Categoria Tragédia  Noticia Atualizada em 29-12-2008

Jovens contam como foi cruzeiro universitário
Isabella Baracat Negrato morreu dentro de navio. Programação incluía festas 24 horas por dia.
Jovens contam como foi cruzeiro universitário
Foto: www.g1.com.br

Um grupo de estudantes contou como foi o cruzeiro universitário em que a jovem Isabella Baracat Negrato, de 20 anos, morreu no dia 19 de dezembro. O navio deixou o porto de Santos com 1,8 mil passageiros a bordo - a maior parte deles estudantes. Os jovens dizem que a bordo esqueceram a rotina e alguns confessam que beberam bastante.

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"Um amigo meu tinha ido e falou que era demais. Vi os vídeos, as fotos e fui", conta o estudante de administração Vinicius da Silva, de 25 anos. "Tem gente que abusa. É aquele negócio: está no meio do mar e ninguém vai saber. Estou sozinha e minha mãe não está aqui. Aí, bebe demais e passa do limite", diz Lelissa Ghizze, de 23 anos, formada em naturologia.

Eles têm entre 20 e 27 anos. No grupo, há uma única novata de cruzeiro universitário. Uma das jovens, por exemplo, embarcou cinco anos seguidos. E todos têm a mesma opinião sobre a morte da estudante de direito Isabella Negrato. "Foi uma fatalidade", declara o estudante de educação física Fabrício Castro, de 27 anos.

A programação incluía festas 24 horas por dia. Quem embarcou estava disposto a se divertir praticamente sem pausa. "Dormi uma hora por dia. Eu ficava o dia inteiro na piscina. Então, eu pegava a tarde inteira de festa e a madrugada inteira de festa", conta Fabrício. "É aquela ansiedade: "vamos aproveitar, vamos aproveitar"", completa Lelissa.

Em alto-mar, os jovens esqueceram toda forma de rotina, como mostram vídeos da viagem. "Eu comi, quando eu entrei e quando sai, só", conta o estudante Vinícius. "No primeiro dia, eu só bebi e não comi nada", ressalta Fabrício.

Bebida cara

No bar do navio, uma garrafa de vodca custava cerca de R$ 160, uma caipirinha, R$ 20, e uma lata de cerveja, R$ 9. "Eu bebi no navio, em dinheiro, US$ 396 (cerca de R$ 950), em vodca com energético. Minha mãe vai me matar quando ouvir isso", diz um dos jovens. É proibido embarcar com bebida. Mas há quem tente. "Eu coloquei em um pote de xampu e ficou horrível", conta Fabrício.

E bebida não é o único problema. Dois jovens foram flagrados tentando embarcar no cruzeiro universitário com comprimidos de ecstasy. "Usamos cães farejadores, porque já sabíamos que é um cruzeiro problemático. A gente está sempre atento a tudo. Agora, evidentemente, um ou outro pode passar", diz Elias Carneiro Júnior, da Receita Federal.

Durante os quatro dias de viagem, vários jovens foram atendidos no centro médico do navio. Segundo um tripulante, dois relataram que tinham usado ecstasy. "Se a pessoa quer levar droga, ela coloca no tênis ou coloca dentro da roupa. Não tem como o segurança saber", revela Vinicius.

O cruzeiro universitário fez a viagem de ida e volta entre Santos e Rio de Janeiro, de 18 e 21 de dezembro. Para mulheres, o preço mínimo era de R$ 900 e para homens, R$ 1,9 mil. "Eu paguei o cruzeiro no começo do ano. Foi o ano inteiro contando os dias até chegar. Então, você fala: "nossa, agora é a hora de aproveitar tudo"", diz Lelissa.

O transatlântico tem 13 andares e 250 metros de comprimento. Isabella Negrato estava na cabine 10-104. Sem gravar entrevista, a amiga que dividia a cabine com ela disse que era o primeiro cruzeiro universitário das duas. Segundo a amiga, Isabella - que morava com os pais em Bauru, a 329 km de São Paulo - não usava drogas nem exagerava no álcool.

Os jovens contam que, apesar do preço alto das bebidas, as mulheres têm certos privilégios."Lá, é muito fácil beber, porque os homens pagam as bebidas. Os homens oferecem bebidas", declara Lelissa.

No primeiro dia de viagem, Isabella foi ao posto médico, porque tinha exagerado na bebida. No segundo dia, tropeçou e machucou o pé. No mesmo dia, às 16h30, passou mal na piscina. Às 17h10, recebeu atendimento médico. A estudante tinha convulsões.

Ela chegou ao ambulatório com as pupilas dilatadas e vomitando muito. Acabou sofrendo uma parada cardiorrespiratória. Os médicos usaram um desfibrilador para tentar fazer o coração voltar a bater, mas não deu certo. Em um último recurso, aplicaram uma injeção de adrenalina e também não funcionou.

A morte foi decretada às 19h10 do dia 19 de dezembro, dentro do centro médico do navio. A causa ainda não foi esclarecida, o laudo só deve sair no mês que vem. "A gente não tinha noção da proporção do que foi que ocorreu. Lá a gente não sabia de nada, não tinha informação", justifica Vinícius.

Trabalho minucioso

Em nota, a agência que fretou o navio e organizou o cruzeiro universitário alega que faz um minucioso trabalho de fiscalização e que 200 pessoas da equipe de apoio circulam por todas as dependências comuns do navio. O texto diz ainda que o preço alto das bebidas funciona como limitador para o consumo excessivo.

Regis Paiva, diretor da Central de Cruzeiros - uma outra empresa que também vende pacotes marítimos no Brasil -, diz que é comum os jovens perderem o controle. "Eu já vi sofá com furo de cigarro e carpete com furo de cigarro. Eu ouvi falar que rasgaram e queimaram cortina."

Tripulantes do navio em que Isabella Negrato morreu contaram já ter visto até móveis sendo jogados ao mar em outros cruzeiros. Autoridades portuárias prometem mais rigor para evitar o excesso de álcool e o uso de drogas.

"Só o clima das pessoas e a integração de conhecer gente nova já te dá o ânimo para você ficar dançando e para você ficar se divertindo", diz Vivane Ferreira, de 23 anos, e formada em educação física. "Você não precisa de bebida e não precisa de droga. Dá para você curtir numa boa", diz Mila Manzi, de 20 anos.

Jovens contam como foi cruzeiro universitário em que estudante morreu
Isabella Baracat Negrato morreu dentro de navio.
Programação incluía festas 24 horas por dia.


Fonte:

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Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir