Categoria Música  Noticia Atualizada em 21-05-2008

É um sonho que está se concretizando, diz Max Cavalera
Cavalera Conspiracy marca a reconciliação de Max com o irmão, Iggor, 10 anos depois
É um sonho que está se concretizando, diz Max Cavalera
Foto: Divulgação

Um "Max & Iggor" que ninguém vê. Assim Massimiliano Antônio Cavalera, 38 anos, descreve o álbum de estréia do Cavalera Conspiracy, projeto que marca a reconciliação com seu irmão mais novo depois de 10 anos sem se falarem. Por telefone de sua casa em Phoenix, nos Estados Unidos, Max falou ao G1 sobre a expectativa de encarar a estrada na primeira turnê da banda, a partir do próximo dia 30, na Espanha, a vontade de voltar ao Brasil, e os filmes que têm feito sua cabeça no momento - "Tropa de elite" e "Baile perfumado" encabeçam a lista.

"Esse álbum tem um clima mais ao vivo", comenta o vocalista e também produtor a respeito do recém-lançado "Inflikted". "Tem um Max & Iggor que ninguém vê, no estúdio, que é algo monstruoso, arrepia, não dá pra explicar. Essa era a minha intenção, tentar capturar esse lado animal. Noventa por cento da gravação foi feita ao vivo, com erros, tocando sem frescura", comemora. Completam a formação do grupo o guitarrista Marc Rizzo e o baixista Joe Duplantier.

Afastado do país desde 2000, quando esteve no Recife com o Soulfly para tocar no Abril pro Rock, Max diz que os filmes brasileiros não o deixam esquecer o português. "Assisto a ‘Tropa de elite’ 20 vezes por dia, ‘Cidade de deus’ mais umas 20, não esqueço de jeito nenhum", conta, bem-humorado. "Gosto muito de ‘Central do Brasil’ e do ‘Baile perfumado’. O Lúcio Maia, da Nação Zumbi, me mandou uma cópia. Acho a trilha sonora impressionante. Vou encontrar com Iggor na Europa na semana que vem e pedir pra ele levar umas coisas."

G1 - A turnê que vocês vão fazer passa pela Europa e pelos EUA. Vocês pretendem incluir datas no Brasil?
Max Cavalera - Isso está sendo discutido agora. Até o próximo mês já deve ter algo fechado. O Iggor está vendo isso com o empresário na Inglaterra. Já pedi uma atenção especial ao Brasil, porque eu tenho que tocar no Brasil principalmente com o Iggor, é uma coisa que tem de ser feita. Acho que vai rolar mais pro fim do ano, talvez em novembro, dezembro. Estou pronto pra tocar. Não preciso de desculpa pra sair de casa, estou sempre pronto pra sair em turnê. Infelizmente vai rolar primeiro Europa e depois Estados Unidos, mas logo depois vamos ao Brasil. Pra mim é assim, muita saudade, maior tesão. Estou em dívida com o público brasileiro.

G1 - Você tem saudade do público brasileiro?
Max Cavalera - Muita. Tenho saudade de tudo, desde as coisas mais simples, como um caldo de cana, um pé-de-moleque, até a música. O cheiro do Brasil é diferente. Quando você chega no aeroporto, é diferente de qualquer aeroporto do mundo inteiro. O ar é diferente. A gente viaja 40 países em cada turnê e não tem nenhum que tenha essa vibração do Brasil. Eu até falei com o Iggor, se não rolar show vou pro Brasil ver a minha mãe, minha família, a molecada do Iggor, matar as saudades. Mas espero que seja com show, que é mais legal.

G1 - Você já disse que tem vontade de ter uma casa no litoral brasileiro. Acha que pode rolar uma reaproximação com o país?
Max Cavalera - Essa é uma idéia antiga, sempre falei que quando ficasse mais velho queria ter um lugar sossegado pra passar mais tempo. Meus filhos estão adolescentes agora, com 14, 15 anos, e precisam do nosso apoio. Mas quando eles estiverem maiores é uma coisa que eu ia adorar. Porque esse lugar aqui é uma insanidade. É bom pra trabalhar, pra fazer letra, mas na verdade aqui nos Estados Unidos é muito hardcore. O pessoal só está atrás de dinheiro, ninguém se preocupa com amizade. É muito difícil se acostumar com isso. Eu fico aqui só fazendo música, eu vivo pela música, mas meu coração e minha cabeça estão em outros lugares.

