Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 24-10-2008

O VOTO DEVOTO
O chamado "voto devoto" a cada elei��o se mostra mais comum.
O VOTO DEVOTO

O chamado "voto devoto" a cada elei��o se mostra mais comum. Em Cachoeiro de Itapemirim, o cat�lico de carteirinha Carlos Casteglione virou o jogo quando, sob o comando do senador evang�lico Magno Malta, recebeu o apoio (e a b�n��o) de mais de 200 pastores evang�licos �s v�speras da elei��o. Mas, ao sair vitorioso, a primeira visita que fez foi ao bispo cat�lico local. Seu advers�rio Theodorico Ferra�o, que tamb�m se declara cat�lico, disse durante a campanha que "s� Deus tiraria seus eleitores", mas em seguida, confirmada sua derrota, atribuiu-a na verdade � Igreja. Em Vila Velha, Neucimar Fraga fecha acordo com pastores evang�licos, enquanto do outro lado o Dr. H�rcules se apresenta como cat�lico fiel. No Rio, at� o cl�ssico comunista Fernando Gabeira vem se ajoelhando para as ora��es dos evang�licos debandados da campanha de Marcelo Crivela.

A maioria dos pol�ticos est� usando da religi�o como se usa de mais uma pe�a de marketing. Os l�deres religiosos vivem uma rela��o humilhante com essa nova pol�tica utilitarista, gozando do fato de se sentirem, durante as campanhas, voltando � cristandade medieval, quando suas institui��es mandavam e desmandavam, coroavam reis e eram financiadas pela m�quina administrativa como mais um departamento de Estado. Pura ilus�o... Nas campanhas, os candidatos que beijam o anel do bispo, abra�am padres e pastores, v�o �s missas e comungam, levam b�blias aos cultos e se ajoelham, depois de eleitos baixam os estandartes da f� e trazem � tona a verdade dos fatos: "estamos num pa�s laico, portanto, n�o temos compromisso com os valores religiosos, aqueles arcaicos, ditos familiares". Ent�o, como numa "desconvers�o" autom�tica, defendem o aborto e outras pol�micas permissividades, distribuem camisinha, desrespeitam os feriados religiosos, respondem com hostilidade aos l�deres religiosos que lutam para ter um minuto ao microfone nas salas do poder, cada vez mais pag�s.

No s�culo XVII, o jesu�ta Pe. Ant�nio Vieira era o pregador oficial da corte portuguesa. Ele, que j� f�ra mission�rio aqui no Brasil, conhecera o drama dos �ndios e dos negros escravizados, bem como da explora��o desumana da col�nia, e depois podia pregar com firmeza e sem censura. A fun��o da religi�o no seio do Estado era a de equilibrar o poder, purificando-o dos riscos da corrup��o, da heresia, da impiedade e do abuso de autoridade. Mas a verdade � que, ao inv�s de regular o sistema de governo, a religi�o acabava sendo desregulada internamente por ele, assimilando seus v�cios e esquemas. Ent�o surgiu, na Modernidade, Napole�o Bonaparte. O Museu de Louvre, em Paris, exibe a tela famosa em que o Imperador, que financiou a ida do Papa � Fran�a para sua coroa��o, toma-lhe a coroa das m�os e a dep�e, ele mesmo, em sua pr�pria cabe�a. Ali surgia o secularismo do Estado moderno e a id�ia de laicidade e neutralidade religiosa do poder civil. E surgia tamb�m o utilitarismo do aspecto religioso �nica e exclusivamente para legitimar esse poder.

Juliano Ribeiro Almeida � sacerdote cat�lico, p�roco em Itapemirim.

    Fonte: O Autor
 
Por:  Juliano Ribeiro Almeida    |      Imprimir