Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 31-12-2008

UM ANO EM 2008 PALAVRAS
No come�o do ano, com o aumento do consumo chin�s e indiano e a subida no pre�o das commodities, a falta de comida no mundo parecia certa
UM ANO EM 2008 PALAVRAS
Foto: Paulo Araujo(Pauli)

No come�o do ano, com o aumento do consumo chin�s e indiano e a subida no pre�o das commodities, a falta de comida no mundo parecia certa. O pre�o das commodities desabou e o catastrofismo idem. O sucesso do etanol no mundo aumentou a �rea plantada de milho e cana-de-a��car, suas mat�rias-primas. Com o pre�o do barril de petr�leo abaixo dos 50 d�lares, ningu�m mais quer saber do etanol. Iniciada no fim de 2007, as transmiss�es da TV digital chegaram neste ano a capitais como Belo Horizonte e Rio de Janeiro, mas a TV digital ainda � fic��o.

Em fevereiro, a entrega do poder ao irm�o alimentou especula��es de que o ditador comunista cubano estaria � beira da morte. As �nicas pistas sobre seu estado de doen�a s�o imagens controladas e relatos de aliados como o ditador venezuelano � portanto, n�o confi�veis. Lembram-se do ditado: vaso que � ruim, n�o quebra?

Uma empres�ria goiana torturou durante dois anos uma menina de 13 anos que havia "adotado" prometendo oferecer-lhe estudo. Em 17 de mar�o a menina foi encontrada pela pol�cia na �rea de servi�o da patroa, com os bra�os erguidos, acorrentados a uma escada. Condenada a quinze anos de pris�o, a empres�ria afirmou que ao torturar a menina pensava estar "educando-a". Em 29 de mar�o, uma menina de 5 anos foi atirada pela janela do sexto andar de um edif�cio em S�o Paulo pelo pai, depois de ter sido asfixiada pela madrasta. O casal "amoroso" est� preso h� oito meses em penitenci�rias de Trememb� e deve ir a j�ri popular no primeiro semestre de 2009. O mundo ficou chocado com a hist�ria da austr�aca aprisionada por 24 anos num por�o pelo pai, um austr�aco que teve sete filhos com ela. Aos 42 anos, ela vive numa cl�nica psiqui�trica e o pai est� preso � espera de julgamento.

Em abril, o Brasil obteve o grau de investimento, conferido por ag�ncias de avalia��o de risco a pa�ses com capacidade e vontade de pagar sua d�vida externa. A crise liquidou a reputa��o das ag�ncias e o investment grade foi desmoralizado. 29 de maio dia hist�rico para a ci�ncia e para a justi�a brasileira. Por seis votos a cinco os ministros do Supremo Tribunal Federal decidiram-se pela libera��o do uso de c�lulas-tronco embrion�rias em pesquisas cient�ficas. No futuro elas poder�o dar origem � cura de doen�as como diabetes e Parkinson e possibilitar a recupera��o dos movimentos de parapl�gicos e tetrapl�gicos.

No comando da opera��o Satiagraha, o delegado da PF com nome greco-tupiniquim cometeu tantas ilegalidades e desvarios que acabou por facilitar a defesa do banqueiro baiano dos supostos crimes financeiros. Usou servi�os clandestinos de arapongas da ABIN e grava��es sem autoriza��o judicial. Seu relat�rio, com excesso de ret�rica e falta de sentido, teve de ser refeito. Apesar disso, leva a vida dando palestras e participando de homenagens do PSOL. Chegou a receber da filha do ministro da Justi�a uma medalha de honra ao m�rito e virou comendador. Lembram-se daquele operador de 31 anos, autor de um rombo de 7 bilh�es de d�lares dos cofres do banco franc�s Soci�t� G�n�rale? Pois �, o rapaz est� em liberdade condicional.

O ministro do Meio Ambiente, aquele dos coletinhos, comandou a apreens�o de 4200 cabe�as de gado numa reserva florestal no Par�. Depois de tr�s tentativas frustradas, o minist�rio leiloou os bois piratas por 1,3 milh�o de reais, menos do que gastou com a a��o pirot�cnica.

No dia 2 de julho o ex�rcito da Col�mbia libertou a franco-colombiana e mais quatorze seq�estrados que padeciam nas m�os dos guerrilheiros das Farc; ela, durante mais de seis anos. Os militares da opera��o Xeque-Mate passando-se por um grupo amigo que assumiria os ref�ns por ordens superiores, levaram os ref�ns sem disparar um �nico tiro. Deixaram com cara de bobos os integrantes das Farc e seus simpatizantes, notadamente o falastr�o ditador venezuelano. Gra�as aos �xitos contra os narco-guerrilheiros das Farc, o presidente da Col�mbia parecia estar a um passo de obter autoriza��o legal para tentar a re-reelei��o; por�m, a proposta de terceiro mandato foi vetada pelos deputados colombianos, mas ainda ser� apreciada pelos senadores.

