Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 23-06-2010

O CURRAL, O BEBÊ E O ABANDONO
A história do bebê abandonado no curral em Presidente Kennedy...
O CURRAL, O BEBÊ E O ABANDONO

Por Luciana Maximo

A história do bebê abandonado no curral em Presidente Kennedy vem levantando uma série de reflexões paralelas e comentários maldosos em bancos de praça e mesas de bar.

Há quem pense que pode julgar o ato dessa mulher que teve a sobriedade de embala-lo e pedir que alguém cuidasse bem. Mesmo numa noite fria, e nem foi na cidade de Belém...

Há quem diga que é uma vaca, pois a deixou no curral e nem lambeu sua cria. E há também quem diga que o pai foi quem foi resgatar após um telefonema.

Ele afirma que nada tem a ver com a situação e que acredita ser a mulher, mãe, conhecida da mulher que solicitara que tomasse conta e cuidasse bem.

O lugar escolhido, o curral da Fazenda Alegria, dar-nos uma possibilidade de fazermos diversas leituras e analogias.

Alegria, o lugar escolhido. Curral e um tanque de leite próximo.

Metaforicamente falando, estava protegido o bebê, que pode ser batizada de Vitória ou até mesmo de Maria. Ali naquele local leite não lhe faltaria. Mesmo que, não recebesse nem incenso nem mirra, e nem nascesse numa estrebaria, estava embalada numa manjedoura dentro de um curral em uma fazenda com o nome de Alegria.

Se for a mãe uma adolescente, uma prostituta, ou uma mulher carente, ou quem sabe uma Maria? Cujos pais devem também ter sido inconseqüentes, certamente não deveria ter condições de tomar outra decisão. Se o pai fosse o neto da proprietária da Fazenda, essa mulher que deixou seu filho no curral, poderia ter deixado a porta da casa da avó, supostamente a filha da dona da Fazenda Alegria. Pois ela estava triste, se fosse à costureira a avó da menina abandonada, dias antes perdera sua mãe, ganharia uma neta, ficaria com muita alegria.

Mas, não é esse o foco da questão, e nem merece julgamentos e achismos. O fato é que a criança é linda e está bem e certamente se chamará Maria, ou Vitória como querem a maioria.

O rei Jesus nasceu numa simples estrebaria cuja mãe era virgem, sua simplicidade de nascer não o fez um homem indiferente aos problemas alheios, não! Teve compaixão, foi traído e crucificado, arrastado. Entregou-se com uma coroa de espinho a morte na cruz.

Então quem sabe, essa menina não seja um exemplo para que possamos rever nossas atitudes e nossa forma de olhar o todo.

Um bebê abandonado? Um bebê deixado e endereçado a uma senhora.

Há quem diz também que deve ser parente da esposa do campeiro. Aqui não quero achar nada, apenas lembrar que, no domingo (20/06) quando a maioria estava de verde-amarelo correndo para ver o jogo, no sinal da Capital Secreta uma mulher com um filho no colo e uma menina de mais ou menos três anos implorava uma moeda.

Que triste país paradoxal! Ufanista - Vestido de verde-amarelo torcendo contra a Costa do Marfim e uma mulher no sinal. Os vidros dos carros fechados e outros ultrapassando o advertente amarelo sinal, sem olhar aquelas crianças no colo e na rua, despenteadas, abandonadas, arrastadas para nenhum lugar.

Uma no curral endereçada, deixada, outras nas ruas largadas, sujas, famintas – estupradas! Outros bebês em latas de lixo, ou outros decepados em clinicas assassinas.

Enquanto isso torcemos para deixarmos o Penta para trás, vamos beber, comer e não saber o que fazem nossos nobres deputados, cujas leis proíbem o aborto e matam a maioria na rua sem alternativas.

Umas pedem no sinal, outras deixam no curral, outras, nem vêm e nem vai ver a final.

O curral, o bebê e o abandono - a euforia, a Copa e o sexo inconseqüente, e nós, embasbacados julgando sem saber de nada, nem se há crime, ou se houve pecado.

    Fonte: A Autora
 
Por:  Luciana Maximo    |      Imprimir