Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 24-10-2009

CAIXA-PRETA E CUBA LIBRE
Caixa-preta todo mundo conhece, � aquela caixinha (que n�o � preta)...
CAIXA-PRETA E CUBA LIBRE
Foto: Paulo Araujo

Caixa-preta todo mundo conhece, � aquela caixinha (que n�o � preta) sobrevivente em meio aos destro�os dos avi�es acidentados e que cont�m a grava��o das �ltimas conversas e procedimentos dos pilotos; Cuba Libre, nem todos. Para quem n�o conhece, � uma bebida � base de rum claro e refrigerante de cola mais o suco de meio lim�o, sucesso dos anos 60. E o que tem a ver caixa-preta com Cuba Libre? Aparentemente nada, � apenas a forma que eu encontrei de relacionar duas entrevistas muito interessantes que foram publicadas nas edi��es 2134 e 2133 de Veja, de outubro. S�o elas: Caixa-preta da cirurgia, com o Dr. Ben-Hur Ferraz Neto, chefe do Programa de Transplantes do Hospital Albert Einstein, e As tr�s mentiras de Cuba, com Yoani S�nchez, a blogueira cubana que diz que as chamadas "conquistas da revolu��o" s�o um mito.

Ben-Hur, 22 anos de carreira e 2 000 opera��es no curr�culo, tem propostas revolucion�rias para melhorar a pr�tica da medicina no Brasil. A principal delas � a de os grandes hospitais instalarem "caixas-pretas" nas salas de cirurgia, pois elas t�m muitas similaridades com o cockpit de um jato comercial. Al�m de elucidar erros m�dicos, um banco de informa��es de imagens, sons e dados de milhares de cirurgias seria de incomensur�vel valor para os profissionais m�dicos, para os pesquisadores e estudiosos. Ele reconhece, por�m, que essa ideia assusta os m�dicos e precisa de um tempo de matura��o para ser aceita. O grande beneficiado seria o paciente, muitos prefeririam ser operados em um hospital com caixa-preta na sala cir�rgica do que em outro que n�o possua esse item adicional de seguran�a. Submeter-se a uma cirurgia � a maior demonstra��o de confian�a que um ser humano pode dar e � justo que em um momento desses tenha a seguran�a de saber que tudo est� sendo gravado. Bela ideia, � a tecnologia de ponta mais uma vez ajudando a medicina a evoluir.

J� Yoani, 34 anos, foi convidada a falar no Senado brasileiro e a comparecer ao lan�amento do seu livro De Cuba com carinho., uma colet�nea de textos publicados por ela no blog Generaci�n Y(desdecuba.com/generaciony), o primeiro a ser criado em Cuba, mas que s� pode ser acessado fora da ilha. Sua vinda, entretanto, depende da improv�vel permiss�o do governo cubano. Em discurso a respeito do seu pedido de visto, o senador Eduardo Suplicy citou o que considera tr�s conquistas da revolu��o cubana: a alfabetiza��o, o aumento da expectativa de vida e a medicina de qualidade. Pois bem, na entrevista ela joga por terra essas tr�s conquistadas apontadas, classificando-as como as tr�s mentiras de Cuba. Antes da revolu��o Cuba j� ostentava um dos menores �ndices de analfabetismo da Am�rica Latina, uma das primeiras a��es do governo autorit�rio de Fidel Castro foi ensinar o restante da popula��o a ler e escrever. Para ela, a quest�o principal hoje n�o � a taxa de alfabetiza��o e sim o que se l� depois que se aprende. As cartilhas usadas na alfabetiza��o s� falam da guerrilha em Sierra Maestra ou do assalto ao quartel de Moncada pelos guerrilheiros barbudos. Tudo o que se ensina nas escolas � o marxismo, o leninismo, essas coisas. N�o se sabe o que acontece no resto do mundo. A primeira vez que ela viu imagens da queda do Muro de Berlim foi em 1999, dez anos depois do fato ocorrido. Afirma tamb�m que o aumento da expectativa de vida, � uma estat�stica oficial, sem comprova��o, que n�o resistiria a um questionamento m�nimo feito por uma imprensa livre. Pelo que ela v� nas ruas, � dif�cil acreditar que os cubanos possam sobreviver tantos anos. Finalmente, quanto � medicina avan�ada, ela diz que o pa�s construiu hospitais e formou m�dicos de boa qualidade na �poca em que recebia petr�leo e subs�dios sovi�ticos. Com o fim da Uni�o Sovi�tica, tudo isso acabou. O sal�rio mensal de um cirurgi�o n�o passa de 60 reais. A profiss�o de m�dico � hoje a que menos pode garantir uma vida decente e c�moda. A car�ncia nos hospitais � tr�gica. Quando um doente � internado, todos os seus familiares migram para o hospital. Precisam levar tudo: roupa de cama, ventilador, balde para dar banho no paciente e descarregar a privada, travesseiro, toalha, desinfetante para limpar o banheiro e inseticida para as baratas, sem esquecer tamb�m os rem�dios, a gaze, o algod�o e, dependendo do caso, a agulha e o fio de sutura. Para quem v� Cuba como um exemplo, ela convida a ir para l�, sentir na pele como eles vivem. Fico imaginando convidados ilustres como Chico Buarque, Oscar Niemeyer, Jos� Saramago, Jos� Dirceu e o pr�prio Eduardo Suplicy, vivendo n�o na parte tur�stica da ilha, com todo conforto, mas no lado pobre e real, submetendo-se a uma cirurgia nos hospitais citados por ela.
Yoani S�nchez abriu a caixa-preta de Cuba, gra�as � tecnologia da internet, tecnologia essa negada � maioria do povo, e desfez um dos maiores mitos cubanos: a medicina avan�ada. Em situa��o bem diferente, o Dr. Ben-Hur, cercado de tecnologia, tem a coragem de propor uma caixa-preta nas salas de cirurgia dos melhores hospitais brasileiros. Pena que, mesmo que ele consiga levar adiante sua proposta, a porcentagem de beneficiados ser� bastante pequena em rela��o � grande maioria de pacientes dos hospitais brasileiros espalhados por esses rinc�es do pa�s. Neste ponto, caixa-preta e Cuba Libre se equivalem, basta ver a situa��o dos nossos hospitais p�blicos e mesmo privados, n�o t�o diferente dos hospitais cubanos.


Visite meus blogs:


http://wwwmergulhodopaulista.blogspot.com



    Fonte: O autor
 
Por:  Paulo Araujo    |      Imprimir