Categoria Politica  Noticia Atualizada em 04-06-2009

Obama deixa Egito rumo à Alemanha após discurso no Cairo
O presidente americano, Barack Obama, se prepara para embarcar no Air Force One no aeroporto internacional do Cairo
Obama deixa Egito rumo à Alemanha após discurso no Cairo
Foto: AFP

CAIRO, Egito (AFP) — O presidente americano, Barack Obama, deixou nesta quinta-feira às 18H30 (12H30 de Brasília) o Egito, com destino à Alemanha, após defender um "novo começo" entre os EUA e o mundo muçulmano, em um discurso no Cairo elogiado pelo Vaticano e pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon.

Antes de partir, Obama fez uma visita de mais de uma hora às pirâmides de Gizé.

"Esta é a visita oficial mais longa (já realizada) às pirâmides", de cerca de uma hora e 15 minutos, declarou o diretor de antiguidades egípcias, Zahi Hawas, citado pela agência egípcia Mena.

Para esta ocasião, Hawas indicou que foram aplicadas medidas de segurança excepcionais no planalto de Gizé (ao sul do Cairo), um dos locais mais famosos do mundo.

A maior das três pirâmides é considerada a sepultura do faraó Keops, construída há mais de 4.500 anos, durante a quarta dinastia. A pirâmide de Keops é a única das sete maravilhas do mundo que permanece relativamente intacta.

Mais cedo, em discurso na Universidade do Cairo, Obama propôs que se vire a página de "um ciclo de desconfiança e de discórdia" entre os Estados Unidos e o mundo muçulmano, assim como o fim do conflito entre israelenses e palestinos.

"Este ciclo de desconfiança e de discórdia deve acabar", afirmou o presidente americano, em um discurso de ruptura com a era Bush destinado a 1,5 bilhão de muçulmanos.

"Vim buscar um novo começo entre os Estados Unidos e os muçulmanos através do mundo, um começo baseado no interesse mútuo e no respeito mútuo, um começo baseado nesta verdade de que os Estados Unidos e o islã não se excluem", disse Obama diante de 3.000 pessoas.

"Enquanto nossas relações forem definidas por nossas divergências, daremos o poder aos que espalham o ódio antes da paz, aos que promovem o conflito ao invés da cooperação", declarou.

"O discurso pronunciado hoje por Obama é muito significativo, e talvez importante para estabelecer novas relações entre os Estados Unidos e o mundo muçulmano", à agência Ansa Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano.

Ban Ki-moon "recebeu calorosamente esta mensagem de paz, de compreensão, e de reconciliação", segundo um comunicado emitido por sua assessoria de imprensa.

O secretário-geral considera este discurso como "um passo essencial na direção da reaproximação e da promoção da compreensão entre as culturas, que é um dos principais objetivos das Nações Unidas", diz o texto.

Ele "espera que a mensagem do presidente Obama permita a abertura de um novo capítulo nas relações entre os Estados Unidos e o mundo islâmico, e tenha um impacto positivo no processo de paz no Oriente Médio e na resolução de diversos conflitos na região", finaliza o documento.

Citando o Alcorão, Obama afirmou que quer expressar totalmente suas ideias sobre todos os temas que provocaram atritos entre os Estados Unidos, como líder do Ocidente, e o mundo árabe e muçulmano.

A discórdia tornou-se mais intensa depois de episódios como a guerra no Iraque, o escândalo da prisão de Abu Ghraib no Iraque, o campo de Guantánamo ou a prioridade à luta antiterrorista do governo Bush após os atentados de 11 de setembro de 2001.

Obama também ressaltou que o mundo muçulmano deveria lutar contra os "preconceitos" antiamericanos, mencionando as questões espinhosas dos Direitos Humanos, do papel da mulher e do "livre arbítrio" nas sociedades muçulmanos.

Sobre o conflito entre israelenses e palestinos, ele considerou que era crucial encontrar uma saída negociada em favor de dois Estados como "única solução" após décadas de impasse, de "lágrimas" e de "sangue".

