Categoria Tragédia  Noticia Atualizada em 21-07-2008

Cabral ressalta momentos engraçados com Dercy
Governador relembrou alguns momentos com a atriz durante velório. Corpo é levado para Santa Maria Madalena onde será enterrado na terça.
Cabral ressalta momentos engraçados com Dercy
Foto: Aluizio Freire/G1

Ao se despedir da atriz Dercy Gonçalves na manhã desta segunda-feira (21) na Assembléia Legislativa do Rio, no Centro, o governador Sérgio Cabral relembrou alguns momentos com a sua grande amiga. Na ocasião, Cabral falou do jeito irreverente dela.

A Dercy sempre foi a minha amiga. Tive a oportunidade de ir com ela a Santa Maria Madalena, botei minha mão na Calçada da Fama da cidade. Enfim, meu pai e eu somos e continuamos fãs da Dercy. Quem gosta de viver, quem tem alegria em viver é só lembrar da Dercy. A lembrança que fica dela eram aqueles palavrões ‘Porra Cabral, lá vem você com esse negócio’ (risos). Ela realmente era uma lição de vida, disse.

Ao sair do velório, o governador ainda ressaltou: Ela não passava recibo da velhice. Ela dizia que tinha os seios duros, e mostrou isso na avenida, disse, em tom de brincadeira, como a atriz gostaria de ser lembrada.

Além do governador, amigos e colegas da atriz também estiveram na Alerj nesta manhã. Um deles foi o ator Homero Kossac, 75 anos. Foram mais de 50 anos de amizade. Fizemos diversos papéis juntos. Quando nos conhecemos, tivemos um namorico, mas o tempo revelou que seríamos grandes amigos. Quando falávamos em morte, eu dizia que faria um grande discurso no seu enterro, mas ela retrucava: eu é que vou ao seu enterro, e vou fazer xixi na sua cara, disse.

Mãe repressora
Apesar do seu estilo despojado e sem "papas na língua", Dercy foi uma mãe repressora e defensora da moral e dos bons costumes. Pelo menos dentro de casa, segundo informou a sua filha, Decimar Senra, 75 anos.

"Era ‘muita’ mãe para uma filha só. Ela foi muito repressora porque naquela época não existia essa liberdade que tem hoje. Além disso, eu era muito mais cobrada pela minha mãe por que eu tinha a carga de ser a filha de Dercy Gonçalves. Eu não podia dizer um palavrão. Mas concordo com toda a educação que ela me deu", contou muito emocionada.

Corpo é levado para Santa Maria Madalena
O corpo de Dercy foi velado na Alerj até as 10h30 desta segunda, quando seguiu para a cidade natal da atriz, Santa Maria Madalena, na Região Serrana do estado do Rio. O corpo segue em um carro dos Bombeiros.

Na cidade será realizado outro velório, no Clube Montanhês, com banda de música e samba, a pedido da própria atriz.

O enterro está previsto para a terça-feira, ao meio-dia, no mausoléu da família.

O corpo da atriz chega a Santa Maria Madalena no dia da padroeira da cidade. "Ela vai chegar num dia de festa; a cidade está pronta para recebê-la ao som do samba da Viradouro de 1992, ano em que ela foi tema do enredo da escola", diz Decimar Senra, filha de Dercy.

Aos 101 anos, Dercy Gonçalves morreu às 16h45 de sábado (19) no Hospital São Lucas, em Copacabana, Zona Sul do Rio. Segundo a assessoria de imprensa do hospital, Dercy foi internada na madrugada do próprio sábado, com um quadro de pneumonia comunitária grave, que evoluiu para insuficiência respiratória.

Homenagens no domingo
Cerca de 450 pessoas, entre amigos e fãs, compareceram, no domingo (20) à Alerj, para prestar homenagem a Dercy. Entre as flores que enfeitaram o salão do velório, estavam coroas enviadas presidente Lula e a primeira-dama e pela produção do programa "Domingão do Faustão".

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e o prefeito da capital fluminense, Cesar Maia, decretaram luto oficial no estado e na cidade em homenagem à atriz.

Entre os presentes no velório, no domingo (20), estava a atriz Marília Pêra, que disse que sempre se lembra da amiga com uma gargalhada, um grande deboche. Marília, que vai dirigir um texto de Maria Adelaide Amaral sobre a vida de Dercy, defende que a atriz revolucionou a ribalta.

O estilo novo do teatro brasileiro foi ela que trouxe. Quebrou todos os tabus do teatro clássico. Ela é a fonte muitas vertentes que estão por aí. E não dá nem para ficar triste. Mesmo na hora da morte eu acho que a Dercy traz uma alegria para a gente. Para chegar a essa idade, ela dizia que a receita era trabalhar e saber dizer não. Dizia que ia morrer quando ela quisesse. Eu tenho a impressão que agora ela quis.

O também ator Stepan Nercessian também comentou a vida e a carreira de Dercy. "Era uma pessoa muito solidária. Se preocupava com os colegas. Espero que ela tenha esse reconhecimento, e não apenas de uma figura caricata, que falava palavrões."

Já o cantor e compositor Billy Blanco diz que Dercy foi uma cantiga. "Ela foi a alegria da ribalta e da platéia. Aliás, por falar em cantiga, deixo um recado para quem fica: haja o que houver, não pare de cantar. Ela foi uma mulher capaz em todos os sentidos. Deixa todas as lembranças"

O cantor Agnaldo Timóteo é outro dos amigos que presenciou o velório. Timóteo, que disse conhecer Dercy há 43 anos, afirmou que a atriz deixa uma lição sem igual, porque sabia "tirar sarro da vida". "O homem lá de cima era fã dela porque a levou sem que ela sofresse, sem que ela ficasse em uma cama. Ela merece esse descanso", falou.

Antes mesmo de o corpo chegar à Alerj, a atriz Virginia Lane, de 88 anos, companheira de Dercy nos espetáculos do teatro de revista, já estava na Alerj para prestar as últimas homenagens.

Fiz questão de ser a primeira. Quero que ela saiba que eu fui a primeira a cumprimentá-la. Ela vai para um lugar que daqui a pouco eu também vou. Trago boas lembranças da Dercy, porque éramos muito amigas. E ela me dizia, quando era mais nova, você vai longe com essas longas pernas.

Nelson Couto, da Confraria do Garoto, foi outro que prestou as últimas homenagens a Dercy, sem deixar de fazer uma crítica ao lugar escolhido, bem ao estilo do grupo irreverente.

Ela não gostava de políticos e deveria ser velada no (Theatro) Municipal ou (teatro) João Caetano, disse. Ela nunca vai ser esquecida e pode ser comparada a Carmen Miranda, acrescentou Nelson Couto.

Fonte:

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Por:  Giulliano Maurício Furtado    |      Imprimir