Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 30-03-2011

A HISTÓRIA DE BETOVIS
Era um domingo à tarde do mês de maio, quando eu voltava das compras com a cabeça longe, pensando se já teria começado o jogo do Flamengo, transmitido pela TV.
A HISTÓRIA DE BETOVIS
Betovis é o digníssimo cão que faz pose na foto.

Atravessei uma larga avenida, de trânsito intenso mesmo aos domingos, e chegando ao outro lado me deparei com uma criaturinha suja e machucada. Um trapinho de cachorro magro e encardido, aparentando muita fraqueza e duas patas quebradas, tentava se locomover em direção a algum lugar, que imaginei ser à avenida. A situação era grave, e eu precisava pensar rápido. Foi quando resolvi deter o cachorro e conversar um pouco com ele, para entender os últimos acontecimentos. Sem forças, ele se deitou no chão com o toque leve da minha mão. Eu não queria me arriscar muito, porque ele poderia tentar me morder; então resolvi que dialogar com ele seria mesmo a melhor saída. Nós conversamos por uns dois minutos, eu agachada no passeio, duas sacolas de compras no chão, joguei a bolsa em transversal nas costas e deixei uma mão encostada no cachorro. Ele não respondeu nada, mas começamos ali a ter confiança um no outro. Nós deixamos subentendido que, se eu o ajudasse, ele também seria gentil, e lá fomos nós para a nossa casa, eu, a bolsa, as sacolas e um cachorro imundo no colo, que ficou imóvel pelos sete quarteirões que percorremos até chegar.

No caminho, três crianças que brincavam na rua me abordaram assim:
"- Tia, esse cachorro da senhora está morto?"
"- Não, está machucado, ele deve ter sido atropelado."
"- E como ele chama?"
"- Ele ainda não tem nome."
"- Ah, eu sei de um nome lindo pra cachorro. É Betovis."
Na hora eu entendi a confusão do menino e falei:
"- ah, Beethoven"
"- Não, dona, é Betovis mesmo. Não é bonito?"
"- Sim, é bonito."

Nas duas primeiras noites dele lá em casa, quando eu ia me deitar, eu imaginava ser aquilo uma despedida, porque pensava que ele poderia não acordar no outro dia. Mas o Betovis foi se restabelecendo, passou a se alimentar, foi levado ao veterinário, tomou remédios e recebeu cuidados. O mais diferente da história dele acaba aqui, porque desde então ele foi um bichinho de estimação normal e saudável, que morou na nossa casa, que conviveu conosco, foi amado e nos amou intensamente. Mas essas histórias nos ensinam bastante, pela maneira como elas exercitam um monte de sentimentos que deixamos adormecer, e que, de repente, vêm à tona.

Betovis foi um grande amigo, e agradeço a Deus por ter tido a oportunidade de adotá-lo. Ele não foi o primeiro cachorro que recolhemos na rua, pois também passaram pela nossa vida a Diana e a Chupisca, que nos trazem ótimas recordações e que contribuíram muito para a nossa experiência de vida. Betovis se foi no último verão, mas deixou em nós a grande admiração por uma criaturinha de Deus com quem tivemos a oportunidade de conviver, e de aprender um monte de coisas. Fica o nosso carinho e o nosso respeito aos animaizinhos perdidos ou abandonados, e o nosso incentivo àqueles que abrem a sua casa para um amigo necessitado. Finalizo este texto em "nós" porque tomo a liberdade de incluir o meu pai nessa história, como personagem primordial que ele foi, e alvo maior do amor incondicional que o Betovis demonstrava ter.



Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Isabella Marinuzzi    |      Imprimir