Categoria Geral  Noticia Atualizada em 02-08-2008

Boêmios de SP ignoram as novas linhas noturnas de ônibus
Garçons e demais funcionários de bares e restaurantes são os principais usuários
Boêmios de SP ignoram as novas linhas noturnas de ônibus
Foto: Daigo Oliva/G1

Duas novas linhas noturnas de ônibus foram criadas pela São Paulo Transporte (SPTrans) para ajudar no cumprimento da "lei seca", mas a grande maioria dos usuários é de pessoas que estão indo ou saindo do trabalho. Principalmente garçons, manobristas, cozinheiros e demais profissionais que trabalham em horários alternativos.

Na madrugada de sexta-feira (1º), o G1 andou nas linhas 702N Terminal Parque D. Pedro II – Pinheiros, que circula das 23h30 às 4h40, e na 748N Terminal Lapa – Itaim Bibi, que funciona das 23h30 às 3h30, e constatou que nenhum dos usuários deixou o carro em casa para ir para a balada de ônibus – ou então, se utilizou do transporte público para ir para casa depois da cervejada com os amigos.

As duas linhas passam por regiões repletas de bares e choperias e, mesmo assim, os ônibus rodam praticamente vazios durante quase todo o trajeto. O 702N saiu exatamente às 23h21 do Terminal Parque D. Pedro II, no Centro, com apenas cinco passageiros. Depois de circular por toda a região central, passando pelas praças da Sé e da República, apenas na subida da Rua Augusta em direção à Paulista subiram os primeiros passageiros. Depois de cruzar a avenida, já descendo em direção à Avenida Faria Lima, mais ninguém entrou no coletivo.

"Nas quatro viagens que faço por dia, pego no máximo umas 80 pessoas. A média é essa, de 20, 25 pessoas para cada viagem. Apenas sexta-feira é mais movimentado, chega a umas 100 pessoas. É uma linha mais tranqüila por causa do horário", afirma o motorista Pedro Luís Cascaval, de 45 anos.

A nova linha facilitou a vida de muitas pessoas que trabalham ou moram na região da Paulista. "Estou indo trabalhar. Venho de Cidade Tiradentes (extremo da Zona Leste), desço no terminal e já pego este ônibus para ir para a Paulista. Trabalho como operadora de telemarketing das 23h30 às 5h30", conta Luciene Magal de Souza, de 19 anos.

"Estou voltando do trabalho (na Alameda Tietê). Moro aqui perto do Largo de Pinheiros. Antes era mais complicado voltar para casa, pois eu precisava andar até a Rebouças e depois precisava andar bastante para chegar em casa. Mas já peguei este ônibus para ir para a balada também, já que não tenho carro", disse o publicitário Ari Dias, de 43 anos.

Do Largo de Pinheiros, onde fica o ponto final da linha 702N, é possível em uma rápida caminhada pegar a linha circular 748N logo no primeiro quarteirão da Rua Teodoro Sampaio. O primeiro microônibus sai às 23h30 do Terminal Lapa, atravessa o bairro e passa pela Vila Madalena até chegar na Avenida Faria Lima, onde segue até a avenida Nova Cidade, já na Vila Olímpia, para fazer o retorno.

Na primeira viagem, a partir da Teodoro Sampaio, já à 1h da madrugada, apenas cinco passageiros cumpriram o trajeto até a Lapa. De lá, com o ônibus saindo à 1h35, ninguém se utilizou da nova linha, ao menos até fazer o retorno na Avenida Nova Cidade. A partir daí, vários garçons recorrem à linha para chegar ao Largo da Batata, também na Faria Lima, para pegar outros ônibus em direção a vários bairros da capital.

"Acho que falta divulgação. Os bêbados não estão nas ruas. Estão nos bares ou nos carros mesmo. Creio que uma linha desta encheria mais antes da lei seca mesmo, pois os bares ficavam mais cheios também. Pode ver, está tudo vazio (os bares)", constata Lurdes Maria dos Santos, motorista de um dos dois microônibus que fazem o itinerário da linha com 23 anos de experiência na profissão. "O máximo de passageiros que eu peguei somando as cinco corridas que faço em um dia foram 79 passageiros", contou.

Lindinalva Arruda dos Santos, a motorista do outro microônibus da linha, teve um pouco mais de sorte: chegou a 100 passageiros em único dia, inclusive chegando a lotar o veículo em uma viagem. A maioria, claro, de garçons e funcionários de bares e restaurantes das regiões por onde passar o microônibus.



"É mais o pessoal que trabalha à noite mesmo. Eles agradecem muito a gente por causa desta nova linha. Bêbado mesmo não peguei nenhum até agora. Acho que é uma questão de divulgar um pouco mais", disse Lindinalva.

Mas, mesmo para os garçons, a nova linha noturna ajuda, mas não resolve para quem mora na periferia e depende de transporte público. Marcos Rafael Rebelo, garçom de uma casa noturna na Vila Olímpia, tomou o microônibus quase às 2h apenas para percorrer a extensão da Avenida Faria Lima.

Residente no Rio Pequeno, na Zona Oeste, ele dependia de mais um ônibus para chegar em casa. "Desço no Largo da Batata. Se eu chegar lá e o ônibus já tiver passado, tenho de ficar esperando até as 6h da manhã", disse, desanimado. Enquanto isso, mais uma vez a linha 748N voltava a seguir quase vazia para a Lapa.

Boêmios de SP ignoram as novas linhas noturnas de ônibus. Garçons e demais funcionários de bares e restaurantes são os principais usuários.

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Por:  Felipe Campos    |      Imprimir