Como todas as circunstâncias sempre há dois lados, residir na Cidade das Conchas também se evidencia. Aos fins de tarde contempla-se o exuberante por do sol, a noite do infinito das areias é fascinante apreciar a lua cheia.
Foto: www.maratimba.com
O mergulho matinal nas límpidas águas próximo a Ilha do Gambá, permite o banhar da alma, para um dia que pode até acabar estressante. Ainda bem cedo, as catadoras de conchas estão lá agachadas, com uma colher e um escorredor de macarrão nas mãos separando as muitas conchas, arremessadas pelas fracas ondas que preguiçosamente debruçam na praia serena, cercada por coqueiros e castanheiras centenárias.
O arrasto da rede jogada do barco nas mornas águas calmas e a fartura dos peixes que se misturam acaba por possibilita o tilintar dos copos embaixo das castanheiras no encontro de amigos que se deparam para tricotar numa conversa regada de gírias próprias de um povo tranqüilo. "Tão bonita"! É uma ironia com intuito de assegurar que quem chega à conversa quer impressionar. "Tu"! – todos falam, é engraçado ver as crianças. É uma interjeição de espanto. Tu!
Para delimitar distancia usam, "ô longe! ô perto!", quando desejam exprimir a ideia de oposição.
O "pouco antigo", soa às vezes num coro, é a maior ironia que se possa utilizar para dizer que a coisa não é nada nova.
Caminham pela manhã e no fim da tarde, catam susuru e ostras nas pedras, as marisqueiras, quando acaba o expediente, uma garrafa de cachaça é aberta e enquanto ferve o marisco para a casca abrir, sentam-se e tricoteiam por horas.
Encanta, o jeito simples de viver em Piúma. Tudo é quase perfeito, os piqueniques no dia de semana comum, o encontro por acaso nos Bares como o Bagre, ao lado da Praça das Garças, na esquina, o Tanibe com suas porções boas e baratas, Baiano que faz um churrasquinho inigualável, Dona Arlete, que tem à moda de Viola, Robson, um lugar bem aconchegante com tira-gostos e um visual de barzinho contemporâneo. Não poderia esquecer o bar do Seu Filhinho, bem no finalzinho da praia, já nem pertence à Piúma, mas é lá que tem a sinuca e o atendimento único.
Na orla da praia os muitos quiosques, os restaurantes com seus cardápios variados com os tira-gostos de cação frito a palito, o peruá acebolado com farofa amarela e cerceado de rodelas de tomates são delicias que pegam a gente pela boca.
As milhares de conchas enfeitam a margem da praia, as ilhas ao fundo com seu verde musgo, o Monte de ver Deus, os barcos ancorados no Rio Piúma, as ruas de barro e tantas outras peripécias acabam tornando mágico morar por aqui.
Entretanto, uma coisa é feia: a corrupção e a falta de compromisso com o povo, o preço barato que se vendem as pessoas que dizem fazer as leis, a condições das escolas depredadas, o hospital sem nenhuma estrutura, o salário baixo dos educadores...
Pouca coisa precisa de fato para fazer da Cidade das Conchas o lugar ideal para se residir e escrever uma nova história, sangue novo no poder e capacidade de administrar com responsabilidade, porque a beleza é gratuita e Deus é generoso demais com as pessoas que residem nesse paraíso abandonado pelas autoridades políticas.
Fonte: Redação Maratimba.com
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