Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 01-12-2009

CARTA-ABERTA AO PREFEITO DE SíO PAULO
Na qualidade de cidadão paulistano, natural dessa cidade, há nove anos residindo em Marataízes, no Espírito Santo e tendo meu IPTU pago religiosamente em dia, tomo a liberdade de escrever-lhe a seguinte carta-aberta:
CARTA-ABERTA AO PREFEITO DE SíO PAULO
Foto: Paulo Araújo

Exmo Sr. Gilberto Kassab,
Prefeito da cidade de São Paulo

Na qualidade de cidadão paulistano, natural dessa cidade, há nove anos residindo em Marataízes, no Espírito Santo e tendo meu IPTU pago religiosamente em dia, tomo a liberdade de escrever-lhe a seguinte carta-aberta:

Com muito pesar e constrangimento acompanhei ontem, no início da noite, o depoimento do apóstolo Valdemiro Santiago, representante da Igreja Mundial do Poder de Deus, com sede à Rua Carneiro Leão 439, Brás. Não sei se o senhor ou os seus assessores tiveram a oportunidade de acompanhar o desabafo emocionado, em alguns momentos carregado de revolta e súplica, indo até às lágrimas para que o senhor reveja a decisão tomada pela prefeitura de, no prazo de dez dias, fechar o templo mais importante de uma das igrejas que mais cresce no Brasil e no mundo. O motivo? Uma lei do silêncio que proíbe barulho acima de 70 decibéis numa cidade que, por natureza, é barulhenta. Sei que o senhor tem se empenhado em reduzir a poluição visual e sonora na cidade, com méritos em alguns casos como no da regularização de outdoors, letreiros e outras formas de propaganda ao ar livre; polêmicas em outros, como no da mordaça aos feirantes que, por tradição, costumam anunciar seus produtos aos berros para os consumidores que, na sua maioria já se acostumaram com a gritaria e sabem que não correm riscos de surdez por causa dessa estratégia de mercado. Vale a pena ressaltar que representantes da prefeitura com ou sem a sua anuência já vem a algum tempo tentando lacrar o prédio utilizado pela igreja, alegando que as reuniões que ali acontecem durante a semana incomodam a vizinhança, que a rua que dá acesso ao templo fica repleta de camelôs que vendem CDs de bandas evangélicas e, para isso, deixam seus aparelhos ligados durante todo o dia, perturbando a vida dos que por ali passam ou residem. De acordo com o depoimento do apóstolo a igreja tem recebido multas com valores altíssimos aos quais ele foi aconselhado não revelar; conselho, é lógico, que ele não acatou.

Faço minhas, senhor prefeito, as palavras do apóstolo quanto à hipocrisia mascarada de lei daqueles que tentam impedir um trabalho feito dentro de todos os preceitos legais, de inestimável valor social, sem entrar aqui no mérito do grandioso valor espiritual representado por esse ministério. Por que hipocrisia? O que são 70 decibéis numa megalópole? Qualquer ronco de moto, buzina de caminhão, pouso de avião, grito de torcida supera-o em muitos outros decibéis. Vamos ser lógicos, se é para fechar a igreja, por que não fechar o Pacaembu, o Morumbi, o sambódromo, os bares com som ambiente, os shows públicos, os comícios, carreatas políticas e afins? Gosto muito de futebol e lembro que quando era rapaz ia muito ao Pacaembu e ao Morumbi. Naquela época os jogos noturnos começavam sempre às 21 horas até que determinada emissora de televisão empurrou-os para depois da sua novela das 20 horas, que começa depois das 21. Resultado: uma partida de futebol noturna vara a madrugada e não me consta que durante todo esse tempo reine o mais absoluto silêncio. Ademais, senhor prefeito, estive na igreja várias vezes durante o mês de maio, quando fui a São Paulo. A alegação é descabida, posso garantir-lhe. A igreja foi construída num galpão onde funcionava uma fábrica, com certeza a fábrica fazia mais barulho. Se o senhor já teve a oportunidade de assistir alguma reunião pela televisão, deve ter constatado que o altar fica no centro do galpão, o sistema de som é bastante avançado o que significa que ele não vaza para fora da área de interesse. A Banda Mundial é das melhores que já vi, supera em qualidade muitos grupelhos que fazem sucesso na mídia, o povo que ali se reúne não é de ficar gritando o tempo todo, muito menos o apóstolo e os bispos que conduzem as reuniões. Mesmo que o fizessem, o barulho permaneceria dentro do prédio. Quanto aos camelôs, onde não os têm?

Deixando o barulho de lado, senhor prefeito, vamos falar um pouco de quem realmente a igreja está incomodando. Em primeiro lugar, outras denominações religiosas que estão se sentindo prejudicadas pela perda de seus fiéis, cansados de esperar por bênçãos que ali nunca acontecem e que acontecem aos montes na Mundial. Bem próximo ao Brás, ali no Glicério, existe também um megatemplo que não deve ser menos barulhento do que o da Mundial. Será que ele também está ameaçado de ser fechado pela prefeitura? Na Igreja Mundial acontecem sim muitos milagres, eu já presenciei alguns quando estive lá, médicos presentes confirmaram, todos que ali são curados levam exames médicos atestando o "antes" e o "depois". Essas curas, o apóstolo já repetiu à exaustão, não são feitas por ele nem por nenhum membro da igreja. Ele já prestou inúmeros depoimentos às autoridades policiais que o procuraram devido a denúncias de curandeirismo e charlatanismo. Sua vida tem sido vasculhada noite e dia, assim como o seu ministério e até hoje nada conseguiram provar. Oras, o apóstolo, assim como eu, não valoriza a religião, ele prega o Evangelho, a Palavra tal qual está nas Escrituras Sagradas, mas traduzida para os dias atuais como ele tão bem sabe fazer. A sua igreja está sempre repleta de pessoas de todos os cantos do Brasil e também de outros países; evangélicos, católicos, espíritas, ciganos, até índios passam por ali, porque a igreja é aberta a todos. Em segundo lugar, a igreja está incomodando e muito determinadas emissoras de televisão devido ao alto índice de audiência, inclusive no horário nobre. Emissoras de televisão vivem de audiência e para conquistá-la fazem de tudo e esse "tudo" ultimamente significa até abaixar ao máximo o nível de qualidade da programação. Problema esse que a Igreja Mundial não tem, pois não precisa ficar inventando nada, só mostra o que acontece nas suas reuniões. Isso, senhor prefeito, incomoda muito! Incomoda até a imprensa que se mantém na postura daqueles três macaquinhos – não vi, não escutei, não falei. Sou jornalista e sei muito bem o que é um fato jornalístico. Uma aglomeração de mais de 100.000 pessoas é um fato jornalístico, não importando o motivo que a gerou. Pois bem, o apóstolo tem feito reuniões ao ar livre por quase todo o Brasil. No Rio de Janeiro foram mais de um milhão de pessoas no Aterro do Flamengo, em Belo Horizonte mais de meio milhão no último final de semana, debaixo de chuva torrencial. Em todas as capitais por onde passou ele arrastou multidões, mas não conseguiu nenhuma linha na imprensa escrita, nenhum segundo no rádio ou na televisão. Agora, caso houvesse ocorrido algum problema, alguma pessoa machucada numa concentração de tantas pessoas, alguma denúncia de comportamento inadequado dos representantes da igreja, não tenha dúvidas que daria manchete.

Caro prefeito, se tudo o que falei não servir como motivo para que a prefeitura reflita sobre a decisão de fechar o prédio da igreja, pense nos mais de mil funcionários que ali trabalham com carteira assinada, nos voluntários e, principalmente, nos milhares de testemunhos de pessoas que abandonaram a bebida, o crack, a cocaína, o mundo do crime, afora os que receberam curas comprovadas, desenganados que estavam pela medicina e decida se vale a pena acabar com esta obra por míseros 70 decibéis.


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    Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Paulo Araujo    |      Imprimir