Voc�s acham que j� tem muitos detentos no Brasil? Em julho chegou mais um, direto de M�naco. O ex-banqueiro foragido chegou ao fim de um processo de extradi��o de dez meses e ficou detido na penitenci�ria de Bangu 8, no Rio. Como teve um habeas corpus negado recentemente, deve continuar comendo lagosta do outro lado do muro. Por falar em detentos, aquele casal evang�lico, um bispo e uma bispa que foram condenados a dez meses de reclus�o e quatorze meses de liberdade condicional, por entrar nos Estados Unidos com d�lares n�o declarados, tiveram a extradi��o negada e vivem num condom�nio de luxo na Fl�rida.

O nosso presidente decidiu transformar a Secretaria da Pesca em minist�rio e anunciou a "reforma aqu�ria", mas o governo desistiu de criar o minist�rio por medida provis�ria e voltou � carga com um projeto de lei que quer aprovar em 2009. Quem � do mar, n�o enjoa! Em Pequim, a atleta do interior paulista, logo depois de pular 7,04 metros (um cent�metro a mais do que a atleta russa) e receber a segunda medalha de ouro do Brasil nas Olimp�adas, ligou para a filha de quatro anos e ouviu dela que preferia a medalha de prata.

A crise financeira mundial quebrou o banco centen�rio americano Lehman Brothers. A seguradora AIG e o Cibibank s� se salvaram ap�s a interven��o do governo. GM, Ford e Chrysler tamb�m pediram ajuda para n�o falirem. A crise corroeu metade do valor de mercado das bolsas no mundo. Foi-se a cren�a de que pa�ses emergentes como Brasil, R�ssia, �ndia e China sairiam imunes de um eventual abalo americano. Enquanto existiu, o per�odo de prosperidade tirou da mis�ria 50.000 pessoas por dia no mundo, alimentado principalmente por Estados Unidos e China (acumulava super�vits comerciais cada vez maiores e comprava t�tulos do tesouro americano). A valoriza��o excessiva e crescente de im�veis alimentou toda a crise at� que algu�m duvidou da premissa de que os im�veis continuariam sempre se valorizando e a desconfian�a come�ou a se alastrar at� estourar a bolha. No Brasil a "marolinha" come�ou a desgastar a blindagem brasileira: a economia que at� o terceiro trimestre crescia a taxas superiores a 6%, corre o risco de estagnar-se no in�cio de 2009.

Depois de tantas expectativas e at� receios de que pudesse provocar o fim do mundo, o acelerador de part�culas europeu inaugurado em setembro, que pretendia recriar as condi��es dos primeiros momentos depois do Bing Bang, funcionou dez dias e quebrou. S� voltar� a ser ligado no segundo semestre de 2009. Diziam que os cientistas estavam querendo brincar de Deus. Bom, pelo menos Deus criou o mundo sem necessidade de assist�ncia t�cnica.

Em outubro o pa�s inteiro acompanhou o mais longo caso de c�rcere privado da hist�ria de S�o Paulo. Um tresloucado de vinte e dois anos, com nome de dirig�vel, tomou como ref�ns a ex-namorada e uma amiga dela, ambas de quinze anos. Durante cinco dias ficaram enfurnados no apartamento da fam�lia da ex-namorada em Santo Andr�, no ABC paulista. At� hoje ningu�m entendeu como a pol�cia permitiu que a amiga voltasse para o cativeiro depois de ter sido libertada. Quando o Grupo de A��es T�ticas Especiais (Gate) resolveu invadir o local, demorou a romper a barricada armada na entrada da porta e permitiu que o criminoso disparasse contra as v�timas, causando a morte da ex-namorada e um ferimento na amiga.

A maldi��o que paira sobre a Argentina precede as malfeitorias da atual presidente e pode ser resumida numa palavra: peronismo. No governo do marido dela, quando o mundo bombava e quem tinha commodities no silo ganhava salvo-conduto para as maiores barbaridades, deu para disfar�ar. Com ela, ocorreu o contr�rio. Os pre�os descambaram, a irracionalidade come�ou a dar seus frutos apodrecidos, o conflito com os produtores agr�colas envenenou a fonte vital da riqueza argentina e n�o houve maquiagem que escondesse a infla��o de mais de 20%. At� as aposentadorias privadas foram garfadas. Os que podem voltam, amarguradamente, para o ref�gio de sempre: o d�lar. Debaixo do colch�o.

