Categoria Pop & Art  Noticia Atualizada em 06-11-2008

Público feminino faz coro para ver artista da Bienal pelado
Nu e sem alimento, Maurício Ianês depende das doações do público. Um dos primeiros presentes foi um short; agora já tem cigarro e doces.
Público feminino faz coro para ver artista da Bienal pelado
Foto: G1

Débora Miranda

"Tira!Tira!" Era a palavra de ordem que ecoava no prédio quase vazio da Bienal, na manhã chuvosa desta quinta-feira (6). Reunido em frente ao artista plástico Maurício Ianês, um dos destaques da 28ª edição do evento, um pequeno grupo de mulheres pedia para que ele tirasse a roupa novamente. Com um jornal na mão, apontando uma foto em que Ianês aparece nu, uma delas lamenta: "Eu vim aqui para vê-lo pelado".

O artista chamou tanta atenção para si ao iniciar a performance "A bondade de estranhos", que consiste basicamente no seguinte: ele vai morar no pavilhão da Bienal por duas semanas, sem roupa nem comida, dependendo apenas da doação do público. Dois dias depois, Ianês, que a princípio estava pelado e sem nada para comer, já tem cuecas, roupas, uma manta, alimento, cigarro e até bilhetes escritos pelos visitantes.

"Vim ver o nu artístico e dar a minha colaboração com algo que ele precisasse", conta a advogada Dorcas Neves, de 58 anos, tirando uma cueca de uma sacolinha plástica. "Era do meu falecido marido", revela, um pouco frustrada por não ter conseguido doar a primeira peça íntima da coleção de Ianês na Bienal. Aliás, a nudez do artista foi logo encerrada, já que uma das primeiras peças doadas foi um short.

No chão, Ianês organiza cuidadosamente tudo o que ganha. Uma garrafinha d’água virou cinzeiro, usado nas escapadas para fumar. Para comer, há chocolates e biscoitos variados. Os estudantes que visitam o pavilhão deixam recadinhos. Num deles, a mensagem: "Te adoro, Tio Careca".

O artista plástico não fala com ninguém, mas interage com o público. Agora bem abastecido, ele divide chocolates e doa biscoitos recheados, retribuindo a "bondade de estranhos" proposta por sua performance. Ao receber um pacote de bolacha das mãos de Ianês, o estudante Gabriel dos Santos, de 13 anos, ficou desconfiado. "Vai fazer desfeita para o coitado?", retruca a colega de classe, diante da indecisão do menino em aceitar os biscoitos.

Após saber que Ianês estava vivendo apenas daquelas doações, o garoto não titubeou: esvaziou os próprios bolsos e os do amigo, juntou todas as moedas que tinha e entregou nas mãos do artista, agradecendo a gentileza. Apesar de não ter onde gastar o dinheiro, Ianês já acumulou mais de R$ 20. E ganhou até uma nota de US$ 1.

28ª Bienal de São Paulo
Até 6 de dezembro, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo (Parque do Ibirapuera)
De terça a domingo, das 10h às 22h.
Entrada gratuita.

Público feminino faz coro para ver artista da Bienal pelado
Nu e sem alimento, Maurício Ianês depende das doações do público.
Um dos primeiros presentes foi um short; agora já tem cigarro e doces.

Fonte:

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Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir