Categoria Policia  Noticia Atualizada em 23-07-2008

Deputado suspeito de chefiar milícia presta depoimento no TJ
Informação foi confirmada pela assessoria do próprio Tribunal. Natalino Guimarães foi preso em flagrante em casa na terça-feira (22).
Deputado suspeito de chefiar milícia presta depoimento no TJ
Foto: Reprodução/Tv Globo

O deputado estadual Natalino José Guimarães, preso em flagrante na terça-feira (22), vai prestar depoimento na sessão criminal do Tribunal de Justiça do Rio, no Centro, na manhã desta quarta-feira (23). A informação foi confirmada pela assessoria do próprio TJ, que não soube informar em qual processo ele vai depor.

Casa era QG de milícia
Segundo o delegado Marcus Neves, titular da 35ª DP (Campo Grande), a casa de Natalino, onde ele foi preso, funcionava como uma espécie de quartel general da milícia que controla a região, na Zona Oeste do Rio. Segundo a polícia, a casa do deputado era palco de reuniões semanais para discussão de assuntos relativos à atuação da milícia na região.

"Informações colhidas apontam para reuniões permanentes, que aconteciam na casa do deputado. Nessas reuniões eles planejavam a prática de crimes e questões relativas a administração do grupo de milicianos, como controle do transporte alternativo, ‘gatonet’ (central clandestina de TV a cabo), e a venda de gás, principais atividades do grupo", afirmou o delegado, que aponta Natalino como um dos chefes da milícia na região.

Duro golpe, diz secretário
Para o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, as prisões realizadas pela polícia foram um duro golpe para a quadrilha que atuaria na região.

"A gente acredita que a atuação da milícia na Zona Oeste esteja caminhando para o fim. Grande parte da milícia está desarticulada e o trabalho continua", disse o secretário.

Segundo Neves, a repressão à atividade de milicianos em Campo Grande levou a uma queda de faturamento do grupo, para um terço do que era, nos últimos meses. As armas apreendidas em operações da polícia até agora, no entanto, corresponderiam a apenas 30% do armamento usado pelo grupo. De acordo com o delegado, a quadrilha atua há oito anos em Campo Grande, período em que teria ligação com cerca de 80 assassinatos.

"A prisão já trouxe um sério prejuízo às atividades dos milicianos, mas, como diz a gíria, a fila anda. Ele certamente terá um substituto e nós vamos continuar trabalhando. Nós temos inquéritos instaurados, com pelo menos 43 pessoas relacionadas como membros efetivos desse grupo de milicianos", afirmou Neves.

Milícia já levou à expulsão de 70 policiais
Dos nomes que constam no inquérito que apura a atuação das milícias na Zona Oeste, 70% são de policiais militares. Documentos apreendidos na casa de Natalino apontam ainda para o pagamento de quantias semanais, incluindo a policiais, que variavam de R$ 300 a R$ 1.700. Segundo o secretário de Segurança, pelo menos 70 policiais militares já foram expulsos da corporação por envolvimento com milícias em um ano e meio.

O grupo envolveria também policiais civis, bombeiros, militares e agentes penitenciários. A quadrilha que domina Campo Grande, segundo o delegado, tentava estender seus domínios a Santa Cruz e Bangu, também na Zona Oeste.

Cerco e tiroteio
Cerca de 30 policiais participaram da operação que culminou na prisão do deputado. Eles chegaram à casa de Natalino por volta de 23h de segunda-feira. Segundo o delegado, o objetivo era fazer um cerco à casa do deputado para, ao amanhecer, conseguir um mandado de busca e apreensão junto ao Tribunal de Justiça. No entanto, o fato de os policiais terem sido recebidos a tiros abriu caminho para a prisão em flagrante.

"Quando chegamos ao local houve uma intensa troca de tiros. O deputado Natalino, dentro de sua residência, comandava pelo menos 15 homens fortemente armados", contou o delegado. "Nós podemos afirmar que o deputado Natalino cometeu pelo menos quatro crimes em flagrante, que são tentativa de homicídio, porte ilegal de armas de fogo, formação de quadrilha e favorecimento pessoal".