Atacando o negacionismo do Holocausto e frisando a "ligação inquebrantável" entre seu país e Israel, ele afirmou que o tempo chegou para a suspensão dos assentamentos judaicos na Cisjordânia.

Em Israel, a visita de Obama causou apreensão, com as autoridades temendo que a aproximação com o mundo árabe seja promovida em detrimento de seus vínculos privilegiados com Washington. O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu se reuniu com assessores em Jerusalém para preparar uma reação ao discurso de Obama.

A Autoridade Palestina imediatamente saudou como um "bom começo" o discurso de Obama, considerando-o uma ruptura com o governo Bush.

"É um discurso claro e franco. Representa um passo político inovador e um bom começo sobre o qual construir", declarou à AFP Nabil Abu Rudeina, porta-voz do presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas.

Já o movimento islâmico palestino Hamas, considerado uma organização terrorista por Washington, e que controla a Faixa de Gaza, frisou uma "mudança sensível" no discurso de Obama em relação ao mundo muçulmano, mas indicou também "contradições".

O discurso de Obama "contém muitas contradições, apesar de refletir uma mudança sensível", declarou à AFP o porta-voz do Hamas, Fawzi Barchum.

"É um discurso que se apoia nos sentimentos e está repleto de cortesias, o que nos faz pensar que tenta melhorar a imagem dos Estados Unidos no mundo", completou.

Obama defendeu claramente a política americana e de seus aliados no Afeganistão, como uma espécie de autocrítica quefez da guerra no Iraque, prometendo uma América aberta à diplomacia e à aproximação multilateral.

Mencionando "questões específicas" que muçulmanos e Estados Unidos devem "enfrentar finalmente juntos", ele afirmou que "a primeira questão que devemos enfrentar é o extremismo violento sob todas as suas formas".

O líder da rede extremista Al-Qaeda, Osama Bin Laden, e seu braço direito, Ayman al-Zawahiri, haviam criticado Obama, classificando a visita "de operação de relações públicas".

A propósito do polêmico programa nuclear iraniano, o presidente dos Estados Unidos afirmou que o confronto com Teerã está "em um ponto decisivo", mas pediu que o Irã "supere décadas de desconfiança", reconhecendo antigos erros americanos.

"Estamos dispostos a seguir adiante sem condições prévias com base no respeito mútuo", lançou aos dirigentes iranianos.

"Trata-se de impedir uma corrida armamentista nuclear no Oriente Médio que poderá levar essa região e o mundo a um caminho extremamente perigoso", afirmou Obama.

Procedente da Arábia Saudita, outro aliado importante dos Estados Unidos e berço do Islã, Obama se reuniu durante a manhã com o presidente egípcio Hosni Mubarak, de 81 anos, considerado por seus partidários como um pilar da estabilidade regional e por seus críticos como um autocrata no poder há 27 anos.

Nesta noite, ao término de uma jornada já classificada de histórica pela imprensa egípcia, o presidente americano deixará o Oriente Médio com destino à Europa. Na sexta-feira, visitará a Alemanha e no sábado participará na França das cerimônias em ocasião do 65º aniversário do Desembarque aliado na Normandia, que pôs fim à Segunda Guerra Mundial.

Em Bruxelas, o chefe da diplomacia europeia, Javier Solana, considerou que o discurso de Obama "abre uma nova página nas relações com o mundo árabe-muçulmano".

Na Alemanha, Obama visitará o campo de concentração de Buchenwald e, depois, viajará para a Normandia, na França, onde assistirá às cerimônias pelo 65º aniversário do Desembarque, que pôs fim à 2ª Guerra Mundial.

Obama deixa Egito rumo à Alemanha após discurso no Cairo.

O presidente americano, Barack Obama, se prepara para embarcar no Air Force One no aeroporto internacional do Cairo.

Fonte: AFP
 
Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir