Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 19-12-2008

A HUMANIDADE DECAÍDA
Como se já não bastassem a crise dos mercados financeiros em todo o mundo e a crise gerada pelas tempestades
A HUMANIDADE DECAÍDA

Juliano Ribeiro Almeida

Como se já não bastassem a crise dos mercados financeiros em todo o mundo e a crise gerada pelas tempestades de dezembro em várias regiões do Brasil, o Poder Judiciário do Estado do Espírito Santo se encarregou de preparar uma outra, tão preocupante como as anteriores: veio à tona o esquema de vendas de sentenças e compras de nomeações que partia dos próprios desembargadores, juízes e advogados do Tribunal de Justiça do Estado. Lembra da chamada "caixa-preta do Judiciário", expressão que o presidente Lula costumava usar para falar do fechamento e falta de transparência que cercavam o Poder Judiciário no país? Ele sabia do que estava falando...

Quando não se pode mais confiar na Justiça, em que vamos confiar? Generalizações à parte, a Operação Naufrágio, da Polícia Federal, está comprovando aquilo que a religião cristã sempre pregou: o ser humano é frágil, corruptível, suscetível a erros, sejam quais forem suas condições. Para usar uma expressão de São Paulo, "todos pecaram e estão privados da glória de Deus" (Rm 3,23). Por mais que cerquemos com áureas de santidade os nossos líderes, eles a qualquer momento podem nos decepcionar. Um juiz de direito é um sujeito que, no imaginário popular, está acima do bem e do mal: o salário dele é astronômico, ninguém sabe onde ele mora, ele quase nunca é visto senão no tribunal, usa vestes "sagradas" quando julga, parece mesmo um deus (ou pelo menos um sacerdote muito transcendental da invisível justiça divina).

Comumente não se imagina um juiz de direito pronunciando gírias, descendo a linguagem para o coloquial, tomando cerveja, usando uma sunga de praia ou contando piadas bestas... Mas eles o fazem. Como o fazem também os padres, os militares, os neurologistas e quaisquer outras categorias profissionais, por mais respeitosas que sejam suas imagens para nós. Então, se os nossos símbolos são capazes de viver um cotidiano de futilidades como o nosso, precisamos supor que eles também estão submetidos às mesmas forças que nos impulsionam: o medo, a inveja, o ódio, a tentação... Isso serve de alerta para nós: ninguém, absolutamente ninguém pode se eximir de prestar contas do que faz. Nem mesmo o fato de alguém ter sido sempre totalmente confiável lhe dá o direito de se considerar "acima dessas coisas baixas". A experiência prova que todos nós somos feitos do mesmo barro, e até os mais virtuosos, numa situação em que não haja quaisquer controles e exigências, podem cair, seja no lapso de uma fraqueza ou na persistência da oportunidade, nos "esquemões" que nossos meritíssimos aí caíram. Em tempo: "meritíssimo" é o pronome de tratamento que se deve aos juízes, e significa "cheio de méritos"...

Juliano Ribeiro Almeida, 28 anos, é padre católico e reside em Itapemirim.

    Fonte: O Autor
 
Por:  Juliano Ribeiro Almeida    |      Imprimir