Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 12-06-2009

QUE DOCE AMARGO TEM ESSA CANA...
Séculos se passaram, mas os engenhos de açúcar do Terceiro Milênio continuam a açoitar os escravos de agora...
QUE DOCE AMARGO TEM ESSA CANA...

Séculos se passaram, mas os engenhos de açúcar do Terceiro Milênio continuam a açoitar os escravos de agora... Ainda mais ardentes brotam da escuridão, fornalhas tremendas. Pessoas gemem, têm seus sonhos castrados, e no ‘descanso’, inferno e céu se confundem. Cena mais dantesca não há: calor, suor, coceira, carvão... e sonhos, esperanças, mesmo que em meio a dores.

Ainda sem data para acabar, a hipocrisia da sociedade brasileira reina, soberana, majestosa, imponente. E ressoam entre os canaviais, gargalhadas da desilusão. Pouca coisa mudou! Impera na mão-de-obra, apesar do avanço da tecnologia, a força braçal dos negros e de uns poucos brancos que também ficam negros no findar de um dia de labuta e do contato exacerbado com a fuligem e com o carvão da cana queimada ao grudar nos seus suados corpos.

Num passado não muito remoto os trabalhadores eram obrigados a cumprir uma jornada árdua de sol a sol. Os cortadores de cana de hoje, bóias-frias, acordam à madrugada, uns até preparam suas geladas marmitas e voltam extenuados, moídos como a cana. Isso para acrescentarem alguns centavos que pensam em levar pra casa quando regressarem ao lar.
Quanta ironia: tanta garapa e eles passam sede!

Por essas bandas de cá, ou por aquelas bandas de lá, os ‘andorinhas’ são submetidos situações deprimentes, subumanas, vegetativas, sem acesso à informação, sem cultura, simplesmente pagam as despesas contraídas nos alojamentos (senzalas) de um celeiro chamado Brasil. A quem de fato interessa a não intervenção?

Por ironia do destino, aos cortadores de cana-de-açúcar falta o doce e ainda têm de pagar pelo álcool que não consomem, – nem embriagar têm o direito. Que dignidade! Porque bêbados é melhor para encarar a realidade, porque a lucidez deprime, como afirma minha cara e amiga poeta marginal Luciana Maximo E a história se repete: muitos usineiros utilizam o pretexto do desemprego para ‘laçar’ o trabalhador em favor de seus interesses. Que doce amargo tem essa cana!!!

Fonte: O Autor
 
Por:  José Geraldo Oliveira (DRT-ES 4.121/07 - JP)    |      Imprimir