Uma das maiores calamidades j� registradas em Santa Catarina foi originada por uma combina��o catastr�fica de fatores meteorol�gicos e geogr�ficos e deixou boa parte do Estado debaixo d��gua. Em cinco dias, s� em Blumenau, ca�ram 300 bilh�es de litros de �gua � o suficiente para abastecer a cidade de S�o Paulo durante tr�s meses. Casas despencaram morro abaixo como se fossem de brinquedo, sob os olhares perplexos daqueles que viram fam�lia, amigos, lar e emprego desaparecerem em meio ao dil�vio. Ainda n�o se sabe quantos morreram, mas a solidariedade daqueles que participaram com doa��es e dos seis mil volunt�rios de diversas regi�es que rumaram para o estado foram um alento e um incentivo para come�ar a reconstru��o das cidades afetadas. Tamb�m em novembro o que parecia imposs�vel aconteceu: o filho negro de uma mulher branca com nome de homem, que nasceu no Hava�, foi criado na Indon�sia, tentou recuperar no Qu�nia a mem�ria do pai que mal conheceu, usou cabelo Black Power em Harvard acabou eleito presidente dos Estados Unidos. Sa�da do Alaska, ou do nada, uma mulher irrompeu no cen�rio e no imagin�rio pol�tico americano como uma for�a da natureza e a certa altura parecia disputar a Presid�ncia no lugar do sobrevivente do Vietn� e n�o a Vice-Presid�ncia. Autorizada sob pretexto falso (a exist�ncia de armas qu�micas e biol�gicas que amea�avam os Estados Unidos), a invas�o do Iraque redundou num bem verdadeiro (a queda do ditador iraquiano). Do ponto de vista moral ningu�m pode dizer se a vida dos iraquianos piorou ou melhorou depois da invas�o americana. Piorou, depois melhorou um pouco, piorou de novo e agora est� num dos pontos menos ruins. Pode piorar depois que os americanos forem embora em 2011, no presente acordo, ou antes, se o pr�ximo presidente americano mantiver o seu compromisso n�mero um de campanha.

O mundo era outro quando o presidente americano com nome de arbusto tomou posse em 20 de janeiro de 2001. Os americanos mais ricos aplicavam o dinheiro em institui��es s�lidas como o Leman Brothers ou a Merril Lynch, faziam seguros com a AIG. Os gastadores compuls�rios estavam descobrindo um jeito genial de produzir dinheiro refinanciando o im�vel pr�prio. Caso n�o o tivessem, compravam com o cr�dito f�cil e refinanciavam. As torres g�meas do WTC eram o cart�o-postal da pujan�a financeira de Nova York. O tal presidente tinha alguns cabelos brancos e duas id�ias: cortar impostos para as faixas de alta renda e melhorar a educa��o. A diferen�a hoje � que o mesmo sistema que gerou o presidente com nome de arbusto, a crise e tudo de ruim associado a ambos, se reinventou com o filho negro de uma mulher branca com nome de homem.

A "m�e do PAC" e escolhida de Lula para a sucess�o, Dilma Roussef, esteve �s voltas com o esc�ndalo dos cart�es corporativos, que desembocou no tal dossi� que n�o era dossi�, mas um "banco de dados" do governo FHC. Na �poca ela tinha 4% das inten��es de votos e no in�cio de dezembro cresceu 8%. O PAC terminou o ano convalescente, mas a ministra engatou uma quinta. A rainha da m�sica pop americana, aos 50 anos, conseguiu de novo ser not�cia o ano inteiro, faturou uns 650 milh�es de reais, a maior arrecada��o j� alcan�ada em turn� de artista individual e despencou no Brasil, encerrando a turn� em S�o Paulo depois de despencar literalmente no palco do Rio de Janeiro. J� em Marata�zes, o final do ano foi marcado pela inaugura��o do pontilh�o ou p�er da praia do centro, um novo cart�o-postal com a marca da administra��o que est� tamb�m em fase de conclus�o da nova sede da prefeitura. Esta obra, entretanto s� dever� estar conclu�da quando o novo prefeito assumir; um preparou a casa para o outro. Por falta de novidades, o S�o Paulo terminou o terceiro ano consecutivo como campe�o brasileiro e o Vasco est� com problemas de comunica��o; toda vez que algu�m liga para l�, tem de esperar um bom tempo at� concluir: caiu!

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Fonte: O Autor
 
Por:  Paulo Araujo    |      Imprimir