Os militares vão administrar sozinhos as ajudas materiais e financeiras enviadas
Foto: Reuters A junta militar de Mianmar (antiga Birmânia) fechou as portas oficialmente às equipes de emergência e aos jornalistas estrangeiros nesta sexta-feira (8), apesar dos apelos internacionais para que o país aceite a ajuda oferecida aos mais de um milhão de desabrigados pelo devastador ciclone Nargis.
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU acusou a junta de ter se apropriado de uma carga de ajuda humanitária e anunciou a suspensão temporária dos vôos.
Os militares birmaneses - que exercem um poder severo em um dos países mais pobres e isolados do planeta há quase 50 anos - pretendem administrar sozinhos as ajudas materiais e financeiras de milhões de dólares prometidas pela comunidade internacional.
"Mianmar não está disposta a receber equipes de busca e socorro, tampouco meios de comunicação, de países estrangeiros, mas aprecia enormemente a generosidade (...) da comunidade internacional", afirma o ministério das Relações Exteriores em um texto publicado no jornal oficial "New Light of Myanmar".
"Atualmente, Mianmar dá prioridade ao recebimento de ajudas de emergência e realiza grandes esforços para transportá-los sem atraso com seus próprios trabalhadores às zonas afetadas", acrescenta a nota.
Apesar desta posição, o ministro tailandês das Relações Exteriores, Noppadon Pattama, declarou em Tóquio que a junta está se tornando mais flexível.
"Estou seguro de que aceitarão a ajuda humanitária internacional", disse Pattama pouco depois de uma conversa com o colega birmanês.
Segundo o último balanço oficial provisório, o ciclone Nargis que arrasou no fim de semana passado o sul de Mianmar deixou quase 23 mil mortos e mais de 42 mil desaparecidos. Porém, algumas estimativas de diplomatas chegam a citar a possibilidade de 100 mil mortos.
Em Genebra, a ONU anunciou que pedirá ajuda à comunidade internacional para arrecadar fundos de ajuda aos 1,5 milhão de desabrigados birmaneses durante seis meses.
Porém, a generosidade internacional não comove os militares, que na quarta-feira provaram sua rigidez ao expulsar do país trabalhadores humanitários e jornalistas que estavam a bordo de um avião do Qatar com material de ajuda.
Para as Nações Unidas, o tempo está se esgotando.
"A situação é crítica e resta apenas uma pequena oportunidade se queremos evitar a propagação de doenças que poderiam multiplicar o número já dramático de vítimas", disse Noeleen Heyzer, subsecretária da ONU para a Ásia-Pacífico.
No entanto, a junta não pensa da mesma maneira.
"A esta altura, a melhor maneira para a comunidade internacional ajudar as vítimas é proporcionar auxílio como medicamentos, alimentos, roupas, geradores elétricos e materiais para os refúgios, assim como ajuda financeira", afirma a nota oficial dos militares.
Insuficiente
O regime alega que aviões com ajuda pousaram sem qualquer dificuldade no país. O governo anunciou na manhã desta sexta-feira que 11 aparelhos com assistência emergencial já chegaram a Mianmar.
Porém, para as organizações humanitárias estas ajudas são muito lentas e insuficientes para as vítimas, que não têm água potável, alimentos, roupas nem casas.
Para tornar a situação ainda mais dramática, a área mais afetada pelo ciclone, o delta de Irrawaddy, também é a principal região arrozeira de Mianmar.
Com centenas de plantações e milhares de casas destruídas, os habitantes tentam obter alimentos de onde podem: as crianças pescam com as mãos nos canais inundados, enquanto os pais tentam construir abrigos com bambu e galhos de árvores.
Apesar da catástrofe, os militares seguem adiante com a organização de um referendo sobre uma nova Constituição no sábado. Eles somente atrasaram a consulta em 24 de maio nos municípios mais afetados pelo ciclone e até mesmo fizeram um novo chamado para que a população vote "sim".
Militares de Mianmar recusam ajuda e ONU suspende vôos. Os militares vão administrar sozinhos as ajudas materiais e financeiras enviadas.
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