Diversas armas foram apreendidas na casa de Natalino, onde estaria ocorrendo uma reunião com supostos integrantes da milícia que controla a região. A polícia encontrou um fuzil, duas escopetas, uma submetralhadora, cinco pistolas e dois revólveres.

"Esse material é mais do que suficiente para ficar comprovado a existência de materialidade do crime e o estado de flagrância", ressaltou Neves.

Dois fugitivos já foram identificados
Após pedido de reforço, mais de cem policiais civis foram deslocados para investigar a reunião na casa do deputado. Sete homens que estavam na casa de Natalino fugiram após a troca de tiros. Dois deles já foram identificados.

No tiroteio, Fábio Pereira de Oliveira, conhecido por "Fabinho Gordo", ficou ferido e foi levado para um hospital da região. Alguns integrantes do grupo que estava na casa conseguiram fugir.

Além de Natalino e "Fabinho Gordo", foram presos outros quatro suspeitos de pertencerem à milícia: dois policiais militares, um agente penitenciário e um segurança do parlamentar.

Na delegacia para onde foi encaminhado, Natalino negou todas as acusações e afirmou ser um chefe de família. Ele disse ainda, segundo o delegado, que as armas encontradas em sua casa teriam sido jogadas pelo muro por policiais.

Alerj vai analisar prisão
Deputados da Assembléia Legislativa do Rio (Alerj) fazem uma reunião extraordinária nesta quarta-feira (23) para decidir pela nulidade ou não da prisão do deputado estadual Natalino José Guimarães (DEM).

O presidente da Alerj, Jorge Picciani (PMDB), convocou, em caráter extraordinário, os membros da Mesa Diretora, da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e do Conselho de Ética para a reunião. Segundo a assessoria de imprensa da casa, os deputados analisarão os autos de prisão em flagrante, que serão encaminhados pela polícia. A Alerj está em recesso neste mês de julho.

Grupo tenta invadir delegacia
Nesta terça-feira (22), um grupo de cerca de 30 pessoas interditou a rua em frente à 35ª DP (Campo Grande), na Zona Oeste, pedindo a liberação do deputado estadual Natalino José Guimarães (DEM).

Os manifestantes tentaram invadir a delegacia, que por fazer parte do projeto Delegacia Legal, não tem carceragem. Policiais usaram spray de pimenta para conter os manifestantes. Foi feita uma barreira na porta da delegacia.

Política
Em entrevista na terça-feira (22) à Rádio CBN, o delegado Marcus Neves disse que o objetivo dos milicianos liderados pelo deputado Natalino e seu irmão, o vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho (PMDB) – que já está preso, acusado de coordenar a milícia conhecida como Liga da Justiça – é eleger um senador.

"Eles tinham como pano de fundo o cenário político, e pretendiam a médio e longo prazos de eleger um senador. Mas como isso ainda estava em fase de planejamento, eles ainda não tinham um nome", disse o delegado.

Deputado diz que é inocente
O deputado diz que é "inocente" e que sofre "perseguição política". Ex-policial civil, expulso da corporação há cerca de duas semanas, Natalino é acusado de ser o chefe de uma milícia que controlaria favelas da Zona Oeste do Rio e é investigada por homicídios na região.

Em entrevista à TV Globo, Natalino disse que é "inocente" e acusou a polícia de ter "forjado provas arbitrariamente". O parlamentar alega que está sofrendo uma "perseguição política" e se defende das acusações se qualificando como um "pai de família".

O deputado já foi denunciado à Justiça pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ) por formação de quadrilha, mas, beneficiado pela imunidade parlamentar, respondia ao processo em liberdade.

Deputado suspeito de chefiar milícia presta depoimento no TJ do Rio
Informação foi confirmada pela assessoria do próprio Tribunal.
Natalino Guimarães foi preso em flagrante em casa na terça-feira (22).

Fonte:

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Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir