Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 27-07-2009

A TERCEIRA ENCÍCLICA DE BENTO XVI
Sua Santidade Bento XVI, no dia 29 de junho de 2009, publicou sua terceira Carta Encíclica...
A TERCEIRA ENCÍCLICA DE BENTO XVI

Juliano Ribeiro Almeida

Sua Santidade Bento XVI, no dia 29 de junho de 2009, publicou sua terceira Carta Encíclica, intitulada Caritas in veritate (Caridade na verdade). Anunciada desde 2007, por ocasião do quadragésimo aniversário daPopulorum progressio, de Paulo VI, esta nova carta do Papa Bento XVI é a sua primeira contribuição explicitamente voltada para o ensino social da Igreja. O documento foi escrito bem no meio desta crise financeira mundial. Com a conjugação das duas palavras iniciais da encíclica, escolhidas com muito critério e objetividade, Bento XVI já acena para aquilo que ele pensa ser os dois remédios para esta crise: falta caridade no frio sistema capitalista; e também falta verdade nas relações econômicas desse sistema.

Duas de três encíclicas de Bento XVI têm a palavra caridade no nome. Ele defende que a caridade "é o princípio não só das microrelações estabelecidas entre amigos, na família, no pequeno grupo, mas também das macrorelações como relacionamentos sociais, econômicos, políticos" (CV n. 2). Verdade e caridade, ensina o Papa, têm de ser buscadas simultaneamente, porque "sem verdade, a caridade cai no sentimentalismo" e "acaba prisioneira das emoções e opiniões contingentes dos indivíduos" (n. 3). E, por outro lado, "Um cristianismo de caridade sem verdade pode ser facilmente confundido com uma reserva de bons sentimentos, úteis para a convivência social mas marginais" (n. 4). Esse é o motivo pelo qual as sociedades modernas, que relativizam a verdade, têm procurado excluir Deus do âmbito público. Quando se afirma que a verdade é relativa, a caridade se torna apenas um subterfúgio para desencargo da consciência.

Citando abundantemente a encíclica Populorum progressio, Sua Santidade aborda, em 6 capítulos, o tema do desenvolvimento humano, econômico e social, ligando-o às questões relacionadas à sociedade civil, direitos e deveres, questões ambientais, tecnologia, globalização, meios de comunicação etc. Ele solicita um espaço de respeito e consideração para a voz da chamada "moral católica", que tem sido rechaçada como sendo meramente um resquício medieval de fundamentalismo religioso. Segundo ele, "a exasperação dos direitos desemboca no esquecimento dos deveres" (n. 43). Essa é a grande contradição do liberalismo contemporâneo, que de um lado acentua os direitos humanos, sobretudo das minorias, sem, contudo, ligá-los convenientemente aos deveres humanos, que são os mais amplos e, portanto, prioritários. Ele chega a defender que "a partilha dos deveres recíprocos mobiliza muito mais do que a mera reivindicação de direitos".

No capítulo 4, Bento XVI ressalta que "a economia tem necessidade da ética para o seu correto funcionamento" (n. 45). A ética parece ser o melhor nome para a caridade nos dias de hoje. E, por isso mesmo, o Papa tenta fazer o mesmo alerta que fez na encíclica Deus caritas est, sobre o mau uso do conceito de amor-caridade (cf. DCe n. 2). Aqui ele afirma haver "um certo abuso do adjetivo ‘ético’, o qual, se usado vagamente, presta-se a designar conteúdos muito diversos, chegando-se a fazer passar à sua sombra decisões e opções contrárias à justiça e ao verdadeiro bem do homem" (CV n. 45).

Na conclusão da encíclica Caritas in veritate, o Papa ataca um certo voluntarismo que ronda a política e mesmo algumas teologias. "O homem não é capaz de gerir sozinho o próprio progresso, porque não pode por si mesmo fundar um verdadeiro humanismo" (n. 78). De fato, até mesmo em algumas canções usadas em liturgias, parece correr a ideia de que "a paz é a gente que faz", "Igreja é povo que se organiza". Em algumas liturgias, nem parece que se celebra o memorial do sacrifício e ressurreição de Cristo, e sim meramente uma organização popular à la sindicato ou cooperativa; e há até quem cante: "viemos pra comungar com a luta sofrida do povo"...

A terceira encíclica de Bento XVI merece ser lida com atenção. É um texto indispensável para os cristãos de todas as denominações que trabalham na política, na educação, no direito e na economia.

Juliano Ribeiro Almeida é padre católico e trabalha em Cachoeiro de Itapemirim-ES

    Fonte: O Autor
 
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