Categoria Trag�dia  Noticia Atualizada em 04-01-2009

Brasileiros relatam o terror de viver em Gaza e em Israel
Apesar de estarem em lados diferentes da fronteira, hist�rias s�o parecidas. A �rabe Laila Sahanin e o israelense Fred Haiat pedem a paz em Gaza.
Brasileiros relatam o terror de viver em Gaza e em Israel
Foto: G1

Dois brasileiros que vivem na regi�o do conflito entre o ex�rcito israelense e os guerrilheiros do Hamas relatam os momentos de terror e medo que permeiam o dia a dia. Apesar de estarem de lados diferentes da fronteira, a rotina de ambos � igualmente tensa e desumana.

"A gente nunca sabe o que vai acontecer amanh�. Hoje, posso sair da minha casa para estudar e, de repente...", conta o estudante Fred Haiat, que mora em Ashkelon, sul de Israel, cidade na mira dos m�sseis do Hamas, a fac��o palestina que controla

a Faixa de Gaza.

"Vivemos em constante medo, muito medo", diz a educadora Laila Farid Sahanin, que mora em um campo de refugiados em Gaza, territ�rio arrasado pelas bombas israelenses na �ltima semana.

Laila e Fred s�o dois brasileiros separados por um conflito que j� matou mais de 500 pessoas em nove dias, a maioria delas palestina.

"Eu trabalhava em uma creche, cuidando de crian�as, e tive de parar para cuidar do meu pai. J� estou h� seis anos aqui", conta Laila. O pai dela, Farid Sahanin, diab�tico e portador de problemas psiqui�tricos, deixou mulher e dois filhos em S�o Gon�alo, no Rio de Janeiro. Ele quer ir embora, mas n�o consegue porque as fronteiras de Gaza est�o fechadas h� anos.

"Aqui n�o tem nada. Deus me livre! Aqui s� tem bomba para jogar em cima de n�s. Eu quero voltar para o Brasil, quero que a embaixada brasileira ou o consulado acerte tudo para eu ir embora. Eu vou morrer no Brasil, se Deus quiser", diz Farid Sahanin.

"Ele est� querendo voltar, mas eu n�o tenho vontade. Eu queria morrer, em mart�rio aqui, como eles. Tenho honra de morrer como eles", diz Laila, que divide um terreno com o pai e o irm�o. Cada um tem sua pr�pria casa. Farid Sahanin mora com a atual esposa.

"Aqui est� um frio terr�vel", diz Laila, que sofre com o inverno em Gaza sem aquecimento nem luz na casa. Para piorar, os vidros das janelas quebraram com o estrondo das bombas e foram colocados pl�sticos no lugar para tentar diminuir o frio. "Todas as torneiras est�o sem �gua. N�o tem g�s para fazer um chazinho para as visitas. Em uma melhor ocasi�o a gente faz", diz Laila.

A menos de 10 quil�metros de dist�ncia da casa de Laila, o tamb�m brasileiro Fred vive o cotidiano de guerra em Israel. Ele mora em Ashkelon e aluga um apartamento que ocupa parte de uma casa.

"� um quarto e sala, com uma cozinha pequena", descreve o estudante de 28 anos, que h� cinco anos mora em Israel. "Passo a maior parte do tempo no meu quarto. Eu vim para estudar. Tenho que conseguir meu diploma de engenharia. Agora cancelaram as aulas. Faz dois dias que caiu um foguete do lado da minha faculdade. Por isso, ela foi fechada".

Fred tem conforto, mas n�o tranquilidade, pois tem de se abrigar toda vez que soa o alarme antim�sseis. "A gente vai para um lugar subterr�neo embaixo de uma escada. L� as paredes s�o bem protegidas. Eu tenho 30 segundos para descer a escada. Vou para l�, abaixo, ponho a m�o na cabe�a e espero escutar o barulho da bomba. Da� eu volto e posso continuar a fazer as coisas que eu estava fazendo em casa".

Ningu�m se arrisca nas ruas de Ashkelon, que ficam desertas na maior parte do tempo. "Geralmente, as crian�as tinham que estar brincando", diz ele. "Mas tem pouqu�ssimos carros, os �nibus foram cancelados e as lojas est�o fechadas. Se eu quiser comprar p�o ou leite, tenho que ir para o outro lado da cidade".

At� o com�rcio ao ar livre foi proibido e um feirante desavisado teve de voltar para casa. "Ele veio com frutas. � uma pena, porque vai perder tudo. As frutas v�o apodrecer", lamenta Fred. "Um foguete que caiu destruiu um carro completamente. Por sorte, a mulher escutou a sirene e saiu do carro. Por todo lado, s� restam peda�os do carro. D� at� para ver um peda�o de sapato de mulher e uma sand�lia de crian�a".

Na cidade de Gaza, as explos�es tamb�m tiram o sono de Laila. "A gente n�o tem como dormir mais. As crian�as ficam chorando. Acordamos assustados com tudo que acontece ao redor", conta. "Tenho saudade de todas as coisas do Brasil. Chuchu na �gua e sal, por exemplo, ou suco de maracuj�. Minha m�e pensa em me levar para l�, para ajud�-la em sua pequena confec��o. Mas eu gostaria de morrer aqui tamb�m. Porque aqui eu seria mart�rio. L� n�o. E mart�rio me daria uma recompensa muito grande pr�ximo ao nosso senhor", justifica Laila.

De volta Ashkelon, o alarme soa por tr�s vezes em menos de 15 minutos e todos correm para um abrigo antia�reo. "Estamos dentro de uma prote��o contra foguete, j� est� virando uma rotina", diz Fred. "Tem momentos em que eu penso em voltar para o Brasil, mas ainda tenho esperan�a de que aqui vai ser um lugar muito bom para morar".

De volta � casa de Laila, na Faixa de Gaza, as not�cias n�o s�o boas. "Hoje � o s�timo dia de bombardeio. Esperamos que n�o passe de uma semana, que j� � muito tempo. Esta noite foi a pior de todas", conta. "Trouxeram a luz por algumas horas. Deu para fazer alguns p�es rapidinho e fervemos �gua para conservamos na garrafa", conta.

Enquanto Laila mostra o quintal da casa, barulho forte assusta a todos. "� um m�ssil - e dos grandes. � na redondeza. Toda noite ouvimos esse som. Nem dormimos. Ficamos tremendo, porque pode vir para cima da gente. Guerra s�o l�grimas", afirma Laila.

Um de cada lado da fronteira, os brasileiros trocam mensagens de esperan�a e paz: "Espero que isso termine e que a Laila se cuide. Tenta se cuidar", diz Fred. "Que a paz que Ele colocou no nosso cora��o, Ele coloque no seu e de todos os israelenses a�, para que eles n�o continuem com isso", deseja Laila.

Brasileiros relatam o terror de viver em Gaza e em Israel
Apesar de estarem em lados diferentes da fronteira, hist�rias s�o parecidas.
A �rabe Laila Sahanin e o israelense Fred Haiat pedem a paz em Gaza.


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Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir