Categoria Meio ambiente  Noticia Atualizada em 09-12-2009

Plano de países desenvolvidos gera apreensão em ambientalistas

Plano de países desenvolvidos gera apreensão em ambientalistas
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Uma possível estratégia arquitetada em conjunto por Dinamarca, Reino Unido e Estados Unidos para aumentar o poder dos países ricos e diminuir a importância da Organização das Nações Unidas (ONU) na discussão sobre o aquecimento global causou a revolta de ambientalistas e das nações em desenvolvimento no segundo dia da 15ª Conferência das Partes (COP-15), a cúpula sobre mudanças climáticas que reúne delegações de 192 países em Copenhague. A crise foi desencadeada pela divulgação de um projeto de texto elaborado pelo governo dinamarquês que estabelece limites desiguais de redução das emissões per capta - favorecendo os países mais ricos - e sugere que o Banco Mundial administre os recursos destinados ao controle da temperatura do planeta, o que diminuiria o papel da ONU.

Divulgado ontem pelo jornal britânico The Guardian, e depois por outros veículos de imprensa, o texto foi interpretado como uma proposta à parte a ser apresentada pelo país anfitrião, com apoio dos EUA e do governo britânico. Seria uma espécie de rascunho do que viria a ser o resultado da COP-15. Imediatamente, as nações mais pobres e as organizações não governamentais denunciaram a Dinamarca por ignorar o ponto de vista dos países em desenvolvimento, aumentando a desconfiança entre as nações ricas e em desenvolvimento.

Representantes do G-77, grupo de países do qual o Brasil faz parte, chegaram a dizer que o documento representa uma "ameaça" para o sucesso do encontro. "(O documento) é uma grave violação que ameaça todo o processo de negociação de Copenhague", declarou Lumumba Stanislas Dia Ping, chefe da delegação sudanesa que preside atualmente a coalizão. "Os membros do G-77 não deixarão as negociações nesse estágio. Não podemos nos permitir um fracasso em Copenhague", acrescentou.

"O texto proposto pelo primeiro-ministro dinamarquês é fraco e mostra a posição elitista e sem transparência da presidência dinamarquesa", criticou Kim Carstensen, da ONG WWF. "As táticas de negociações debaixo dos panos, sob a presidência dinamarquesa, mostram o desejo de agradar os países ricos em vez de servir à maioria das nações que pedem uma solução justa e ambiciosa", acrescentou. Para Martin Kaiser, do Greenpeace, o anúncio "alimenta a desconfiança na cúpula sobre o clima".

A ministra dinamarquesa do Clima, Connie Hedegaard, negou que a intenção de seu país seja forçar um documento sem a participação de todas as nações. "Não existe um texto. Estamos há semanas e meses consultando diversos países. É o nosso trabalho", afirmou. "Muitos textos circulam, mas o documento que talvez seja aprovado aqui ainda não existe, então ninguém pode tê-lo visto", acrescentou. A notícia transformou radicalmente o clima de otimismo do primeiro dia de conferência, causado pela iniciativa dos Estados Unidos de reconhecer que o aquecimento global é resultado das emissões de carbono. O secretário-executivo das Nações Unidas para o Clima, Yvo de Boer, informou, por meio de nota, que o texto era informal e que o único documento formal que existe está nas mesas dos integrantes da conferência.

Brasil

O embaixador Sérgio Serra, que integra o grupo de negociação brasileiro, adotou um tom comedido ao abordar o assunto. "O papel foi distribuído, mas recolhido em seguida. Considero legítima a função da presidência do evento em apresentar um texto para facilitar as discussões", disse. Mas acrescentou: "Não quero prejulgar, mas esse vazamento de informação prejudicou a efetividade do texto. Não podemos deixar que esse tipo de confusão leve ao caos".

No documento, estaria colocada a intenção dos países ricos de separar o Brasil, a China e a Índia do grupo de países pobres, que, segundo o Protocolo de Kyoto, não são obrigados a estabelecer metas numéricas de redução das emissões de carbono. A diferenciação desses três países em relação aos demais em desenvolvimento foi tema de discussões ontem. Uma parte significativa dos negociadores acredita que Brasil, China e Índia não devem, por exemplo, receber ajuda do fundo internacional a ser criado para ajudar os mais pobres a desenvolverem tecnologias limpas e migrarem assim para uma economia de baixo carbono. As três nações, segundo os defensores desse ponto de vista, já têm condições de realizar a transição e saíram fortalecidas da crise econômica mundial.

O secretário executivo das Nações Unidas para o Clima, Yvo de Boer, no entanto, rebateu esse argumento. "Os grandes países (em desenvolvimento) também devem ter acesso (ao fundo), mas isso vai depender de cada projeto apresentado", afirmou. O governo brasileiro já havia se manifestado sobre esse tema na segunda-feira. "O financiamento tem que ser para todos os países. Nós faremos mais e melhor se tivermos acesso a recursos internacionais", afirmou então o negociador-chefe do Brasil, embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado.

 
Por:  Adriano Costa Pereira    |      Imprimir