Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 02-05-2008

DEUS E OS IMBECIS IV
“O cérebro humano é um monumento à seleção natural”.
DEUS E OS IMBECIS IV

ManoelManhães [email protected]

"O cérebro humano é um monumento à seleção natural". Imagine quantos bilhões de indivíduos das mais variadas espécies, de unicelulares primitivos a hominídeos, foram sacrificados para que a evolução finalmente chegasse a essa maravilhosa máquina, a esse engenho sem precedentes. A triste ironia é que o cérebro humano, justo ele, será responsável pela involução da espécie.

Pois vejam: conforme os mecanismos da seleção natural interessam a cada indivíduo espalhar seus genes, marcando sua passagem pelo planeta. Richard Dawkins vai mais longe: segundo ele, grosso modo, cada ser vivo é uma máquina programada pelos genes para que eles, os genes, se perpetuem. O mecanismo é irrelevante para minha argumentação, o que importa é o resultado: num ambiente de competição, indivíduos mal adaptados perecem antes de terem a oportunidade de passar seus genes adiante, ou são eliminados pela seleção sexual (por isso não vemos, por exemplo, pavões de cauda curta; o gosto peculiar das fêmeas fez com que a cauda vistosa e grande fosse uma característica desejável nos machos da espécie, mesmo sendo uma desvantagem quando se trata de fugir de predadores).

As primeiras espécies de hominídeos passaram por esse processo, e até o homem moderno, no princípio, precisava estar bem adaptado para sobreviver. O sujeito incapaz de conseguir alimento, ou de fugir dos predadores, ou de sapecar com precisão uma clava na cabeça da fêmea de sua predileção, morria sem deixarem descendentes. Ruim para ele, bom para nós.

Acontece, porém, que o ser humano não tem precedentes no planeta. Todas as espécies antes da nossa se contentaram com o ambiente que lhes era oferecido. No máximo faziam uma mudança ou outra, como as barragens dos castores, e era isso. E eis que nós surgimos, e decidimos modificar nosso ambiente de forma radical. Construímos casas, estradas, desviamos o curso dos rios e verbas, nivelamos vales, escavamos montanhas, fomos à lua, cruzamos os oceanos com cabos de telecomunicações, colocamos satélites em órbita. Criamos o zíper, a tesoura, a poltrona reclinável, a televisão com 200 canais, a internet, a pornografia, o xadrez, as universidades, o ventilador de teto, o câmbio automático. E então chegamos ao século XXI, olhamos ao redor e não havia nenhuma ameaça à nossa altura. Sim, há doenças e desastres naturais, mas já não dão mais conta de nos assustar. Se um desastre na China mata um milhão de pessoas, isso vira porcentagem, e é um numerozinho ridículo. Estamos imunes, portanto. Vamos comemorar! Vamos?

Ora, se não há mais ameaças, isso quer dizer que não há mais diferenças entre preparados e despreparados, adaptados e não adaptados. A princípio, parece justo. Somos todos iguais, como sempre sonhamos. Mas não somos.

Pensem. Eu tenho 45 anos. Minha namorada, não é segredo pra ninguém, tem 23. Quantos filhos tenho com ela? Zero. Queremos planejar investir em nossas carreiras, formar algum patrimônio, e aí sim ter um filho, talvez dois, aos quais possamos oferecer todos os confortos da vida moderna. E por que isso? Porque somos pessoas inteligentes. Enquanto isso, os imbecis se reproduzem como ratos que caíram num balde cheio de Viagra. Lembro-me da minha formatura no científico. Dava para saber quais eram as meninas inteligentes e quais eram as que tinham chegado ali a muito custo: essas últimas estavam grávidas.

Qual a conseqüência disso? Num campo de jogo em que todos são iguais, só o que conta é a velocidade de reprodução. E nisso, meus caros, os imbecis estão se dando muito melhor do que nós. Eu quero dizer que um dia eles vão dominar o mundo? Claro que não! Eu estou dizendo é que eles já começaram! Você duvida? Olhe para seu chefe. Viu? Você já foi alvo de chacota por ler um livro, ou falar uma palavra "difícil", ou levantar uma questão qualquer que fosse um tantinho mais elevada do que a precipitação pluviométrica da semana? Pois é.

O que o futuro nos reserva? A extinção, claro. Mas, antes disso, veremos coisas tenebrosas. Antevejo as obras completas de Shakespeare traduzidas (do espanhol) por Paulo Coelho, com notas de rodapé de Roberto Shinyashiki. "Nesse versinho aqui, o nosso amigo Bill Shake dá uma mensagem muito importante para os dias de hoje, pessoal. O que ele quer dizer é que não podemos desistir de nossos sonhos. Você traça um objetivo, e aí você persegue esse objetivo. O universo, já sabia ele, é uma grande câmara de eco". E por aí vai. Imagino acalorados debates sobre a obra de Zibia Gasparetto ou Marcelo Mirisola. A sério.

Eles são muitos, e serão cada vez mais. Nós somos artigos de museu. Conformem-se. É O FIM!!

Fonte: O Autor
 
Por:  Manoel Manhães    |      Imprimir