Categoria Geral  Noticia Atualizada em 09-05-2008

Gays são minoria no show do Village People
Cinqüentonas e casais héteros foram maioria do público no show da banda
Gays são minoria no show do Village People
Foto: Daigo Oliva/G1

"A ‘bicha’ que veio nesse show na expectativa de desencalhar quebrou a cara".

A constatação pessimista do cabeleireiro William Batista Silveira, de 52 anos – homossexual assumido – resumia bem a insatisfação da minoria gay que esteve no show do grupo Village People na noite desta quinta-feira (8), no Via Funchal. Ícone da comunidade GLS nos anos 70, a banda atraiu para sua apresentação em São Paulo um público formado por uma maioria esmagadora de mulheres na faixa dos 50 anos e jovens casais héteros.

"Tenho muitos amigos gays e adoro esse tipo de alegria festiva que só os gays têm", explicou a funcionária pública Vera Pereira, de 54. Ela foi ao show acompanhada de sua estagiária, Denise Palmiere, de 21.

Momentos antes de o sexteto nova-iorquino subir ao palco, chefe e funcionária ensaiavam juntas os passos da famosa coreografia do hit "Y.M.C.A.". "Adoro música que tem dancinha! Até o ‘Créu’", dizia a empolgada estagiária.

A instrutora de etiqueta Sandra Tarcha, de 54, engrossava o time de garotas maduras que foram relembrar os anos dourados da disco music no show do Village People. "Outro dia fui ao casamento de gente muito sofisticada no Ilha Porchat Clube. Quando tocou ‘Macho Man’ foi todo mundo empolgado para a pista de dança", contou Sandra. "É um tipo de música contemporânea. Gays, héteros, velhos e jovens confraternizam juntos".

Prova desse poder de democratização do Village People, era a presença de uma turma de fãs adolescentes do grupo mexicano RBD.

A garotada, que está acampada na porta do Via Funchal já esperando pelo show da banda teen no sábado (10), ganhou ingressos para a apresentação do Village People de cambistas que não tiveram êxito nas negociações de última hora. A casa cobrou de entrada preços que variavam de R$ 60 a R$ 200.

"Não acho que o Village People represente os gays. Dos seis caras da banda, só dois são héteros", denunciou a antenada Ana Paula Souza, de 18, aos colegas fanáticos pelo RBD.

"Ícone gay é o Christian! Ele sim levanta a bandeira", constatou fã Diego Cintra, de 19, citando o integrante do grupo mexicano que assumiu ser gay recentemente.

Ingresso da firma

Um dos pouquíssimos grupos de amigos gays que foram prestigiar o Village People era o formado pelo consultor Felipe Eugênio, de 23, pelo publicitário Nixon Ochini, de 27, e pelo professor Rodrigo Cezaretto, de 27. O trio não estava lá muito empolgado com a apresentação.

"Ganhei os ingressos da firma, que tem convênio com o Via Funchal", explicou Ochini. "Nem somos fãs da banda, mas será engraçado vê-los cantar Y.M.C.A.’".

Para Eugênio, seria neste momento que os gays presentes na platéia se manifestariam. "Aquele barbudo é garota e o aquele ruivo com a namorada está só fingindo que é hétero", dizia o rapaz apontando para as pessoas nas mesas ao lado. "Deixa só tocarem ‘Y.M.C.A.’ que sai todo mundo do armário", garantia.

Eis que chega o momento tão esperado do show. Antes disso, o cantor David Hodo, que faz o papel do carpinteiro no grupo, canta num português ruim o samba "Mamãe eu quero" e pergunta ao público se "há muitos ‘mancho men’ na platéia". Tem como resposta um "u-hu" entoado por vozes femininas.

Na hora do grande hit, o carpinteiro e seus colegas, o motoqueiro Eric Anzalone e o caubói Jeff Olson exibem os peitorais peludos. O soldado Alex Briley, o policial Ray Simpson e o índio Felipe Rose parecem ter se cansado de serem sexies e continuam com as fantasias e prumo. Mas provocam o público rebolando de costas.

O cabeleireiro William – aquele que reclamou da ausência de paquera gay no show – decide ir embora antes de o Village People terminar de cantar "Y.M.C.A.". E faz críticas ferrenhas aos rapazes de Nova York.

"Eles cantaram o tempo todo em cima de playback e com bases toscas. O carpinteiro e o policial estão barrigudos. Vou já para a Lôca recuperar o tempo que perdi aqui", revelou William, rumo a uma das mais fervidas boates gays de São Paulo.

Gays são minoria no show do Village People. Cinqüentonas e casais héteros foram maioria do público no show da banda.

Fonte:

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Por:  Felipe Campos    |      Imprimir