Categoria Geral  Noticia Atualizada em 06-07-2011

"Estou encalhado no passado", diz Antonio Candido
Crítico participa da conferência oficial de abertura da Flip nesta quarta (6). "Ainda escrevo com máquina de escrever", contou o autor durante coletiva.

Foto: g1

O ensaísta e crítico literário Antonio Candido declarou em entrevista coletiva realizada na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), no início da tarde desta quarta-feira (6), que ainda não aderiu à moda dos livros digitais. "Sou um homem do passado. Estou encalhado no passado. Para vocês terem ideia, ainda escrevo com máquina de escrever", disse, Candido, que participa da conferência oficial de abertura do evento, "Oswald de Andrade: devoração e mobilidade", nesta quarta-feira, às 19h, na Tenda dos Autores.

Disposto e bem humorado, o intelectual foi ainda mais enfático sobre o passado quando perguntado sobre a produção literária contemporânea.

"Nada, não acompanho nada. Estou completamente fora do mundo literário. Nem sei quais são os autores atuais. Saio perdendo, evidentemente, mas há uns 20 anos que não leio nada novo. Nem do Brasil nem do estrangeiro", revelou o crítico carioca, citando os escritores que ainda o interessam: "Dostoiévski, Tostói, Proust, Machado de Assis, Eça de Queirós. Não quero com isso dizer que os atuais não sejam do mesmo nível, só que eu não os conheço".

Apesar de se considerar distante do atual cotidiano literário, o autor, que divide a palestra de abertura com o escritor, músico e compositor José Miguel Wisnik, comentou os motivos que o levaram a aceitar o convite para participar de um evento como a Flip.

"Daqui a alguns dias faço 93 anos. Estou com a vida intelectual completamente encerrada. Sou um sobrevivente. Mas fui muito amigo de Oswald Andrade. Mas decidi vir porque a filha dele, Marília, que é amiga de infância da minha filha, me pediu", revelou Candido, que acrescentou: "Sou 30 anos mais moço que Oswald. Então achei que era uma espécie de obrigação contar como é que eu minha geração víamos aquela personalidade vulcânica que ele era".

A crítica literária, atividade que o consagrou no cenário intelectual brasileiro, também foi um dos assuntos abordados por Cândido durante a entrevista coletiva. Para ele, existem bons críticos atuais nos dias de hoje, mas por não analisarem a obra contemporânea, não assumem riscos.

"Sobretudo a crítica universitária é extremanente segura. Os rapazer fazem teses sobre Machado de Assis, José Lins do Rêgo ou Clarice Lispector. Mas pegar o livro e dizer se é bom ou ruim, como era na minha época... isso acabou. Porque o crítico literário arriscar sua reputação toda a semana. E, quando começava a errar muito, o jornal mandava embora", contou, citando Álvaro Lins e Augusto Maia como alguns dos grandes do seu tempo na atividade.

Um dos membros fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT), Candido só se recusou a falar sobre o atual momento político do Brasil. "Não estou aqui para falar de nem de política nem do PT. O senhor não me provoque: sou cândido, mas não cedo à provocação", brincou o ensaísta com um dos jornslistas.

Além de Candido e Wisnick, a Flip trará ao país três nomes consagrados da cultura em língua inglesa: o escritor James Ellroy, conhecido como renovador do romance noir americano e autor de livros que foram adaptados para o cinema como "Los Angeles, cidade proibida" e "A dália negra"; o quadrinista Joe Sacco, que se consagrou com a mistura de jornalismo e a linguagem das HQs em obras como "Palestina" e "Área de segurança: Gorazde"; e o músico e artista multimídia David Byrne, fundador do grupo Talking Heads e ativista do uso de bicicletas como solução para a crise de transportes e qualidade de vida nas grandes cidades.

Pola Oloixarac, Andres Neuman, Carol Ann Duffy, Caryl Phillips, Peter Esterházy, Emmanuel Carrére, Claude Lanzman, Laura Restrepo, João Ubaldo Ribeiro, entre outros, ajudam a completar a lista de convidados deste ano.

Fonte: g1
 
Por:  Wellyngton Menezes Brandão    |      Imprimir