Categoria Economia  Noticia Atualizada em 23-03-2009

Nano o para-choque é feito de plástico
O para-choque é feito de plástico, colado na carroceria
Nano o para-choque é feito de plástico
Foto: Ratan Tata e o Nano, o carro mais barato do mundo

Há seis anos quando o empresário indiano Ratan Tata prometeu que faria um carro que custaria cerca de 2 500 dólares em seu país, muita gente achou que ele estava blefando. Mas ele chegou lá. O Nano acaba de ser lançado oficialmente e a versão de entrada custará a partir de 2.254 dólares (ou seja menos de 5 400 reais, um valor inacreditável no Brasil).

Os truques do Nano para ser o carro mais barato do mundo
Veículo da indiana Tata chega ao mercado com preços a partir de US$ 2.254.
Ratan Tata e o Nano, o carro mais barato do mundo

Para entender como isso foi possível, EXAME entrou dentro do Nano para analisá-lo e conversou com dois dos pais do projeto que fez o automóvel mais barato do mundo, o indiano Girish Wagh e o inglês Clive Hickman.

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“Um dos nosso segredos foi cortar dramaticamente o número de peças”, diz Hickman. Um exemplo: a alavanca ao lado do volante aciona o farol e, em outro pedaço, o limpador do para-brisa. Confira outras astúcias que explicam como este modelo chega tão barato às concessionárias da Índia.

Trabalho barato
O salário da mão-de-obra indiana é um dos mais baixos do planeta: um operário especializado ganha cerca de 550 reais por mês.

Economia no motor
Na versão indiana, o motor do Nano tem 2 cilindros, 624 centímetros cúbicos e só 35 cavalos. Calcula-se que o coração mecânico deste Tata custe barato, cerca de 700 dólares. Em compensação, bebe pouca gasolina (23,6 km/litro).

Equipamento enxuto
O modelo básico deste carro sai de fábrica sem rádio, direção com assistência, vidros e travas elétricas. Também esqueça ar-condicionado e aquecedor, inexistentes.

Caça às peças
Para economizar custos, os indianos foram fundo nos cortes de peças redundantes: nesse carro só há um limpador do vidro parabrisa, três parafusos (e não quatro) sustentam suas rodas e o tanque de gasolina fica sob o capô. A vantagem? Não precisa de tampa para proteger o reservatório. Com isso houve uma redução drástica no número de peças para montá-lo.

Apenas o básico
Esqueça o conta-giros. Neste automóvel os instrumentos são básicos: velocímetro, odômetro e medidor de combustível. E o acionamento do limpador de parabrisa e dos faróis é feito pela mesma alavanca. E o estepe não é um pneu como os outros: só serve para rodar até a próxima borracharia.

De grão em grão
Para economizar 10 dólares, os engenheiros do Nano eliminaram mecanismos para ajustar o ângulo dos faróis em função do peso do carro. Em um ano de produção normal, este detalhe significará uma economia de 3,5 milhões de dólares.

O reino do plástico
Como era de se esperar, não há luxo no interior: o painel e o revestimento das portas são de plástico, os tapetes de borracha e os bancos são duros. É menos bonito e mais desconfortável. Mas custa menos.

Meu nome é Pé-de-Boi
A transmissão com quatro marchas é contínua. Menos complexa, precisa de menos dinheiro para ser feita.O mesmo raciocínio vale para os freios, que não são a disco, mas a tambor (e sem ABS, é claro)

Objetos expostos
Esqueça porta-luvas, porta-trecos e também protetor para escamotear a bagagem no compartimento traseiro. No Nano isso seria um luxo.

Volante duro
Mesmo nos modelos mais luxuosos, a direção não tem assistência elétrica ou hidráulica. Em compensação o volante tem um raio curto de manobra

Operação cola
O para-choque é feito de plástico, colado na carroceria

Processo enxuto
A pintura entra uma vez no forno, em vez das convencionais duas. É um terço de economia em comparação aos modelos convencionais

Entrevista

A nova cara do poder global

Dono de um dos maiores conglomerados industriais do planeta, o indiano Ratan Tata é o símbolo dos empresários de países emergentes que estão conquistando o mundo

O trânsito na região de Fort, o coração financeiro de Mumbai, na Índia, estava mais complicado que o de costume na tarde quente e abafada do dia 14 de agosto. Uma das principais ruas do bairro tinha sido bloqueada pela polícia, e curiosos se aglomeravam em frente a um suntuoso prédio em estilo vitoriano construído em 1922. Na entrada, o tapete vermelho remetia ao clima das festas de lançamento dos filmes de Bollywood, a popular indústria de cinema do país. A estrela do dia chegou a bordo de um Mercedes, sendo cercada imediatamente pela multidão de jornalistas que a aguardavam. A pessoa capaz de despertar tanto interesse era o empresário Ratan Tata, de 69 anos, dono do grupo Tata. Ele estava ali para cortar a fita de inauguração da nova sede da Tata Consultancy Services (TCS), a maior software house da Ásia e peça importante da miríade de negócios que assumiu, nos últimos anos, a forma de um dos principais conglomerados industriais do planeta.

Até 2010, apenas a TCS, com seus 100 000 funcionários espalhados pelo mundo, deve faturar 10 bilhões de dólares por ano. Quando chegar a esse patamar, ela será uma das dez maiores do mundo em seu mercado. A nova sede corporativa da empresa, instalada em um edifício tombado pelo patrimônio histórico, manteve a fachada antiga do prédio, mas o interior foi totalmente modificado. As mesas dos funcionários são equipadas com computadores de última geração e as paredes são decoradas com obras de artistas indianos. As 300 pessoas que trabalham ali têm à disposição uma sacada com vista para um parque da cidade, onde podem relaxar durante o expediente. Para Tata, voltar àquele prédio é como retornar para casa. "Cresci aqui neste bairro", disse ele, emocionado, durante a inauguração. "Tenho ótimas memórias daqui."

Mais do que o maior empresário indiano, Ratan Tata é a personificação de uma mudança sem precedentes do capitalismo mundial. Pouco tempo atrás, o poder de homens como ele estava confinado aos limites do próprio país, no máximo de sua região. É como se disputassem uma espécie de campeonato da segunda divisão da economia mundial. Graças ao aprofundamento da globalização, em pouco mais de uma década esse poder -- observado sob a forma de aquisições de companhias tradicionais, expansões e investimentos -- espalhou-se pelo planeta. Hoje, Tata -- assim como alguns outros indianos, chineses, russos, mexicanos e brasileiros -- desperta a admiração e o temor dos empresários de países muito mais desenvolvidos. "Tata é a mistura indiana do ex-presidente da GE Jack Welch com o investidor Warren Buffett", disse a EXAME Robyn Meredith, correspondente da revista americana Forbes em Hong Kong e autora do livro O Elefante e o Dragão, sobre o crescimento da Índia e da China. Quando o empresário assumiu o comando do grupo Tata, em 1991, as vendas somavam 3 bilhões de dólares por ano e o risco de ser engolido por multinacionais estrangeiras era tido como alto. Dezesseis anos depois, o grupo possui 96 empresas, espalhadas por 120 países. Emprega 246 000 pessoas -- 13% dos postos de trabalho oferecidos pelas 500 maiores empresas do Brasil segundo o anuário Melhores e Maiores, de EXAME. Seu faturamento, de 48 bilhões de dólares, equivale a 4,8% do PIB indiano e supera o de gigantes do capitalismo ocidental, como a americana Microsoft e a alemã Bayer.

EM SEU PAIS, TATA É CONHECIDO como o chairman da Índia industrial. Pudera. Na economia indiana, quase tudo leva o carimbo de seu grupo -- carros, aço, chá, energia elétrica, sistemas de ar condicionado, telefones, relógios de pulso, laboratórios, construtoras, software, seguros de vida e de saúde, entre outros produtos e serviços. Além disso, o apogeu econômico do país está diretamente ligado à ascensão do grupo. Tata foi alçado ao comando na época em que a Índia começava a se abrir para o mundo. Uma década e meia depois, o país avança a uma taxa de 7% ao ano e desponta como uma das mais promissoras economias do planeta. O surgimento de um pujante mercado consumidor interno, calcado numa população de 1,1 bilhão de pessoas, impulsionou alguns de seus negócios, assim como a elevação do preço das commodities e a expansão da vizinha China aceleraram outros. Maior e mais forte, o grupo Tata passou de presa a caçador: desde 2000, comprou 22 empresas no exterior, com um investimento total de 14,6 bilhões de dólares (veja quadro na pág. 29). Hoje, metade da receita do grupo vem de outros países. Sua maior cartada no processo de internacionalização foi no início deste ano, com a compra da siderúrgica anglo-holandesa Corus, por 13 bilhões de dólares. Além dos valores envolvidos, o negócio chamou a atenção pelo caráter simbólico -- o de uma empresa da ex-colônia avançando para conquistar uma jóia industrial de seu antigo dominador.

A negociação da Corus, siderúrgica com mais de 40 anos e faturamento de 19 bilhões de dólares, expôs ao mundo ocidental uma das características de Tata, em particular, e dos empresários asiáticos emergentes, em geral: a agressividade. No final de 2006, a Tata Steel, braço siderúrgico do grupo indiano, e a brasileira CSN disputaram ferrenhamente a compra da Corus. Em jogo, a produção anual de 20 milhões de toneladas de aço e o quinto lugar no mercado mundial. Depois de oito propostas abertas, a contenda seria finalmente decidida num envelope fechado. Trancado num quarto de hotel ao lado de cinco executivos do grupo, Tata deu aval para a oferta final: 12,16 dólares por ação. Quando a proposta dos brasileiros foi aberta, ela era 10 centavos de dólar inferior. No dia 31 de janeiro, os indianos fecharam o negócio por 13 bilhões de dólares -- a maior compra de uma empresa estrangeira na história da Índia. Em seu escritório na Bombay House, sede do grupo desde 1926, Tata sorri quando fala sobre a disputa com Benjamin Steinbruch, controlador da CSN. "Por causa da CSN, fomos obrigados a desembolsar 1 bilhão de dólares a mais pela Corus", disse ele a EXAME. "Eles nos deram muito trabalho."



Fonte: http://portalexame.abril.com.br
 
Por:  Crispim José Silva    |      Imprimir