Categoria Geral  Noticia Atualizada em 29-04-2011

Kenneth Branagh: de Henrique V a Thor
Acredite se quiser, mas o principal motivo que levou Natalie Portman (“Cisne Negro”) a interpretar Jane Foster na adaptação dos quadrinhos “Thor” foi a curiosidade.
Kenneth Branagh: de Henrique V a Thor
Foto: pipocamoderna.mtv.uol.com.br

Acredite se quiser, mas o principal motivo que levou Natalie Portman ("Cisne Negro") a interpretar Jane Foster na adaptação dos quadrinhos "Thor" foi a curiosidade. "Kenneth Branagh dirigindo ‘Thor’ é muito esquisito", disse a atriz em uma entrevista coletiva de imprensa. "Na hora, eu soube que tinha que fazer parte disso".

O estranhamento de Natalie e o impulso que a levou a aceitar o papel são compreensíveis: realmente, é inusitado que uma superprodução baseada em um dos heróis da Marvel tenha sido dirigida por um ator britânico de repertório shakespeariano; por outro lado, ser conduzido por Branagh é uma oportunidade que nenhum intérprete que se preze tem a audácia de recusar.

Ator consagrado do teatro londrino, Branagh fez uma transição muitíssimo bem sucedida para os cinemas ao adaptar e protagonizar muitos dos textos imaculados de Shakespeare para as telas. Não se tratavam de versões moderninhas e descoladas dos clássicos: eram transposições integrais, dos diálogos rebuscados e às marcações próprias do proscênio. Uma classe de respeitadíssimos atores ingleses – que, como um todo, dão de dez nos americanos – passou a se reunir ocasionalmente nesses projetos.

Como uma companhia teatral, eles eram profissionais de confiança e, acima de tudo, amigos pessoais, que foram propulsionados sob o comando de Branagh para outras oportunidades – Hugh Laurie (série "House") e Imelda Staunton ("O Segredo de Vera Drake"), por exemplo, eram figurinhas recorrentes nesses filmes. Também o era Emma Thompson, esposa de Branagh durante a primeira metade da década de 90: seus anos de parceria foram de imensa fertilização criativa para ambos.

Entre "Henrique V" (1989), "Muito Barulho por Nada" (1993) e "Hamlet" (1996), Branagh também se arriscou a adaptar obras como "Frankenstein", de Mary Shelley, quando tudo a respeito da história parecia esgotado. O filme, lançado em 1994, foi menos compreendido do que merecia ser. De lá para "Thor", poderíamos enumerar os outros feitos de Branagh no cinema e no teatro, mas, para uma grande parcela do público, a referência mais concreta seria "Harry Potter e a Câmara Secreta", onde ele interpretou o vaidoso e charlatão Professor Gilderoy Lockhart.

Nada no currículo, porém, antecipa o resultado de "Thor". Branagh se provou craque em moldar materiais previamente publicados, mas nunca antes trabalhou com adaptação de quadrinhos. Ele também tem um timbre muito forte como diretor – o que, em fitas como essa, pode resultar em brilhantismo (como os "Batman" de Christopher Nolan) ou em tentativas frustradas ("Hulk", de Ang Lee). Independente do veredicto (nota: a reação inicial a "Thor" tem sido positiva), Branagh parece ter completado o projeto com a sensação de dever cumprido.

"A pressão dos fãs puristas sempre existiu", disse Branagh na entrevista coletiva de Londres, sobre a pressão de dirigir a adaptação de um gibi tão popular. "Mas você tem que saber que não pode agradar a todos. Eu amo a paixão e o debate que vêm atrelados a esse material, e é empolgante ter tantas pessoas interessadas em algo que você faz." Elegantemente, o diretor comenta que, em várias ocasiões, tentou promover filmes que não eram rondados pela mesma expectativa. "Essa reação me deixa muito feliz", comenta.

Branagh mencionou que tem contato com o personagem desde a infância, encerrando as acusações de que tinha trabalhado com um tema a que era alheio. "Lembro de ter visto os gibis quando eu era criança. Era muito colorido, vívido e massivo", divaga Kenneth. Sobre filmar na tela verde, para que os efeitos digitais pudessem ser inseridos posteriormente, Branagh encontrou até algumas similaridades com o seu amado palco. "Natalie Portman chegou a dizer que os atores deveriam treinar atuação na tela verde, quando não há nada lá", disse o diretor.

Mas a maior proximidade que ele poderia ter do teatro é a presença de Anthony Hopkins ("O Silêncio dos Inocentes") no elenco. O ator veterano interpretará Odin, o deus da sabedoria na mitologia nórdica. "Ele tem grandes histórias de guerra para contar", brinca Branagh. "O primeiro filme dele foi ‘O Leão no Inverno’, onde ele dividiu a cena com Katharine Hepburn, Peter O’Toole e Timothy Dalton. Hoje, ele adora ver os rapazes que estão começando e as grandes carreiras que eles terão. É revigorante", afirma.

Quando perguntado sobre "Thor" como uma franquia – há pelo menos duas continuações engatilhadas, mais uma participação do herói no filme "Os Vingadores" -, o diretor não consegue pensar a longo prazo. "Eu abaixei a cabeça e me concentrei em ‘Thor’", disse. Ele menciona, porém, que algumas modificações mínimas foram feitas no enredo para acomodar os filmes seguintes, mas, obviamente, não pode especificá-las.

Não é como se Branagh não se interessasse pelo futuro do herói: ele chegou a conversar com Jon Favreau e Joss Whedon, diretores de "Homem de Ferro" e "Os Vingadores", respectivamente, para entender como as demais franquias do estúdio iam se estruturar. "Falei com Jon quando ele ainda fazia ‘Homem de Ferro 2′, e falei com Joss, que já havia conversado comigo sobre o Chris [Hemsworth, o intérprete de "Thor"]. Mas nós não podemos fazer nada além de trocar alguns instintos. As particularidades de cada filme são distintas e individuais", pondera Kenneth.

"Thor" é o primeiro de uma série de filmes de heróis que deve abarrotar os cinemas pelos próximos meses. O longa tem estreia marcada para essa sexta-feira (29/04). É provável que muitos, como Natalie Portman, se guiem aos cinemas pela curiosidade. Veremos quantos, também como a atriz, aprovam por completo o que Kenneth Branagh extraiu da história.

Fonte: pipocamoderna.mtv.uol.com.br
 
Por:  Wellyngton Menezes Brandão    |      Imprimir