Categoria Geral  Noticia Atualizada em 21-01-2009

Mapa participativo inédito expõe os impactos do avanço da soja sobre a floresta
Mapeamento comunitário em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Ruarais de Santarém.
Mapa participativo inédito expõe os impactos do avanço da soja sobre a floresta
Foto: www.greenpeace.org

SANTARÉM (PA), BRASIL — Comunitários de Santarém e Belterra produzem mapa participativo baseado em imagens de satélite e conhecimento tradicional

Um mapa inédito, com os impactos da produção de soja na região oeste do Pará, foi lançado nesta sexta-feira por comunidades tradicionais de Santarém e Belterra a bordo do Arctic Sunrise, navio do Greenpeace. O trabalho identificou os principais pontos de desmatamento e outros problemas associados à expansão desordenada da soja na região, como o assoreamento e contaminação de igarapés por agrotóxicos, bloqueio de acessos tradicionais da população local pelas plantações e o desaparecimento de comunidades tradicionais.

O projeto mapeou ainda 121 comunidades locais, algumas das quais nunca incluídas em qualquer outro mapa. A iniciativa, apoiada pelo Greenpeace e Projeto Saúde e Alegria (PSA), capacitou mais de 50 lideranças de 28 diferentes comunidades no uso de GPS e interpretação de imagens para mapear e documentar os impactos da expansão da soja na região, e foi liderada pelos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) de Santarém e Belterra.

"Eu vejo o mapa como uma imagem de um microscópio porque a gente vê nele aquilo que a gente costumava não ver", disse um comunitário que participou do mapeamento e que não quis ser identificado.

As comunidades tradicionais da Amazônia detêm um vasto conhecimento dos espaços que ocupam. Em uma região marcada pela falta de governança, esse conhecimento é crucial para a defesa de territórios e dos recursos naturais.

"Ao unir conhecimento tradicional a técnicas modernas de mapeamento, os povos da floresta estão mais preparados para lutar pelos seus direitos e participar da gestão de seus próprios territórios", disse Raquel Carvalho, da campanha da Amazônia do Greenpeace.

"Esse tipo de iniciativa permite que os comunitários produzam seus próprios mapas, fazendo um contraponto importante à inexistência desse tipo de informação – oficial ou não."

Além de fortalecer o conhecimento tradicional, o mapa é um retrato atual dos impactos da soja na região.

"A mitigação destes impactos deve ser incorporada às análises do Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) do porto graneleiro da Cargill, que ainda aguarda audiência pública", disse Raquel.

De acordo com os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), até 2002, o cultivo de soja no estado do Pará ocupava cerca de dois mil hectares. No ano seguinte, após a instalação do porto da Cargill em Santarém, a área cultivada saltou para 35 mil hectares. Essa expansão acelerada da soja na região ocorreu em várias outras áreas do bioma e foi alvo de intensa campanha do Greenpeace, que resultou na assinatura da Moratória da Soja, um compromisso assumido pela Abiove (Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais) de não comercializar soja plantada em novos desmatamentos a partir de agosto de 2006.

Ainda que tenha obtido resultados positivos, a moratória se limita a conter a abertura de novas áreas e não elimina os demais impactos da produção do grão dentro do bioma – principalmente na área de influência direta do porto –, nem pretende ser uma solução definitiva.

"A moratória é a melhor estratégia para reduzir o avanço do desmatamento sobre o bioma Amazônia pelo menos até que os mecanismos de governança necessários estejam implementados", afirma Raquel Carvalho.

O avanço da fronteira agrícola é uma das principais causas de desmatamento, acarretando em perda de biodiversidade e recursos naturais, deslocamento de populações tradicionais e aquecimento global. A destruição das florestas e mudanças no uso do solo, principalmente na Amazônia, são responsáveis por 75% das emissões brasileiras de gás carbônico, colocando o país como o quarto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo. A floresta amazônica é de fundamental importância para o equilíbrio do clima global. A manutenção da cobertura florestal tropical pode evitar que 800 milhões de toneladas de carbono sejam liberadas na atmosfera por ano.

Salvar o planeta. É agora ou agora.

O lançamento do mapa comunitário faz parte da expedição do Greenpeace Salvar o Planeta. É Agora ou Agora, para alertar a população brasileira sobre os problemas causados pelo aquecimento global e pressionar os governos a tomarem medidas urgentes contra os impactos das mudanças climáticas.

Para fazer a sua parte, o Brasil deve se comprometer com metas setoriais de redução de gases do efeito estufa, zerando o desmatamento da Amazônia até 2015, promovendo fontes renováveis de energia e eficiência energética e implementando uma rede de áreas marinhas para proteger os oceanos.

Mapeamento comunitário em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Ruarais de Santarém. As comunidades tradicionais da Amazônia detêm um vasto conhecimento dos espaços que ocupam.


 
Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir