Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 03-09-2010

CRIANÇA ESPERANÇA
“Não sei se a proximidade entre as datas do Criança Esperança, da TV Globo, e o Mc Dia Feliz, do McDonald’s, é uma coincidência ou não, mas tem tudo para não ser
CRIANÇA ESPERANÇA
Foto: www.maratimba.com


São celebrações de um processo de expiação. É quando uma matilha debruça-se sobre o telefone para doar míseros 7 reais, ou gasta um pouco mais, não sei quanto, para se empanturrar de gordura e colesterol com um Big Mac, em troca de alguns trocados para alguma criancinha com câncer Brasil afora. Eu, de minha parte, prefiro dar esmolas nas ruas, para bêbados notórios, mendigos condenados e noiados em transe, pelo menos eu vejo o destino do dinheiro. É engraçado ninguém questionar o porquê da Rede Globo, dona de bilhões de dólares, e o McDonald’s, idem, não separarem todo mês um caraminguá para as crianças pobres e cancerosas do Brasil. Seria mais fácil, mais barato e mais bacana. William Bonner e Fátima Bernardes abririam o Jornal Nacional assim:
Bonner – Boa Noite. A TV Globo doou hoje, 134 milhões de reais para 27 entidades de assistência a menores em todo o país. O McDonald’s por sua vez doou 130 milhões. As próximas doações serão no mês que vem.
Fátima – Os depósitos foram feitos em conta-corrente, diretamente para as entidades, sem intermediários.
Bonner – Ao todo, mil e trocentas crianças serão beneficiadas.
Fátima – E a boa notícia é que os telespectadores não serão obrigados a ligar para número nenhum, nem agüentar um dia todo de show brega com Ivete Sangalo, Renato Aragão, Xuxa e o cantor Daniel.
Bonner – Boa noite.
Fátima – Tenham uma ótima semana.
O patético desses tempos é receber aqueles e-mails de convocação para o Mc Dia Feliz, também conhecido como Dia Mundial da Obesidade Infantil, quando, uma vez por ano, patricinhas e mauricinhos se dispõem a sujar os Nike Shox dourados em frente às lanchonetes de fast-food para pedir pelas criancinhas com câncer. Eu recebi um assim: "-Vamos, gente, dar essa força para as criancinhas. Elas precisam da gente, né?". Quase posso ver o biquinho da moça, a voz de gozo a la Hello Kitty, tomada de súbita piedade social. Agora, juntar a turminha do shopping para ajudar na colheita, ninguém quer. Nem mesmo recolher o lixo no cinema, quando o filme termina. Não tem o mesmo apelo high school, nem aquela sensação maravilhosa de ajudar os pobres e os doentes, sim, mas bem de longe, porque "pobreza" pega!
Quem quiser ajudar de verdade, leva uma moeda para o mendigo Papudinho, pedinte fiel e assíduo das bandas do centro da cidade. Não tem erro nem enrolação. Papudinho não é criança, nem tem câncer, embora sofra um bocado com a falta de dentes, a sarna e a péssima nutrição. Só não arrisque falar em Big Mac. Papudinho tem dentadura precária, mas continua com a língua afiada. Vai mandar você enfiar o sanduíche no ..., porque o negócio dele é mesmo – pasmem, incréus! – cachaça".




Fonte: O Autor
 
Por:  Manoel Manhães    |      Imprimir