G1 - Como você vislumbra partir em turnê com o Iggor do seu lado, 10 anos depois?

Max Cavalera - Eu e ele estamos prontos. Foi legal pra caramba só de estar junto com ele de novo. As coisas mais simples, como tomar café juntos, ou assistir ao futebol, coisas desse tipo. Estou super animado com a turnê e sei que ele está também. É um sonho da gente que está se concretizando, de ficar juntos, tocar juntos e sair em turnê.

A última vez que estive com o Iggor foi em 1996 num ônibus, na Europa, aí a vida virou de cabeça pra baixo, depois que rachou o Sepultura, o filho da Gloria [Dana Wells] morreu, aquele baixo astral. O mais importante foi que a gente deu a volta por cima, estamos vivos, tocando juntos.

Eu até mudei a cabeça do Iggor. Li umas entrevistas em que ele dizia que não queria mais saber de metal. Então eu virei a cabeça dele, e ele fez um disco de metal comigo. Eu falei: você pode enganar o mundo inteiro, mas enganar o seu irmão vai ser difícil. Você pode ser DJ, mas o coração está no som pesado.

G1 - É possível que num próximo álbum do Cavalera Conspiracy haja alguma influência dessa faceta eletrônica do Iggor?
Max Cavalera - Isso eu não sei. Tem algumas coisas até que já foram canalizadas, por exemplo, o vídeo foi feito pela galera do Surface to Air, da França, de amigos do Iggor que se ligam mais com o Justice e bandas desse tipo. O legal do Cavalera Conspiracy é que tem algumas coisas diferentes. Se a gente esquecesse completamente o metal, a molecada ia ficar revoltada, não ia querer saber de nada. A pior coisa do mundo é quando você gosta de uma banda e ela faz uma coisa que não tem nada a ver com o que você está esperando.

G1 - Você se preocupa com o que os fãs vão achar?
Max Cavalera - Lógico, eu sou fã, e queria fazer um disco que também me agradasse. Pra mim o mais importante era buscar a raiz de Max e Iggor hardcore, porrada, e acho que saiu desse jeito. O disco é animal, até mais agressivo do que muita gente esperava. Não tinha nada a ver tentar refazer um clima tipo roots que está rolando no Brasil ou alguma coisa mais nova tipo o que toca no rádio nos Estados Unidos. Não quis saber de nada disso. É uma volta ao metal, um retorno ao som porrada. Fiquei feliz que tenha saído desse jeito.

Não é todo mundo que vai gostar, mas acho que até quem não gostou muito deu valor pelo sentido do álbum, pela reconciliação, pelo que a gente tentou fazer, a atitude de fazer uma coisa que não é para rádio. Pra mim a idéia não era estourar, era fazer uma coisa independente do que está na moda. Esse disco não tem compromisso com o mundo.

G1 - Como tem sido sua experiência como produtor?
Max Cavalera - Quando estávamos fazendo o segundo disco do Soulfly, ‘Primitive’, foi a última rachada com produtor porque ninguém estava entendendo o que eu queria fazer, e pior, estavam tentando mudar pra uma coisa que eu não sou. Quando neguinho começou a tentar consertar o meu sotaque, de brasileiro falando inglês, o bicho pegou. Vi que não ia dar certo. O Max é assim: com sotaque mesmo, quatro cordas na guitarra e gritando.

G1 - O fato de você e Iggor tomarem as decisões alivia o estresse de manter uma banda?
Max Cavalera - No Cavalera Conspiracy, as tarefas são divididas. Eu cuido da parte do som, das letras, dos riffs, e o Iggor cuida da parte visual, capa do disco, camiseta. É bem parecido com o Sepultura nesse sentido. Mas o Marc Rizzo e o Joe Duplantier dão palpite. Eu quis fazer uma coisa democrática, acho que todo mudo deve tentar ajudar. É como um time. Vai ser interessante ver como isso vai funcionar na turnê.

É um sonho que está se concretizando, diz Max Cavalera. Cavalera Conspiracy marca a reconciliação de Max com o irmão, Iggor, 10 anos depois.

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Por:  Felipe Campos    |      Imprimir