Categoria Cinema  Noticia Atualizada em 29-10-2010

A suprema felicidade - Amar sem rede
Depois de 24 anos sem filmar, Arnaldo Jabor lança seu novo longa
A suprema felicidade - Amar sem rede
Foto: /www.divirta-se.uai.com.br

Um intervalo de 24 anos separa os lançamentos dos dois últimos filmes de Arnaldo Jabor: Eu sei que vou te amar estreou em 1986, A suprema felicidade está sendo lançado em 2010. Existe, portanto, uma geração inteira de espectadores que não o conhece como diretor de cinema, ou, pelo menos, só o identifica em reprises na televisão ou cineclubes, e o reconhece, essencialmente, como jornalista.

O lançamento de A suprema felicidade vai acabar sendo, portanto, boa oportunidade para entender a dinâmica das gerações em relação aos públicos do cinema. Afinal, para alguns de nós Jabor é um dos mais importantes cineastas do Brasil, responsável por pelo menos uma obra-prima, A opinião pública (1967), e por sucessos do porte de Toda nudez será castigada (1973) e Eu sei que vou te amar; para outros, é praticamente um cineasta desconhecido, como se fosse um novato aos 70 anos.

Para os cinéfilos mais antigos e ligados às estéticas dos anos 1960, A suprema felicidade será visto como uma traição. Até aí, nada de novo – o mesmo grupo já fizera críticas semelhantes a ele ao longo dos anos 1970 e 80, à medida que o cineasta se afastara cada vez mais das origens do Cinema Novo, sempre mencionadas por aqueles espectadores com um discurso que as aproxima de algo sagrado.

Quem conheceu Jabor na época de Eu sei que vou te amar também pode se decepcionar. Estará esperando a intensidade dramática daquele filme, e a poesia de A suprema felicidade tem um tom mais lírico.

E os cinéfilos novos? Estes encontrarão alguns paradoxos. A suprema felicidade é filme sintonizado com o pensamento contemporâneo. Ambienta-se no passado, mas seu debate sobre amor, prazer, paixão e alegria de viver conversa com o público de 2010. Alimenta-se do passado (não é difícil perceber, em suas imagens e personagens, homenagem a Federico Fellini e um de seus melhores filmes, Os boas vidas), mas a própria lógica das citações é intrínseca à arte contemporânea.

Só que como obra contemporânea, desconectada dos filmes mais recentes de Jabor, A suprema felicidade é apenas mediano. Seu elenco é irregular: se os veteranos como Marco Nanini e Maria Luísa Mendonça dão show, os novatos como Jayme Matarazzo e Maria Flor fazem com que o filme apenas trate da paixão, sem alcançá-la sempre, sem ser capaz de produzir arrepios no espectador por causa dela.

Quer dizer então que A suprema felicidade é desprovido de méritos ou singularidades? Não. Primeiro, pela homenagem que presta ao Rio de Janeiro. A maneira como vê a história da Lapa, entre o que sabemos ser realidade e a ficcionalização que a nostalgia produz em nossa memória, atualiza a relação entre Fellini e sua Rimini natal – as melhores sequências do filme talvez sejam as que mostram prostíbulos, bares, casas noturnas.

Sua proposta de trazer para os dias calculistas e consumistas de hoje a ideia do amor como salto no escuro, sem rede, tem sentido poderoso, mesmo se os jovens intérpretes de A suprema felicidade não contribuem muito para que seja apresentado com intensidade.

Para quem está cansado do amor lugar-comum da novela de televisão ou do drama cinematográfico americano, o filme tem algo a dizer na estranheza de suas personagens e relações, algo inquieto, capaz de mexer com a cabeça dos espectador.

Fonte: /www.divirta-se.uai.com.br
 
Por:  Wellyngton Menezes Brandão    |      Imprimir