Doutor Carlos, desculpe-me interromp�-lo...
18:20 hs...
- Doutor Carlos, desculpe-me interromp�-lo, mas � que acabei de ver um senhor idoso l� na sala de espera, e ele parece que gostaria de dar uma palavrinha com o senhor. Ele parece meio fraco, cansado, e, achei que o senhor ainda pudesse dar uma palavrinha com ele. Posso mandar ele esperar ou digo para ele retornar amanh�?
- N�o! Pode mandar ele esperar, pe�a que me espere, ele ser� atendido j�, deixa s� eu terminar de conversar com essa senhora! Ok?!!
- Est� bem, vou pedir para ele esperar um pouquinho.
- Ent�o, dona Maria, n�o se esque�a, traga-me a certid�o de nascimento das crian�as e a de casamento, e tudo que possa provar o que a senhora me disse. Ah! Traga-me umas tr�s testemunhas, no papel, o nome delas, n�o � para trazer elas at� aqui � minha presen�a n�o, � s� para trazer o nome completo e endere�o certinho delas, est� bem?
- Pode deixar Doutor Carlos, entendi direitinho. Amanh� vejo o senhor de novo! Uma boa noite e bom descanso!
- Ah, agora o senhor!!! Como o senhor se chama?
- Pedro, meu filho.
- Hum, Seu Pedro! Vamos, o senhor me acompanhe, chegou a vez do senhor! Desculpe fazer esper�-lo tanto, � que hoje tinha tanta gente, que confesso que nem percebi o senhor na sala de espera!
- Que nada meu filho. Vejo que o senhor j� est� cansado, parece que devo voltar outro dia.
Ser� melhor para o senhor, n�o moro t�o longe.
- Que nada seu Pedro! Minha mulher sabe que �s vezes chego um pouquinho mais tarde em casa, mas, � assim mesmo. Ela me conhece, sabe muito bem que gosto do que fa�o. Ela fica feliz em saber que estou aqui atendendo as pessoas carentes, que n�o podem pagar para ter Justi�a.
- Ser�?
- Claro seu Pedro! O Senhor aceita uma ag�inha, um cafezinho? O caf� n�o est� t�o novo, mas n�o est� no fundo da garrafa ainda n�o, ainda d� para tomar! O senhor aceita?
- Sim, aceito um pouquinho de caf�.
- Mas � sem a��car!
- N�o tem problema, tomo de qualquer jeito mesmo, obrigado.
- Ah! E o ar-condicionado? Est� muito forte? Estou vendo que o senhor n�o est� bem agasalhado! O senhor gostaria que eu diminu�sse ou desligasse para ficar melhor?
- N�o meu filho, pode deixar assim, o senhor parece cansado, o senhor vai suar logo se desligar.
- Seu Pedro, n�o se preocupe, quando atendo as pessoas eu nem me lembro de temperatura.
Acho que fico mais ansioso do que o assistido, preocupado em poder ajudar.
- O senhor � muito gentil, obrigado.
- Que nada seu Pedro, o senhor deve se sentir em casa aqui. Mas, vamos l�, o que traz o senhor aqui, aconteceu algo?
- Doutor Carlos, me desculpe, mas, posso ir ao banheiro um pouquinho? J� retorno, sei que estou tomando seu tempo, ainda mais depois do hor�rio de expediente do senhor.
- Claro, seu Pedro, espero o senhor, o banheiro � ali � esquerda, depois do bebedouro.
- Obrigado, Doutor Carlos, j� retorno.
Passam 20 minutos...
- U�, onde est� seu Pedro? Ser� que ele foi embora ou se perdeu aqui?
Procuro por seu Pedro...
- Seu Francisco, o senhor viu uma pessoa idosa que sai daqui do banheiro?
- N�o Doutor Carlos. Pensei que o senhor estivesse no celular. Estamos s� n�s dois no F�rum, todos j� foram, j� guardei a �ltima senha do senhor. Estou s� esperando o senhor sair, para trancar tudo.
- Mas, � imposs�vel! Eu estava conversando com ele! Eu tenho certeza que ele deve estar por aqui!
- Olha Doutor Carlos, o que pode ter acontecido � ele ter sa�do com o Doutor Juiz da 23� Vara, que tem a chave do port�o, porque de vez em quando ele precisa de voltar aqui no F�rum pr� pegar alguns livros. Mas, ele n�o veio hoje.
- Bom! Ent�o, seu Francisco, caso amanh� apare�a um idoso chamado Pedro, pe�a para, desta vez, me esperar.
- Pode deixar Doutor Carlos, um bom descanso por senhor!
- Para o senhor tamb�m, Seu Francisco, tudo de bom, e at� amanh�, se Deus quiser!
- At�!
19:40 hs, passa meu �nibus...
- Mo�o, o senhor quer comprar uma jujuba para me ajudar?
- Ah meu filho, n�o tenho nenhum tost�o. Mas, voc� � t�o pequeno. Qual sua idade?
- Tenho sete anos.
- Sete! Nossa! Mas voc� tem que ir para casa! Saia dessa friagem. Isso n�o � hora de um menino da sua idade ficar dentro de �nibus vendendo doces! V� para sua casa, fique com seus pais!
- N�o tenho pais, senhor, moro na rua mesmo.
- Ah! Mas, mas, n�o tem nenhum parente conhecido?
- N�o, minha av� morreu semana passada. Agora, estou sozinho.
- Meu filho, ent�o se cuide, cuidado com os perigos da rua. Nunca ande por a� sozinho, e n�o fique descal�o, viu?!!
- O senhor gosta do que faz ?
- Sim, claro!
- Mas, � tanta gente, parece uma luta intermin�vel. Mesmo assim o senhor gosta do que faz?
- Sim, adoro! N�o tenho nenhuma d�vida!
- Tem certeza?
- Sim, claro, porque?!!
- Sim, eu sabia. Sei que o senhor gosta do que faz, sei que o senhor gosta de ajudar os outros. Agora, � meu ponto, devo descer.
- Sorte hein menino! E seu cuide bem.
- Obrigado, e me desculpe tamb�m por ter feito o senhor me esperar enquanto eu estava no banheiro.
- Como? Quem � voc�?
- N�o se preocupe, um dia, vamos voltar a nos ver. Continue amparando meus pequenos filhos, que tanto amo. Assim, � a Mim que voc� acolhe.
A pequena Crian�a desce do �nibus...
Carlos Eduardo Rios do Amaral - Defensor P�blico do Estado do Esp�rito Santo
Fonte: O Autor
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