Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 03-08-2009

DOIS HOMICÍDIOS DE UMA SÓ VEZ
Nesta semana fui presenteada com dois maravilhosos textos.
DOIS HOMICÍDIOS DE UMA SÓ VEZ

Nesta semana fui presenteada com dois maravilhosos textos. Uma crônica, intitulada "Parasitas", assinada pela cronista Marilene Depes, publicada no periódico Espírito Santo de Fato e a Vaquinha - cujo autor desconhecido.

Às 4h02 perdi literalmente o sono por esses dias. Acendi um cigarro e fiquei por um bom tempo fazendo uma auto-avaliação.

Confesso ter sentido a agonia dos encarcerados, amontoados e amotinados em celas minúsculas fedidas, onde não há mais nenhuma gota de sorte, apenas o desespero regado de revolta. Coloquei-me na pele de detentos viciados, infelizes, amaldiçoadas pela sociedade que lhes tirou as oportunidades e os seus direitos civis, sendo tratados como bichos imundos.

Na minha madrugada silenciosa, visitei os doentes mentais aprisionados a tarjas pretas, cercados por muros cinzas e dopados de sossega leão. Senti um pouco do descontrole de cada um trajado de branco e amarrado a beira da cama.

Dei uma volta pelos hospitais e me vi respirando com auxilio de oxigênio, numa cama de UTI, cuja dor amortecida por doses de morfina na veia.

Nessa reflexão matinal, comecei a rever atitudes e não parei de pensar nos meus amigos e nas pessoas a quem amo. Pus-me só, a perguntar onde estão essas pessoas? Em que bares, motéis, em que casebres se matando em cachimbos ou carreiras vazias brancas de pó vagabundo. Abraçando corpos nus, suados, ofegantes? Trocando carícias inúteis, traindo, mentindo, omitindo, ou comendo migalhas e restos deixados para trás? Onde estão os meus amigos? Onde estão todos agora? Enganando-se ao lado de uma pessoa que já não demonstra mais o mesmo brilho nos olhos quando estes se encaram?

Nessa reflexão solitária comecei a me lembrar dos textos lidos em sala de aula. Parasitas e a Vaquinha. Resolvi praticar um duplo homicídio, imediatamente. Peguei a vaquinha no laço e fui até o alto do penhasco e de lá a empurrei ribanceira abaixo. Não queria mais beber do seu leite, e nem comer do queijo que fabricava. Não senti pena, nem remorso porque ela estava magra e acabada. A vi morrer e não me arrependo desse crime!

A parasita que definhava a minha árvore eu matei também, assim que assassinei aquela pobre vaca. Foram duas ações imediatas e necessárias.

Decidi sozinha praticar os dois homicídios, sem cúmplice algum e estou a confessar meu crime - artigo 121.

Cansei de me apegar a situações que estavam apenas a me consumir. Tomei coragem e disse a mim mesma, é hora, a hora é agora. Não serei nenhum cajueiro a definhar em nenhum quintal. E nem serei como aquela família pobre sugando o leite de uma vaca magra. Eu quero morrer de pé, como uma árvore, apenas com a minha dignidade.

Adormeci refletindo e falei com Deus: Sou Tua filha e Tu és o dono disso tudo. Se estou caminhando para outro plano que é a minha única certeza, não quero mais me apegar a fugas momentâneas. Nem ao sexo barato e vazio, nem a doses homeopáticas de possíveis prazeres bastardos. Quero o que me pertence, sou Sua herdeira. Quero um terreno amplo para eu construir minha cabana, fazer uma horta e amarrar meu cavalo ao tronco de uma árvore, um amor divino eu quero paz e nada mais.

Levantei pela manhã, às 5h40. Fiz um café, arrumei a cozinha, fumei um cigarro, tomei um maravilhoso banho, vesti a melhor roupa e fui dar a aula mais fantástica de toda a minha vida. Disposta a sepultar a parasita e a vaquinha - dois cadáveres metafóricos e a começar leve, limpa e livre, sem nenhuma dose mínima de possíveis momentos de felicidade.

    Fonte: O Autor
 
Por:  Luciana Maximo    |      Imprimir