Categoria Cinema  Noticia Atualizada em 15-07-2011

Balanço do Festival de Paulínia: bons filmes e equilíbrio entre propostas de cinema marcam evento
Nem sempre tem-se a chance de presenciar um festival de cinema que chega ao final com três longas realmente merecedores de serem alçados pelo júri oficial à categoria de Melhor Filme. Em 2011, podemos nos deliciar com as qualidades e discutir os defeitos
Balanço do Festival de Paulínia: bons filmes e equilíbrio entre propostas de cinema marcam evento
Foto: /cinema.cineclick.uol.com.br

Escolher entre um e outro é decisão que envolve pequenos detalhes, idiossincrasias e preferências individuais. Até injusto, apesar de inerente na atividade de um júri, apontar esse em detrimento daquele quando se tem três produções honestas na proposta e coerentes na realização. Claudio Assis buscou a volúpia do corpo e a beleza do texto poético; Selton Mello, uma possibilidade de esperança por meio do humor e da encenação circense; Marco Dutra e Juliana Rojas, os mais novos do time, o silêncio e elementos do suspense para comentar as relações de poder.

Na seleção de longas-metragens de ficção, a sensível diferença está no desnível entre os filmes de primeiro e segundo escalão. Enquanto neste ano houve maior equilíbrio, já que Meu País, Os 3 e Onde Está a Felicidade? tem seus méritos, no ano passado havia um cânion entre os filmes premiados e os que passaram em branco.

O que leva à essência deste 4º Festival de Paulínia: equilíbrio, especialmente entre as diferentes propostas de cinema que passaram por aqui em sete dias. Contrabalancear o que chamamos grosso modo de "cinema comercial" e "cinema de autor", com direito a algum OVNI no meio do caminho, é uma tendência desde o primeiro ano. A diferença é que, por conta dos longas que entraram, o almejado equilíbrio foi nivelado por cinema, não por baixo, como há dois anos, quando Paulínia trouxe dois paradigmas que não dialogaram: Destino, o filme-evento-fracasso de Lucelia Santos, e No Meu Lugar, de Eduardo Valente.

Mas o tal equilíbrio na seleção de longas-metragens de ficção só foi concretizado porque Paulínia recebeu Febre do Rato. Não apenas pelos méritos que o filme tem, mas pela pulsão e potência necessárias para um festival que precisa de vida, mostrar que tem sangue nas veias e expandir ainda mais o lastro com a população daqui e dos arredores. Se não fosse a presença da produção de Claudio Assis, que saiu com oito prêmios e se tornou a grande vencedora, permaneceria a mesma sensação do ano passado de que faltou algo.

Fraca seleção de documentários e curtas

Se o equilíbrio marcou a programação das ficções, o desequilíbrio reinou na seleção de documentários e curtas-metragens. Ao lado de três documentários interessantes (Uma Longa Viagem, Rock Brasília e Ela Sonhou que eu Morri), assistimos a outros três fracos (Cidade Ímã, Ibitipoca – Droba Pra Lá e Às Margens do Xingu). Mesmo não sendo grades filmes, os três primeiros conseguiram imprimir ternura seja na política/família, música ou liberdade.

O mais frustrante, porém, foi a seleção de curtas-metragens. Não é possível que no balaio dos 302 curtas-metragens nacionais inscritos, Paulínia tenha selecionado filmes tão abaixo do alto nível da produção contemporânea brasileira de curtas. Tanto que em decorrência da disparidade, filmes médios se tornaram, no contexto do evento, melhores do que realmente são.

Para 2012, seria interessante que a seleção volte a privilegiar a invenção e curtas comprometidos com a narrativa cinematográfica, não com a publicitária, reforçando a importância da curadoria. Filmes que tenham méritos não só pelo enredo simpático, mas pela realização. Enfim, cinema.


Crescimento acima da expectativa

No texto de abertura e antes de iniciar a cobertura diária in loco do 4º Festival de Paulínia, questionei qual seria o limite para o evento que mais atrai atenção da imprensa, destina as maiores premiações e, em quatro anos, consolidou-se num lugar que antes era ocupado por Gramado e pelo Festival do Rio de Janeiro.

Só o tempo e uma análise sem precipitação vão dizer se Paulínia conseguirá manter a força apresentada neste ano em todas as frentes: vitrine para as produções que usufruíram dos serviços e edital do polo municipal; cinema de autor vigoroso e arriscado; cinema comercial com realmente algo a dizer; e habilidade em trazer 12 mil pessoas a um evento cinematográfico.

Neste momento, a sensação é que Paulínia é a grande antagonista da Mostra de Tiradentes. Sinto que, mesmo com propostas tão distintas, atualmente ambos os festivais são os mais efetivos, cada um em seu escopo.

Fonte: /cinema.cineclick.uol.com.br
 
Por:  Wellyngton Menezes Brandão    |      Imprimir