Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 23-02-2011

"NíO HÁ PARAÍSO SEM SERPENTE, NEM CÉU SEM DEMÔNIO." (GOETHE)
Como todas as circunstâncias sempre há dois lados, residir na Cidade das Conchas também se evidencia. Aos fins de tarde contempla-se o exuberante por do sol, a noite do infinito das areias é fascinante apreciar a lua cheia.

Foto: www.maratimba.com



O mergulho matinal nas límpidas águas próximo a Ilha do Gambá, permite o banhar da alma, para um dia que pode até acabar estressante. Ainda bem cedo, as catadoras de conchas estão lá agachadas, com uma colher e um escorredor de macarrão nas mãos separando as muitas conchas, arremessadas pelas fracas ondas que preguiçosamente debruçam na praia serena, cercada por coqueiros e castanheiras centenárias.

O arrasto da rede jogada do barco nas mornas águas calmas e a fartura dos peixes que se misturam acaba por possibilita o tilintar dos copos embaixo das castanheiras no encontro de amigos que se deparam para tricotar numa conversa regada de gírias próprias de um povo tranqüilo. "Tão bonita"! É uma ironia com intuito de assegurar que quem chega à conversa quer impressionar. "Tu"! – todos falam, é engraçado ver as crianças. É uma interjeição de espanto. Tu!

Para delimitar distancia usam, "ô longe! ô perto!", quando desejam exprimir a ideia de oposição.

O "pouco antigo", soa às vezes num coro, é a maior ironia que se possa utilizar para dizer que a coisa não é nada nova.

Caminham pela manhã e no fim da tarde, catam susuru e ostras nas pedras, as marisqueiras, quando acaba o expediente, uma garrafa de cachaça é aberta e enquanto ferve o marisco para a casca abrir, sentam-se e tricoteiam por horas.

Encanta, o jeito simples de viver em Piúma. Tudo é quase perfeito, os piqueniques no dia de semana comum, o encontro por acaso nos Bares como o Bagre, ao lado da Praça das Garças, na esquina, o Tanibe com suas porções boas e baratas, Baiano que faz um churrasquinho inigualável, Dona Arlete, que tem à moda de Viola, Robson, um lugar bem aconchegante com tira-gostos e um visual de barzinho contemporâneo. Não poderia esquecer o bar do Seu Filhinho, bem no finalzinho da praia, já nem pertence à Piúma, mas é lá que tem a sinuca e o atendimento único.

Na orla da praia os muitos quiosques, os restaurantes com seus cardápios variados com os tira-gostos de cação frito a palito, o peruá acebolado com farofa amarela e cerceado de rodelas de tomates são delicias que pegam a gente pela boca.

As milhares de conchas enfeitam a margem da praia, as ilhas ao fundo com seu verde musgo, o Monte de ver Deus, os barcos ancorados no Rio Piúma, as ruas de barro e tantas outras peripécias acabam tornando mágico morar por aqui.

Entretanto, uma coisa é feia: a corrupção e a falta de compromisso com o povo, o preço barato que se vendem as pessoas que dizem fazer as leis, a condições das escolas depredadas, o hospital sem nenhuma estrutura, o salário baixo dos educadores...

Pouca coisa precisa de fato para fazer da Cidade das Conchas o lugar ideal para se residir e escrever uma nova história, sangue novo no poder e capacidade de administrar com responsabilidade, porque a beleza é gratuita e Deus é generoso demais com as pessoas que residem nesse paraíso abandonado pelas autoridades políticas.



Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Luciana Maximo    |      Imprimir