Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 23-12-2008

UM CONTO DE NATAL
Ah, o natal, o natal!!
UM CONTO DE NATAL

Manoel Manhães [email protected]

"O casal atrasado pra ceia na casa da sogra do cara, onde todo mundo se reuniria para trocar presentes, ver o especial do Roberto Carlos, discutir futebol (os homens), falar mal de quem não estava por lá (as mulheres), e tentar trocar ou destruir o presente alheio (as crianças).

Correria total, molecada chorando, brigando no fundo do carro, o marido suando e checando se tem água no radiador, a mulher dando esporro nele por ter esquecido a bendita bandeja de frutas cristalizadas na cozinha, o vizinho perguntando "vocês não vão passar o Natal aqui não? Aaaaah, que pena!", o cachorro a latir meio que chorando (por que já havia sacado que ia passar a noite sozinho), fogos de artifício espocando aqui e ali e aquele cheiro insuportável (para o marido) de rabanadas quentinhas.

-Porque você não colocou estas rabanadas em um tapoé, meu amor?
-Porque estão muito quentes e não tenho mais tapoé pra pôr, meu a-mor! Ou você esqueceu que temos um monte de salgados pra levar?
-Ai meu saco...vou daqui até lá tendo de sentir este cheiro enjoado? Você não sabe que eu detesto rabanadas?
-Mas a mamãe e a namorada nova do meu irmão gostam... então cala a boca e segura esta garrafa de vinho aqui...
-Mãee, o Rodrigo me bateeeeeeu!
- Mentiiiiraaa! Foi o Fernando que me beliscou!
-Cala a boca vocês dois aí atrás, senão a chinela vai cantar! E, Rodrigo, segura este peixe aqui... sem virar, senão estraga o banco do carro!
Nesta confusão, a mulher lembra de pegar mais alguns recipientes contendo pratos de paladar variado e digestão sacrificante (porque Natal é época de espancar o estômago).
-Pára, pára aí, que esqueci de pegar a caixa com nozes...
-Deixa que eu pego mãe... vou aproveitar pra mijar...
-Mas lava a mão antes de ir pra cozinha, seu porquinho!
O moleque volta e a mãe, sai do carro pra ele entrar (2 portas é fogo)...como está segurando a travessa de rabanadas no colo, ela tem de colocá-las em algum lugar...e a põe sobre o carro.
-Entra logo aí... olha aí o que vocês estão fazendo, vai amassar a caixa de presente aqui do lado, seu peste...
-Vamos logo que daqui a pouco vai chover...
-Calma, tô arrumando os presentes... também, eu que tenho de fazer tudo nesta casa... tudo eu, tudo eu...
Todos no carro, a família deslancha pela avenida principal da cidade. Lá pelas tantas, a conversa fica um pouco mais amena..
-Que delícia, este ano vamos reunir toda a família.
-Sempre reunimos, a diferença é teu irmão que chegou hoje.
-Então, não é ótimo? E vamos conhecer a minha nova cunhada!
-Tomara que seja simpática, porque mal gosto ela tem...de namorado e de paladar!
-Ai, não fala isso do meu irmãozinho... até fiz as rabanadas que ele tanto gosta...
-Que, por sinal já devem estar frias, porque não to sentindo cheiro delas... que que este cara tá piscando farol pra mim desde lá do outro sinal?
-Sei lá...crianças, vocês não comeram nenhuma rabanada aí não, né?
-Que rabanada, mãe?
-A que está no seu colo, ora!
-Mas no meu colo tá o Chester...e o Rodrigo tá levando a travessa de peixe!
-Ai, meu Deus! As rabanadas! Pára, meu bem! Pára o carro!
-Parar por que, ô? Peraí...o cara tá emparelhando...que que é meu chapa, porque tu tá piscando tanto, é promoção de pisca-pisca pro Natal por acaso?
-Nâo, o mané! É pra avisar que a sua última rabanada acaba de cair ali na esquina e deve estar uma merda, porque um cachorro cheirou e não comeu, ah,ah,ah!
-Luciene, tu deixou a travessa de rabanadas em cima do carro? Tá maluca, mulher?
-Ai meu pai, esqueci!
-Olha, se não arranhou a lataria, já tô no lucro!
-Mãeeeee, o Rodrigo enfiou o dedo no nariz e depois no furingo do Chesteeeeer!
Ah, o natal, o natal!!


Fonte: O Autor
 
Por:  Manoel Manhães    |      Imprimir