Categoria Ciência e Saúde  Noticia Atualizada em 02-07-2009

Idosos são minoria entre os casos da nova gripe, mostram
Doença infecta mais crianças e mata mais jovens adultos. Britânico e brasileiro dizem que taxas são parecidas em todos os países.
Idosos são minoria entre os casos da nova gripe, mostram
Foto: AFP

A taxa de mortalidade da gripe A (inicialmente chamada de "gripe suína") é semelhante ao de uma gripe comum, mas uma coisa tem intrigado os médicos que acompanham a evolução da pandemia. O vírus parece, até o momento, atingir menos aqueles que os especialistas esperavam ser as suas maiores vítimas: os idosos.

A maior parte das mortes pela doença tem ocorrido em jovens adultos e a maioria das infecções, em crianças, segundo dois estudos separados -- um encomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e realizado por cientistas britânicos e outro feito por pesquisadores americanos e mexicanos. O G1 conversou com um dos autores do primeiro estudo, que foi divulgado no dia 19 na revista especializada "Science". O segundo trabalho foi publicado nesta segunda-feira (29) no "New England Journal of Medicine".

Sempre que surge um novo vírus de gripe, os sistemas de saúde alertam sobre os riscos para os mais velhos. Ao lado das crianças menores de dois anos, as pessoas de mais idade são, em geral, as principais vítimas fatais desse tipo de vírus e também quem sofre mais com complicações respiratórias. É por isso, por exemplo, que o Ministério da Saúde oferece vacina contra a gripe comum para maiores de 65 anos gratuitamente todos os anos.

A gripe A, no entanto, foge à regra. "Uma das coisas que mais chamam a atenção neste vírus é que, ao contrário da gripe sazonal, ele não tem infectado tanto as pessoas mais velhas", explicou ao G1 o infectologista Christophe Fraser, do Imperial College, de Londres – coautor do estudo da OMS. "A maioria das infecções atinge crianças e a maior parte dos óbitos ocorre em jovens adultos", afirma Fraser.

Isso não significa, é claro, que os idosos são imunes à gripe. Há casos de pessoas mais velhas infectadas, mas eles são minoria. A vigilância e os cuidados precisam ser mantidos, principalmente por que a gripe comum e a nova gripe são prevenidas da mesma maneira e a gripe comum tem mortalidade alta entre os mais velhos.

É difícil obter números fechados sobre as mortes, por que a doença segue avançando e os cientistas conseguiram analisar até agora apenas os números iniciais da pandemia. Mas os dados levantados por pesquisadores da Universidade do Arizona, nos EUA, e do Ministério da Saúde do México mostram a mesma coisa do estudo da OMS: a maior parte das mortes ocorreu entre pessoas com idades entre 5 e 59 anos – 87% dos 2155 casos de contaminação (com 100 mortes) levantados pelo grupo. Para comparação: apenas 17% das mortes por gripe comum entre 2006 e 2008 foram de pessoas nessa faixa etária.

O mesmo está sendo observado no Brasil. A única pessoa a morrer de gripe A no país até agora é um caminhoneiro de 29 anos. "A gripe tem acometido pessoas mais jovens do que seria esperado", afirma Antônio Barone, do Hospital das Clínicas de São Paulo – responsável pelo plano de contingência para a gripe A do hospital.

O motivo ainda é um mistério. "É difícil saber a razão por que ainda há muita incerteza sobre o número de pessoas infectadas que não estão doentes o suficiente ou que não foram testadas, e que, por isso, não foram contabilizadas", diz o médico britânico. O brasileiro segue o mesmo raciocínio. "Não podemos afirmar nada enquanto não estudarmos mais esse vírus", afirma.

A equipe da universidade americana levanta a possibilidade dos mais velhos estarem mais protegidos por terem sidos expostos na infância ao vírus da pandemia de 1957. Nada disso, no entanto, foi comprovado.
Mortalidade

De acordo com a pesquisa da OMS, a mortalidade média da gripe A gira em torno de 0,4%. Isso é muito próximo da letalidade da gripe comum que, segundo o Ministério da Saúde brasileiro, é de 0,5%. Mas Fraser explica que essa taxa pode ser ainda menor para a gripe A.

"Não sabemos quantas pessoas estão infectadas mas não notificaram os sistemas de saúde e, portanto, não foram contabilizadas. Nos Estados Unidos, por exemplo, acreditamos que existam cerca de 10 a 100 casos não-detectados para cada um confirmado. Isso é importante por que se existirem tantos casos não-contabilizados, a taxa de mortalidade pode estar bem abaixo dos 0,2%", explica Fraser.

Isso está de acordo com o que os médicos brasileiros estão observando. "Por enquanto, temos uma morte para cerca de 600 casos, o que é um pouco abaixo da mortalidade da gripe sazonal [a comum]", afirma Barone.
Inverno

Os médicos acreditam também que o aumento no número de casos no Brasil está ligado à chegada do inverno no hemisfério. "Parece bem provável que o que está acontecendo agora na América do Sul é devido à chegada do inverno, e isso também explica [o aumento no número de casos na] Austrália e Nova Zelândia", diz Fraser. "Mas devo notar que aqui no Reino Unido a epidemia está crescendo rapidamente e nós estamos bem no verão. Então não sabemos ainda o tamanho da importância dos fatores climáticos", ressalta.
Cuidados

Todas essas incertezas sobre os perigos da nova gripe fazem os médicos ressaltarem a importância de se manter a vigilância. "É preciso enfatizar que a idade das pessoas que faleceram deixam claro que este vírus é bem diferente do da gripe sazonal e que ainda é muito cedo para complacência. Com certeza é um vírus bem menos severo que aquele de 1918 [da Gripe Espanhola], mas ele pode provar que é bem mais preocupante que a gripe comum se continuar a se espalhar", afirma Fraser.

Idosos são minoria entre os casos da nova gripe, mostram estudos

Fonte: G1
 
Por:  Robson Souza Santos    |      Imprimir