A atriz Dercy Gonçalves, de 101 anos, morreu às 16h45 deste sábado (19) no Hospital São Lucas, em Copacabana
Foto: G1 A atriz Dercy Gonçalves, de 101 anos, morreu
às 16h45 deste sábado (19) no Hospital São
Lucas, em Copacabana, Zona Sul do Rio.
Segundo a assessoria de imprensa do
hospital, Dercy foi internada na madrugada
deste sábado, e com um quadro de pneumonia
comunitária grave, que evoluiu para uma
sepse pulmonar e insuficiência respiratória.
O Estado do Rio de Janeiro decretou luto
oficial de três dias.
Veja vídeos históricos de Dercy
Gonçalves
'Vai-se Dercy, ficam os palavrões
mais carinhosos', diz Ary Fontoura
‘Época’: veja vídeo da última
aparição pública de Dercy
O ator Ary Fontoura falou para a
Globo News: "grande amiga, que não
acreditava na velhice, que sempre pensou em
um final de vida honroso. Vai-se a Dercy,
ficam os palavrões mais carinhosos que as
pessoas podem dizer. Fica o exemplo da
comediante. Eu gostaria que ela fosse com
Deus."
A também amiga, secretária e colaboradora
Hynea Moreira de Souza, 54 anos, disse que a
família espera que autoridades, como o
prefeito ou governador do Rio, reconheçam a
importância da atriz e permitam que ela se
despeça com uma cerimônia do público carioca
antes de seu corpo seguir para Santa Maria
Madalena, onde ela nasceu e deverá ser
sepultada.
Segundo a amiga, que trabalhava com Dercy há
mais de 20 anos, a atriz amanheceu na
sexta-feira (18) com uma forte gripe e foi
levada ao Hospital São Lucas, em Copacabana,
onde os médicos teriam constatado uma
pneumonia.
Carreira
Ainda jovem, em 1927, ela desafiou
padrões da época ao fugir de casa atrás de
uma companhia de teatro. Ela começou a
carreira cantando, mas depois perdeu a voz.
Ela trocou seu nome de batismo, Dolores
Costa Bastos, para tornar-se Dercy
Gonçalves, uma atriz da época do teatro
rebolado e das chanchadas. Dercy também
passou pela televisão e foi uma das
primeiras contratadas da Rede Globo, onde
estrelou os dois primeiros programas de
sucesso da emissora no horário nobre. Em
1989, fez o papel da mãe da rainha na novela
"Que Rei Sou Eu?".
Em 1991, aos 84 anos, sofreu um acidente de
carro e quebrou a bacia. Ainda se
recuperando, foi para a Marquês de Sapucaí
com os seios à mostra, homenageada no enredo
da Unidos da Viradouro (em 2004, voltou a
ser destaque, dessa vez no carro da
Salgueiro, como mostra o vídeo acima).
Também em 1991, passou por uma cirurgia por
conta de uma úlcera e de um tumor. Em 1992,
participou da novela "Deus nos acuda",
fazendo o papel de anjo da guarda nada
convencional da personagem de Cláudia Raia.
A atriz, que ameaçou posar nua aos 90 anos,
não gostava de água, nem a do mar. Ela
mandou construir seu túmulo -- com formato
de pirâmide, já concluído -- em Santa Maria
Madalena, sua cidade natal. Lá também fica o
museu Dercy Gonçalves, com diversas peças da
atriz, como chapéus, bolsas, perucas,
sapatilhas, bijuterias, troféus, cartazes,
programas, entrevistas, fitas de vídeo,
textos, jornais, revistas e fotos.
'Ninguém
é mais feliz'
Dercy Gonçalves morreu aos 101 anos;
na imagem , ela iria completar 100 (
Foto: Cláudia Loureiro/G1)
Em
entrevista em abril do ano passado, ela
disse que ninguém era mais feliz do que ela.
Sem um pingo de nostalgia, disse que o
passado não interessava. "O ontem acabou.
Não tenho mágoa de nada e nem saudade de
nada. Vivo o hoje. Tenho alegria de viver,
adoro a vida".
Vaidosa, a comediante disse que já havia
feito mais de dez plásticas. "Não quero
ficar feia. Também já fui criança ou você
pensa que fui velha a vida inteira?",
brincou. Depois de se curar de um câncer e
sobreviver a uma tuberculose, ela se achava
uma vencedora. "Tudo que passou, acabou. Eu
sobrevivi."
Dercy fugiu de casa aos 14 anos e dizia não
se arrepender. Argumentava que aprendeu tudo
o que sabe da melhor forma possível:
vivendo. "Meti a cara, casei. Vivi 20 anos
casada, com dignidade. Nada de ruim me
aconteceu. Não me envergonho de nada."
Mesmo depois de ter viajado por vários
países, Dercy disse que não tinha lugar mais
bonito que o Brasil. "Conheço mais da metade
do mundo. Não tem país de mais calma e
dignidade que o Brasil. Isso aqui é lindo".
Ela não se dizia religiosa, mas acreditava
na natureza. "Não acredito em santo nenhum.
Minha religião é a natureza. Deus é um
apelido. Ele pra mim não existe. O que
existe é a natureza. Deus é fantasma, mas a
natureza é a verdade."
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