Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 12-04-2010

A IGREJA CATÓLICA SOB CENSURA.
Temos acompanhado pela imprensa, especialmente escrita e televisada, críticas – para não dizer ataques – severas a Igreja Católica diante do trato que tem dado aos casos de abuso sexual
A IGREJA CATÓLICA SOB CENSURA.

Temos acompanhado pela imprensa, especialmente escrita e televisada, críticas – para não dizer ataques – severas a Igreja Católica diante do trato que tem dado aos casos de abuso sexual que chegam a sua cúpula administrativa, praticados geralmente por padres, numa demonstração clara de que, em tempos modernos, não existe qualquer organismo ou instituição que não esteja sob o crivo da imprensa, com a disseminação do fato noticiado a uma velocidade espantosa.

Não sem razão aqueles que cobram da Igreja Católica uma posição mais enérgica e. principalmente, clareza e transparência na condução das denúncias que lhe são encaminhadas. Essa é uma expectativa que todos nós temos diante de uma transgressão; foi assim com o Poder Judiciário, funciona assim com os políticos e tudo o mais. A crítica da opinião pública é livre e necessária; assim também o importante papel que a imprensa desempenha, chegando mesmo a ser um ponto de equilíbrio na contenção de abusos e ilegalidades onde quer que elas estejam sendo cometidas. Não é desprovida de fundamento a conceituação de que representa o quarto poder, dada a relevância de seu papel, com ênfase ainda maior num regime democrático como o que vivemos no Brasil.

Ainda assim, queria deixar registrado que a Igreja Católica merece ser tratada com maior respeito por todos, especialmente por nós católicos, ainda que discordemos quanto ao celibato dos padres, quanto à posição hermeticamente guardada das decisões que toma em casos rumorosos, especialmente naqueles onde há violação da dignidade humana.

É que a milenar Instituição possui estrutura própria e normativos que regem o procedimento (administrativo) de situações como as que temos conhecido pelos noticiários. Acredito que na Igreja Católica, diferentemente do que ocorre com Órgãos Públicos, tudo é feito sob a influência da missão maior que lhe é reservada como Igreja de Cristo, a evangelização, a defesa dos direitos humanos, dos pobres, a prática da misericórdia, buscando a conversão de todos e, inegavelmente, a concessão do perdão àqueles que – assim como nós – ultrapassam a barreira do que é Divino para infiltrar-se no mundo carnal dos pecadores.

É com essa visão que entendo serem as defecções no quadro da Igreja Católica uma repetição do que acontece em muitas outras, ainda que nelas o Celibato não seja um Dogma, como o é na Igreja de Roma. Digo isto porque vemos que a imprensa – ou ao menos parte dela – pretende desconceituar a Igreja Católica pelo mau comportamento de alguns de seus padres, que, insuperavelmente, devem ser julgados, também pela justiça dos homens, pelos atos que cometerem. Isso, entretanto não autoriza a ninguém pretender disseminar a idéia de que todos os padres merecem a censura; de que toda a Igreja deve estar sob o crivo constante de críticas que, distanciando-se da ética que deve nortear o trabalho de informação, descamba para a mercantilização pura e exclusiva do fato, ignorando princípios e razões que os antecede e não podem ser olvidadas em cada caso.

Quanto ao voto de castidade que tantas críticas recebe na sociedade moderna, propulsora de forças capazes de derrubar qualquer barreira que se interponha entre o homem e seu futuro, é bom lembrar que sempre existiu na Igreja Católica, sendo inclusive parte constante do Velho e do Novo Testamento, como se vê em 1Sam 21,5; Pro7,5.24-27; Eclo23,6; Mt5,28; At24,25; 1Cor 9,27; 2Cor 6,6; Gal 5,16-19; Ef 5,3; 1Tim 4,12, dentre outras citações. Ademais todos os padres que buscam a divina missão de Evangelizar, integrando-se aos quadros da Igreja Católica o fazem com prévio conhecimento dessa renúncia. Não significa isso, é óbvio, que todas as demais Igrejas estariam obrigadas a tanto; não é esse o enfoque que se pretende dar ao artigo, evitando-se qualquer tipo de comparação com outras Igrejas que, igualmente, devem merecer o mesmo tratamento que aqui se reclama para a Igreja Católica.

É bom lembrar, ainda, que recentemente um famoso médico de São Paulo, que atendia celebridades de todo o país, foi preso por abusar de mais de 60 mulheres, e era casado. Não se autoriza a deduzir, daí, que todos os médicos sejam execráveis. É evidente que essa parcela de padres que se desviam do comportamento exigido pela Igreja Católica e idealizado por todos nós como exemplar, é mínima diante dos milhares de outros sacerdotes que entregam-se de corpo e alma na causa do Evangelho, produzindo frutos e ajudando a salvar almas, isso para aqueles que, assim como eu, acreditam na ressurreição e no Reino dos Céus.

Tanto quanto a Igreja Católica, a figura do Papa deve ser preservada, mormente quando os ataques sórdidos contra o Sumo Pontífice decorrem muito mais de uma campanha orquestrada para desmoralizá-lo – injustamente – do que por divulgação de fatos que merecem ser repudiados sob a nossa ótica, mas que no âmbito interno da Igreja podem ter sido julgados de forma (colegiada) buscando a preservação de valores internos, ainda que isso nos pareça errado.

Penso, assim, que é preciso mais respeito com a Igreja Católica, com a figura do Papa e com tudo que ambos representam para o Mundo Cristão, qualidades que estão muito acima dos desvios comportamentais que estão sendo noticiados e que, particularmente entendo devem merecer a punição da Justiça dos homens também, mas nós – todos nós –não temos o direito de pretender atingir a Instituição Igreja Católica e a figura do Santo Padre pelo mau comportamento de alguns sacerdotes. É preciso separar o joio do trigo e não confundir o Divino com o humano.

Ofereço este artigo como forma de contribuição para uma avaliação mais sensata, segura, ética e respeitável quanto a Igreja Católica e ao seu condutor o Papa Bento XVI, insurgindo-me contra o que chamo de "campanha sórdida" para desmoralizá-los, reivindicando, entretanto o respeito, da mesma forma, às demais Igrejas, cujo trabalho não se pode desprezar, e cujos princípios e dirigentes assim devem ser vistos e conceituados, na observância da fé de cada um. O Brasil é um país laico e como tal todas a religiões têm o direito de realizarem seu trabalho, merecendo de toda a sociedade e em especial da imprensa o respeito e uma condução ética na divulgação dos fatos.

Edmilson Gariolli é Católico e Advogado.

Fonte: O Autor
 
Por:  Edmilson Gariolli    |      Imprimir