento da garota britânica Madeleine McCann, de 4 anos, um jornalista português que acompanha o caso desde o início é contundente em apontar dois fatores que dificultaram a solução deste mistério que comove o mundo: houve falhas dos investigadores portugueses e uma pressão indevida da polícia inglesa.

Quem afirma isso é Manuel Catarino, autor do livro "A Culpa dos McCann" e redator chefe do jornal português Correio da Manhã. Em entrevista ao G1, por telefone, Catarino disse que a polícia judiciária portuguesa foi induzida pelos policiais ingleses a procurar por um raptor "que talvez nunca tenha existido".

Segundo ele, o quarto onde a menina desapareceu não foi imediatamente selado, o que atrapalhou na coleta de provas substanciais. "Quando as autoridades chegaram já muita gente havia entrado e saído, tinham aberto e fechado portas e janelas. E alguns vestígios que poderiam ter sido úteis para a investigação estavam contaminados ou já não existiam."

O G1 procurou desde segunda-feira (28) a polícia judiciária portuguesa para comentar as declarações de Catarino. Mas até agora não houve resposta.

1 ano de mistério
Madeleine desapareceu de um resort do Algarve, no sul de Portugal, no dia 3 de maio do ano passado. Ela passava férias com seus pais e irmãos. Na noite do sumiço os pais de Madeleine, Kate e Gerry, saíram para jantar com amigos e deixaram as crianças sozinhas no quarto - haviam dispensado o serviço gratuito de baby-sitter do hotel.

A polícia chegou a apontar alguns suspeitos, inclusive os pais da garota, mas não conseguiu saber o que de fato aconteceu com Madeleine.

O casal acredita que ela ainda está viva. Catarino, não. Para ele, a menina morreu acidentalmente no quarto do resort e o corpo foi escondido. Veja abaixo a íntegra da entrevista concedida ao G1:

G1 - Como o senhor avalia este ano de investigações por parte da polícia sobre o caso?

Catarino - Hoje é possível verificar alguns erros nas investigações. O primeiro foi o fato de a polícia judiciária ter perdido muito tempo atrás de uma hipótese que não se confirmava, que é a hipótese do rapto. Durante muito tempo os portugueses tentaram encontrar um raptor que provavelmente nunca existiu.

Isso porque desde o primeiro minuto a polícia judiciária foi empurrada pelas autoridades inglesas a investigar um rapto. Desde o primeiro dia do desaparecimento da menina que Londres definiu o rumo das investigações como sendo um rapto e a polícia judiciária foi empurrada nessa direção e isso levou a investigação por um ciclo sem saída.

O segundo erro foi que o local de onde a menina desapareceu, a chamada cena do crime, não foi imediatamente selado. Quando as autoridades chegaram já muita gente havia entrado e saído, tinham aberto e fechado portas e janelas. E alguns vestígios que poderiam ter sido úteis para a investigação estavam contaminados ou já não existiam. Na verdade a polícia foi chamada tarde demais. Esses erros são fundamentais e prejudicaram as investigações.

G1 - Em seu livro (lançado no final do ano passado em Portugal) o senhor cita bastante a influência inglesa nas investigações. De que maneira Londres alterou o rumo das investigações?

Catarino - A Inglaterra atrapalhou no sentido de que colocou imediatamente a hipótese de que era um rapto. Ou seja, construiu imediatamente uma teoria, e nossa polícia quase que foi forçada a investigar um rapto.

G1 - Os McCan têm alguma influencia no rumo que tomaram as investigações?

Catarino - Gerry é médico e faz parte de uma instituição britânica que avalia impactos ambientais, por exemplo, de centrais de energia atômica. Sempre que o governo britânico que construir uma central atômica chama esses peritos que dão o parecer. E Gerry faz parte deste organismo, é a única ligação política concreta que tem.O que é certo é que assessores que eram muito próximos de Gordon Brown, que nessa altura já estava indicado como futuro líder do partido trabalhista e futuro primeiro ministro, começaram a trabalhar ao lado dos McCann, isso é um fato.

G1 - Tendo investigado tanto o assunto, o que o senhor acredita que aconteceu com Madeleine?

Catarino - Eu não acredito que a menina foi raptada, não é essa a minha intuição. Minha convicção e a suspeita de alguns investigadores é que a menina morreu acidentalmente naquela casa e que o corpo foi escondido. O que resta saber é se os McCann são coniventes com isso.

G1 - O senhor acredita que o casal foi conivente com o crime?

Catarino - Isso eu não sei.

G1 - O senhor acha que mesmo com a dificuldade na mudança na cena do crime ainda existe a possibilidade de que os McCann sejam indiciados num possível assassinato?

Catarino - Eu acho que é muito difícil que a polícia venha a descobrir o que de fato aconteceu naquele apartamento. A não ser que se encontre o corpo da menina. Agora, sem o corpo será muito difícil.

Mas há outra coisa: há algo de que os McCann são culpados: terem deixado as crianças sozinhas para jantar com os amigos. Isso em Portugal é sim um crime, um crime de abandono. Recusaram o serviço de babás do hotel e deixaram as crianças sozinhas.

G1 - O senhor afirmou que algumas provas podem ter sido danificadas na cena do crime. O senhor poderia citar alguns exemplos?

Catarino - Quando a polícia chegou, o apartamento estava impecavelmente arrumado, nem parecia uma casa de férias com três meninos pequenos correndo e brincando. Não sei se era assim mesmo ou se isso foi proposital.

G1 - O senhor entrevistou um criminalista em seu livro que confirma a presença de sangue e o cheiro de cadáver numa peça de roupa de Kate. Essas coisas não poderiam agora ser usadas contra o casal?

Catarino - Justamente porque isso foi encontrado tarde demais. Se a polícia judiciária não estivesse tão pressionada a investigar um rapto, e tivesse começado as investigações de maneira mais aberta, talvez esses vestígios tivessem sido descobertos logo. Se fossem descobertos rápido, essas marcas frescas teriam fornecido aos investigadores novas perspectivas criminais. Como foram encontrados tarde, já haviam sido lavados, já haviam sido contaminadas e eram em quantidade muito pequenas, portanto insuficientes.

G1 - Por que o senhor acha que o caso virou um fenômeno de mídia mundial?

Catarino - Era uma menina britânica, loira de olhos azuis, filha de um casal jovem. Tudo se conjugou para que o caso fosse um fenômeno midiático em escala global. E essa pressão midiática e a pressão britânica prejudicaram com certeza a investigação

G1 - O senhor acredita numa solução para o caso a curto prazo?

Catarino - Não. A não ser que se encontre o cadáver da menina. Ou a não ser que algum dos amigos dos McCann conte o que aconteceu naquela noite. Porque uma coisa é certa: vendo os depoimentos dos amigos sabe-se que algum deles está mentindo. Os depoimentos são muito contraditórios.

"Investigação teve erros", diz autor de livro sobre o caso Madeleine
Em entrevista ao G1, Manuel Catarino acusa a Inglaterra de atrapalhar investigações.
Para o jornalista português, caso só será solucionado se o cadáver da menina aparecer.


Fonte: Giovana Sanchez

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Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir